domingo, 21 de junho de 2009

Guerras mantém o capitalismo

Por Leandro de Jesus

Os estudos econômicos de John Maynard Keynes (1883-1946) são do início do século passado, mas a aplicação na prática é bastante familiar nos dias atuais. O texto “A Teoria Econômica Keynesiana e a Grande Depressão é um trabalho que serve para identificar e analisar quais conceitos foram utilizados por políticos, especialmente os norte-americanos, nas últimas décadas para alavancar a economia. Na realidade, para salvar o sistema capitalista.

O estudo de HUNT, E. K. & SHERMAN, Howard J, inicia explicando como se deu o fabuloso crescimento da produção industrial nos EUA entre 1900 e 1929. Calculou-se que a riqueza naquele país tenha saltado de 86 milhões para 361 bilhões de dólares no período. O país transformaria assim na primeira potência industrial do mundo. Bens e serviços eram maciçamente produzidos e consumidos elevando como conseqüência o produto nacional bruto. A taxa de desemprego era muito baixa.

O sistema capitalista, no entanto, é perverso. A bonança teria uma parada. A queda foi tão grande quanto o crescimento, se não foi pior. A história data o dia de 24 de outubro de 1929 como o início da Grande Depressão. Aquela Quinta-feira Negra entrou para os livros. Um ciclo negativo se instaurou: a Bolsa de Nova Iorque entrou em decadência; empresários efetuaram cortes na produção e nos investimentos; seguiu-se queda na renda nacional; alto índice de desemprego; corporações falidas; fome. Enfim, “milhões de pessoas na mais profunda e desesperadora miséria”.

O que provocou tão drástica redução da produção de bens e serviços? Keynes procurou responder e dar solução. Ele analisou o processo de produção. Sinteticamente, uma empresa produz bens e os vende. Com as receitas, paga os custos de produção. O que sobre converte-se em lucro. O que é custo para empresa é considerado renda para outros, assim como também é o lucro. Conclui-se, portanto, que o valor do que foi produzido é igual às rendas geradas da produção. Keynes chamou de fluxo circular o dinheiro que sai das empresas em forma de salários, rendas e juros e retorna para as empresas quando o público adquire bens e serviços.

Este processo, porém, apresenta vazamentos. É aqui que se encontra o maior problema para estabilizar a economia. Parte da renda é poupada em bancos e deixa de participar do fluxo de despesas. Outro vazamento são as importações, as quais não geram receita nacional e os impostos, que não necessariamente retornam em investimentos. Um melhor equilíbrio para contrabalancear ou diminuir os vazamentos seriam alternativas para evitar problemas na economia.

Keynes viu que era necessário sempre maior investimento que poupança, mas em tempos de prosperidade ganha a segunda opção. Se os investimentos forem menor que a poupança, menor será a compra de bens e serviços. Menor será a produção e em seguida haverá um retração e todos os problemas que foram sintomáticas na crise de 1929. A solução segundo Keynes seria através do governo. Ele deveria investir em projetos de utilidade social. Tais ações deveriam servir para diminuir a desigualdade social, mas o economista sabia que o poder estava nas mãos de poucos que não desejavam isso.

Os EUA começaram a se recuperar durante e depois da II Guerra Mundial, devidos aos investimentos governamentais que fomentaram a indústria bélica. Todo um ciclo virtuoso foi criado e faltou mão-de-obra.

A intervenção do governo na economia como proposta por Keynes foi bem sucedida. Até o fim do último século, os norte-americanos tiveram apenas algumas recessões de curto prazo. Mas o investimento governamental que sustentou a economia durante todo este período foi direcionado em maioria para armamento militar. Diversos planos, ideologias e previsões foram utilizadas como pretexto para investimento no setor. Toda uma cadeia produtiva também se beneficiou.

Mais recentemente observaram-se guerras que não pareciam ter sentido algum, se é que possa haver em guerras. A guerra do Iraque em 2003 é um dos exemplos. Foi erigida sob o pretexto de derrubar o ditador Sadam Husseim que estaria fabricando armas de destruição em massa. Não se encontrou nada dessas armas. Milhões de dólares foram utilizados e a economia teve grande aquecimento.

Observa-se, portanto, que para manter em funcionamento o sistema capitalista utiliza-se se de boas teorias e até mesmo as desvirtua. Keynes propôs que o Estado interviesse em situações que gerasse nova distribuição das riquezas.

Os politiqueiros econômicos receberam a mensagem apenas de que o Estado tem o dever de investir. Um bom local para isso, de acordo com a ótica deles, é a indústria bélica. O capitalismo continua cambaleando com a mais recente crise. Mas quem detém o poder faz de tudo para tentar reabilitá-lo. Se necessário for, com mais mortes através de guerras inúteis que possam aquecer a economia.

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