sexta-feira, 19 de junho de 2009

Gaste mais perca menos

Um país se enriquece não pelo simples ato negativo de indivíduos não gastarem todos os seus rendimentos em consumo corrente. Enriquece-se pelo ato positivo de usar essas poupanças para aumentar o estoque de capital do país. Não é o avaro que se torna rico, mas o que aplica seu dinheiro em investimento frutífero. O objetivo de concitar o povo a poupar destina-se a criar a capacidade de criar casas, estradas e assim por diante. Portanto, uma política destinada a tentar reduzir a taxa de juros pela suspensão de novos acréscimos ao estoque de capital e, pois, pela contenção das oportunidades e dos propósitos de aplicação de nossas poupanças é simplesmente suicida."


John Maynard Keynes, em "Inflação e Deflação"


Esse comentário poderia parecer vindo de um caderno econômico de hoje. Dado o momento em que o mundo passa pela denominada “a crise” (com artigo definido indicando supremacia dentre as demais crises). Mas foi feito durante a, hoje segunda, maior crise da história mundial, pelo autor comentado durante o texto de Hunt e Sherman.

Com o boom produtivo da indústria norte americana após a primeira guerra, período em que o país se tornou o novo parâmetro mundial, a conseqüente quebra da bolsa de valores em 1929 e a grande depressão que só teria fim com Roosevelt e outra guerra, fechamos um pequeno “ciclo” de acessão, decadência e nova subida ao poder. O ciclo que move o sistema capital, o risco do qual o mercado de ações vive e que, em comentário anterior, disse que se “nacionalizou”.

A doutrina keyniana surgiu na contra corrente da ordem “poupar para sobreviver”. Assim como ele, o nosso amigo, companheiro, tio, brother, camarada Luis Inácio também foi chamado de louco quando deu a ordem para que o brasileiro não parasse de gastar:

Onde puder falar para ninguém deixar de comprar o que estava pensando, vou dizer. Se a gente permitir que, por medo, as pessoas deixem de comprar a sua casinha, de fazer a reforma na casa, financiar o sonho mágico de ter carro, que por medo a pessoa não queira trocar a televisão, não queira utilizar o primeiro sutiã, o que vai acontecer?

O globo 07/11/2008

Quando dizem que o brasileiro tem memória curta, esquecem que isso é um caráter humano. Oitenta anos se passaram desde a crise, uns setenta desde que a política keyniana ajudou para que ela “se fosse” e assim que o mundo explode de novo, a primeira coisa que todos fazem é começar a poupar. Tsc, tsc, tsc...

Mas, se ninguém achou a profilaxia para o câncer atual, não seria eu, Lula ou Keynes que teríamos. Pelo menos podemos diagnosticar porque dos colapsos estarem cada vez mais freqüente. Como disse anteriormente, comentando Kurz, o problema está no paradoxo de elevar os procedimentos financeiros ao nível “inter-nação” e não responder a questões praticas como “o que se faz com um país falido?”.

Outra parcela grande da culpa, como bem colocado pelos colegas aqui no blog, recai sobre outro aspecto da economia ser globalizada: a falta de poder mínimo ao estado. Sem arrecadação de impostos suficientes para ajudar em todos seus problemas, uma vez que as empresas se dividem pelo mundo para tirar o melhor proveito de cada etapa do processo produtivo-comercial, o Estado fica com um lençol pequeno para um corpo grande.

A verba que poderia subsidiar produtores de comodities, evitando a formação de estoque e a queda de preços causada pela falta de demanda, tem de ser usada para zerar o IPI evitando o fim de todo o mercado automobilístico. O dinheiro que seria destinado à criação de empregos para os afetados pelas falências tem de ser usado para evitar novas concordatas. Sem contar os “gastos” cotidianos do estado (educação, cultura e segurança) que em paises como os do BRIC já não lá super-estáveis.

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