terça-feira, 23 de junho de 2009

Lord Keynes e a matriz bélica

Por Luiz Henrique Mendes

No último artigo para este O Mundo de Prometeu, avaliou-se que o arsenal teórico a disposição dos progressistas nesta crise tem sido as idéias legadas pelo economista britânico John Maynard Keynes. Segundo aquela argumentação, as divergências e fragilidades da esquerda mundial deixaram Keynes como a única solução política viável, em contraponto a idéias neofascistas. Contudo, ao final do artigo, propôs-se a migração, após primeira intervenção keynesiana, para um instrumental teórico de extração marxista. Por quê?

Ao se utilizar de elementos keynesianos para debelar a atual crise, podemos nos esquecer de alguns decorrentes negativos dos mesmos. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a crise de 29 não pode ser comparada mecanicamente com a atual. Apesar das semelhanças, os dois momentos, 1929 e 2007, são diferentes.

Ao contrário da crise de 29, não há um movimento, uma esquerda revolucionária vigorosa nos Estados Unidos, tampouco a sombra de uma economia socialista em franca ascensão, como a URSS, a ecoar a Revolução Russa. Sendo asssim, concessões da burguesia para a construção de uma política do pleno emprego e um Estado fortemente interventor encontram um limite, que é o da própria ameaça à burguesia. Hoje, a burguesia não se sente ameaçada como em 29. E, sem pleno emprego, não sendo o Estado como indutor do desenvolvimento, não haverá política keynesiana.

Outro senão da teoria keynesiana é sua eficácia sem que a matriz bélica e as guerras tenham de ser insufladas. Como se sabe, a II Guerra Mundial teve importância fundamental na superação da crise de 29. Aliás, guerras são instrumentos essências no receituário capitalista, já que ela tem um potencial de destruição incrível, deixando espaço para a reconstrução que, por sua vez, gerará demanda por empregos, produtos, etc. É a roda da economia voltando a girar.

Definitivamente, além de humanamente indefensável, uma guerra, em pleno século XXI seria de proporções inimagináveis, dado o potencial atômico dos países do mundo. Quem pagaria o preço?

No frigir dos ovos, o arsenal keynesiano terá fôlego curto. O quanto antes, é preciso investir na formação da classe trabalhadora, para estimularmos uma migração rápida para o instrumental marxista, qual seja em prol da construção de um socialismo criativo, distante dos dogmas doutrinários da esquerda atual. Caso contrário, a humanidade estará sob sério risco – isto sem contabilizar o passivo ambiental deixado pelo capitalismo.

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