sexta-feira, 19 de junho de 2009

Regulação é socialismo?

Desde o século XVI temos uma economia de mercado, um Estado nacional, com recursos jurídicos e financeiros, mas a economia que vemos hoje é fruto principalmente de uma reviravolta dos anos 80. De acordo com Robert Kurz, “a partir da década de 80, um novo sistema de coordenadas surgiu com uma rapidez impressionante, impulsionado pelos satélites, a microeletrônica, a nova tecnologia em comunicação e em transportes, e pela queda dos custos energéticos: para além dos limites nacionais, surgiu um mercado único e global.” Além do avanço tecnológico, das comunicações e transportes, um grande marco para a economia nessa época foi a abertura da bolsa de valores de Nova York para os bancos: quase todas as firmas de NY se tornaram públicas. Se tornar pública é fazer um pacto com o diabo, porque as empresas devem se expor e ser sempre claras, e qualquer deslize pode fazer o consumidor perder a confiança e, assim, desvalorizar o preço das ações da empresa.
A partir desse momento, todo o mundo conseguiu negociar qualquer coisa a qualquer hora, assim surgiu um mercado único e global. O comércio se tornou autônomo, criando espaço para o surgimento e fortalecimento das empresas multinacionais que seguiam com a filosofia: “Produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”. As conseqüências de uma economia privada avançada e autônoma são perigosas. Uma economia limitada a minoria é incapaz de sobreviver.
A crise econômica que vivemos hoje é um problema da globalização. A apatia do Estado em alguns países se deve à ferocidade do mercado global. Apesar do alto índice de desemprego e algumas declarações de falência, o Brasil foi pouco atingido pela crise, ao contrário da China – que possui a economia voltada para a exportação- nosso país tem uma economia mais diversificada e acima de tudo soube manter um equilíbrio entre mercado e Estado.
Há quem pergunte se a intervenção estatal – recurso que está sendo utilizado para tentar salvar economias - pode levar ao socialismo, mas, há 35 anos, o governo na maioria dos países controlava o valor de sua moeda, era dono de companhias de aço, indústria automobilística, companhias telefônicas e bancos. As tarifas no mercado industrial eram muito maiores do que as que temos hoje. Deve haver um retorno da regulação por parte do estado, mas que ainda não significa que estamos caminhando para o socialismo, como muitos dizem.
Para atingir o crescimento, inovação, estabilidade e igualdade social, não é necessário um governo grande ou pequeno, mas um governo inteligente. É preciso saber que a atividade econômica e social pode ser internacional, mas que a política deve ser local. A reforma do sistema financeiro global deve ir além. Deve haver uma coordenação da política monetária em todo o mundo.
O capitalismo é um fenômeno global, que vem sendo fortalecido por empresas, governos, e pelos indivíduos em todo o mundo. E na procura por melhores e maiores padrões de vida, os países continuarão utilizando o mercado e livre comércio para aumentar seu crescimento. Nada é mais globalizado do que o dinheiro, o capital corre pelo mundo sem nenhuma barreira que exija alguma política internacional.
Não podemos voltar no tempo e esquecer a globalização, há uma oportunidade hoje de direcionarmos o mundo para um mercado moderno para uma nova economia global. Com isso, o objetivo é repensar teorias econômicas, para que passem a ser mais inclusivas e sustentáveis. Deve-se criar uma rede flexível, não rígida – uma rede que maximize os laços com todos os envolvidos no mercado, sejam eles públicos ou privados.
Os países emergentes estão com uma economia mais estável, e por isso devem ser inclusos nessa “conversa” econômica mundial. É preciso rever o papel do G8, e talvez até reformulá-lo, para que os países emergentes façam parte do grupo.
por Rachel Sterman

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