sexta-feira, 19 de junho de 2009

Crises, problemas e dúvidas existenciais

Todo período de crise é a mesma discussão: por que aconteceu? O que fazer para sobreviver? Quem poderá solucionar? Esses, entre outros questionamentos fazem parte do repertório dos noticiários diários pelo mundo.

Porém, o que realmente importa e deveria ser abordado fica de fora. Por que todo mundo pensa em uma nova matriz ao invés de conectar diversos fatos que podem ser a resposta? Afinal, de que adianta informar isoladamente?

O texto Limites do enfoque econômico (1984), que está no livro Que crise é essa? (organização de Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain), mostra como as mudanças político-econômicas que aconteceram entre 1929 e 1974 são fundamentais para explicar os motivos reais das duas crises. Isso pode ser facilmente reaplicado para o momento que vivemos.

Para os autores, o Brasil não está imune ao processo de crise, como muito se diz(ia) na imprensa. Na realidade, ela possui uma dinâmica própria por aqui, ou seja, não apenas se desenvolve em nível internacional, como em si mesma. A explicação? O Estado procura eliminar excessos, mas eventualmente, eles se esgotam.

Quando a situação começa a se acalmar, o que podemos ver é uma polarização ainda maior. A crise concentra, acumula, nunca volta para o patamar inicial. As atividades normalmente exercidas por países ditos subdesenvolvidos passam a ser feitas pelos desenvolvidos, graças às novas tecnologias.

Isso faz com que apareça um dos maiores problemas enfrentados pelo mundo: o desemprego. A automação passa a substituir a mão-de-obra barata que antes era oferecida pelos países economicamente mais fracos. Somado a isso, o endividamento cresce cada vez mais e com mais exigências por parte das instituições credoras.

A crise não é um mal apenas para os países desenvolvidos, como foi em 1929. Naquela época, os países subdesenvolvidos eram apenas ricocheteados pelos problemas. Vantagens corporativas permitiram sua sobrevivência. Hoje, com a industrialização das economias de capital orgânico médio - inferior, as conseqüências são mais graves, principalmente do ponto de vista social, em que um número enorme de trabalhadores perde o emprego, mas isso parece não receber a devida importância.

Apesar disso tudo, a solução sempre é procurada através da manutenção dos modelos de produção e consumo. As estruturas de mercado não são modificadas. É necessário que se conheça as limitações das expectativas dos países subdesenvolvidos, que consomem e adaptam tecnologia pronta vinda de EUA, Japão e Europa. A produção não tem condições de competir no mercado externo.

Portanto, os países subdesenvolvidos nunca alcançarão os padrões de bem-estar material dos desenvolvidos. Esse objetivo é incompatível com a realidade que ambos os universos vivem. Só que essa situação não é momentânea. Não se tem expectativa que isso mude no futuro.

Além disso, deve-se pensar em outras questões que ganharam destaque nos últimos anos, como por exemplo, a ecologia, que sofre as conseqüências de legislações tolerantes para atraírem as grandes indústrias. Nesse sentido, há uma supervalorização da economia.

Na atual crise, o grande problema a ser resolvido é: por que as empresas (ou os detentores de capital) devem ser salvos ao invés dos trabalhadores? Isso só pode ser explicado se pensarmos a economia como parte de um conjunto de dados. Por exemplo, o que a crise e as ditaduras pelo mundo têm em comum? Será que o afastamento de trabalhadores estrangeiros dos países desenvolvidos faz parte de uma forma de contornar a crise?

Enquanto a mídia e os pensadores só quiserem fazer previsões, muitas críticas serão feitas de forma errônea. Uma análise profunda e que relacione dados talvez não salve a economia mundial, mas pode ajudar a minimizar os prejuízos globais e não apenas os mais fortes.

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