sábado, 20 de junho de 2009

POR UMA NOVA CRÍTICA SOCIAL

Por Leandro de Jesus

A sociedade enfrenta neste momento grande desafio para encontrar medidas que minimizem em curto prazo os efeitos da crise financeira mundial e a elimine em médio prazo. O que se quer, contudo, é que os teóricos dessas soluções não sejam os mesmos que não previram ou que deixaram meios para que a crise atual fosse alimentada. É nesse sentido que Roberto Kurz questiona a ciência econômica e suscita uma “globalização de uma nova crítica social”.

No artigo “Perdedores Globais”, Kurz traça um histórico do comportamento dos capitalistas e dos Estados. Segundo o autor, a economia moderna surgiu nas nações criadas no século XVIII. As condições para isso foram a existência de enorme estoque de capital nacional. Era primordial a produção e o desenvolvimento nacional tendo o comércio exterior função secundária.

Em meados da década de 1980, este cenário alterou-se e um novo cenário econômico emergiu-se. Diante das novas tecnologias de transporte e comunicações, os limites nacionais cederam espaço às mais intensas transações inter-nações, propiciando um “mercado único e global”. Kurz relata, no entanto, que desde o início do século XX algumas ações já tinham como destino o exterior. Empresas automobilísticas começaram a montar bases em outros países e o sistema de câmbio também transpassou as fronteiras. Na década de 1960, o comércio mundial ampliou-se com maior rapidez e nos últimos 30 anos o resultado foi o fenômeno da globalização.

Diversos são os exemplos, mas um que bem caracteriza essa situação é uma empresa ter sede em um país, onde cuida das finanças. Em outra nação produz e passa para um terceiro local montar os produtos semi-prontos e os vende para uma quarta nação. Houve repartição das funções produtivas. O marketing precisou se adequar às novas demandas e as empresas procuram produzir onde há menos custos e vender onde possam ter maior lucro.

O capital das empresas, antes nacional, agora é internacional e não há, assim, mais estratégia de desenvolvimento econômico. O Estado ainda soberano sobre suas fronteiras não tem as rédeas do sistema econômico. Nasce daí ou outro conflito. As empresas não visam mais dar sustentação ao desenvolvimento do país, não geram mais receitas para a nação, com a racionalização do processo produtivo geram desempregos, mas exigem que o Estado crie condições de infra-estrutura para que haja escoamento das produções, como aeroportos e portos.

De acordo com Kurz, da forma como a economia está, só há espaço para maior nivelamento de pobreza entre diversos países e criações artificiais de ilhas de riqueza. Para ele, as conseqüências serão desastrosas. A crise atual é um dos exemplos de reação desesperada dos homens do mercado que perderam espaço na globalização. O autor a chama de globalização de uma “economia da minoria”. Por ser restritiva, favorece aos fundamentalismos religiosos, etnicistas, separatistas e ditadores.

Para Kurz algumas ações positivas vão de encontro ao atual modo de produção. Cooperativas de administração e abastecimento autônomos seriam exemplos de alternativa para suprir as necessidades básicas, mas até o momento elas questionam parte dos problemas e não o sistema como um todo.

A política e a ciência econômica possuem conceitos e teorias que não mais correspondem à realidade. É necessário, segundo o autor, um novo pensamento global.
Neste artigo, Kurz age com correção ao atacar os problemas da crise atual e diagnosticar a falta de solução. Deu concisão a seus argumentos colocando os fatos numa cronologia histórica, indicando as respectivas conseqüências.

As mudanças ocorridas no sistema econômico no último século não serviram para democratizar a produção e o consumo. A diminuição da desigualdade social, da pobreza e renda não foram objetivos concretos. Os cientistas econômicos priorizam a liberalização cada vez maior do comércio mundial com a menor possível intervenção estatal. O Consenso de Washington foi um dos eventos que ratificaram essa postura.

Nesse mundo globalizado, os “players” elegeram agências medidoras de riscos para avaliar se determinado local era bom para se investir. Como agentes avaliadores do sistema, deveriam prever que a desregulamentação instalada poderia levar à atual crise. Não tiveram essa capacidade. Assim, urge sim a necessidade de uma nova crítica social global, mas que não pense somente no sistema financeiro, mas que encontre meios de conciliar a produção com sua mais justa repartição.

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