sábado, 6 de junho de 2009

Será que só Marx salva?

Por Marina Dias

É interessante pensar que um texto escrito por um grande economista seria capaz de dar soluções para a crise financeira mundial, que assolou o mundo a partir de 2007. Alguns países sofreram mais, outros menos, mas a grande questão é que todos estiveram preocupados com a queda de lucro e investimento da economia que se diz mundial. Economia e política se coincidem desde o início. São diversas teorias que tentam explicar os conceitos econômicos e as crises financeiras de diferentes formas, em diferentes tempos.

O pensador alemão Karl Marx (1818-1883) foi visionário em diversas situações econômicas que parecem surpreendentemente atuais no século XXI. Um de seus conceitos mais relevantes diz respeito à composição orgânica do capital: uma relação técnica entre a força de trabalho e a quantidade e preço dos meios de produção. A partir daí, Marx define o capital superior, marcado pela alta tecnologia e pouca mão-de-obra; o capital médio e o capital inferior, definido pela baixa tecnologia e o excesso de mão-de-obra.

Para os liberais, o lucro vem da circulação do produto, pois é no mercado que ele adquire outro tipo de valor, de acordo com a lei da oferta e da procura. Segundo eles, o capital (investimento) era resultante do capital constante (máquinas e mercadorias), do capital variável (salário) e do lucro que, para eles, estava claramente alheio à produção.

Genericamente, todo tipo de produção visa ao lucro. No entanto, ao contrário dos liberais, Marx acreditava que o lucro vinha diretamente da produção, ou seja, era resultante da exploração do trabalhador (trabalho não-pago = mais-valia). O capital era a riqueza formada pelo capital constante (trabalho morto e investimento), capital variável (trabalho vivo e salário) e a mais-valia (trabalho não-pago). Dessa forma, para criar riqueza era necessário ter trabalho humano. Óbvio, não?

Esse pensamento pode causar um certo desconforto para os economistas mais modernos, que pensam em uma economia de alta tecnologia baseada no baixo índice de mão-de-obra. No raciocínio de Marx, porém, o capital superior e inferior competem entre si e, para vencer essa concorrência, é necessário produzir maior quantidade em menos tempo. Esse aumento de produtividade significa crescimento, com as vendas de produtos para países de capital médio.

Os países de capital superior costumam diminuir seu lucro real para reinvesti-lo na produção. É nessa hora que surge a dúvida: como ganhar mais se o lucro real está diminuindo? As soluções aparecem juntamente com a necessidade de um mercado global. Vender para mais pessoas, estimular o consumo em diferentes países (superpopulação consumidora), aumento dos créditos - para que todas essas pessoas consigam comprar cada vez mais - e o aparecimento do mercado de ações. Todas essas são resoluções viáveis, inclusive para países de capital médio e inferior, para evitar a queda geral da taxa de lucro.

Pronto. O capital começa a circular novamente e as economias se movimentam com rapidez. Mas e a crise? Ou as crises? Num plural sarcástico. O economista britânico John Keynes (1883-1946) tem uma explicação aparentemente simples: o crescimento econômico é o gerador da crise. Isso porque todos os produtos inevitavelmente entram em declínio em algum momento da história, sendo substituídos por outros, que irão suprir as necessidades dos novos públicos.

Foram 85 mil falências em 2009, milhares de pessoas desempregadas e diversos grandes investidores cometendo suicídio. Será o fim dos tempo? Não. Isso seria um exagero. o importante é ser racional e perceber que as análises prévias não são apenas premonitórias, mas devem servir como um manual de resolução. Tentemos.

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