segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sofrimento, o negativo do prazer (e do lucro)

Intensidade. Longa duração. Certeza e proximidade. Ritmados pelo alegre e acelerado jazz, o período entre 1900 e 1929 foi de intenso crescimento econômico nos Estados Unidos, colocando-o no posto de primeira potência industrial do mundo. Nesse contexto, 3,2% da força de trabalho estava desempregada em 1929, a produtividade e os salários elevaram-se, e o clima de euforia reinou em todo o país. A indústria americana era vista como produtora de riqueza inesgotável para a fartura de todos. De todos? No começo, sim.

Conhecido como "Quinta-feira negra", o dia 24 de outubro de 1929 foi marcado como a interrupção desta euforia. O valor dos títulos negociados na Bolsa de Nova Iorque começaram a cair e a prosperidade chegou ao fim. A consequência foi o corte drástico na produção e nos investimentos. O resultado foi o declínio da renda nacional e o desemprego em massa que, por sua vez, abalou o consumo e a economia. Assim, a miséria e o caos começaram a assolar milhões de pessoas no país.

Busca pelo lucro absoluto, sem importar-se com os semelhantes ou mesmo com o próprio bem estar e a qualidade de vida. Esse é o homem capitalista, um indivíduo sozinho. Segundo o texto "A teoria do prazer e do sofrimento", "dois dias do mesmo grau de felicidade devem ser o dobro daquela correspondente a um dia; dois dias de sofrimento devem ser o dobro daquele amargado em um dia." E assim a alegria do crescimento econômico deu lugar rapidamente a um sofrimento em escala dobrada.

Segundo o ensaio, para uma pessoa considerada sozinha o valor de um prazer ou sofrimento considerado por si só será maior ou menor de acordo com quatro circunstâncias: intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou longinquidade, fecundidade, ou a possibilidade de ser sucedido por sentimentos do mesmo tipo, pureza, ou a possibilidade que tem de não ser sucedido por sentimento do tipo oposto, e amplitude, ou o número de pessoas a quem ele se estende e que são afetadas por ele. Assim fica claro notar como o sentimento gerado pela crise de 29 lançou grande parte da população ao sofrimento absoluto.

"O homem nunca está, mas sempre está para ser feliz" e há pouca dúvida de que, em mentes de muita inteligência e previsão, a maior força do sentimento e do motivo se origina da antecipação de um futuro longínquo. Por isso a classe operária americana trabalhava, sonhando com o futuro, mesmo que distante, da plenitude financeira. E isso os tornava mais felizes, movidos pela esperança e as oportunidades de emprego crescentes.

"Em uma economia capitalista, as decisões concernentes à produção baseiam-se, antes de tudo, no princípio do lucro, não nas necessidades do homem". Esta frase resume bem a idéia de crise econômica. Pergunta-se por quê os empresários simplesmente não abriram as portas para os desempregados, mesmo que, no início, houvesse prejuízo. Pessoas empregadas têm dinheiro. Quem tem dinheiro, consome. É um ciclo. Mas no capitalismo solitário não há espaço algum para o prejuízo, mesmo que efêmero. E assim a crise alastrou-se e aumentou ainda mais o seu poder de destruição (e sofrimento).

Na sociedade pós-moderna, o prazer por meio do consumo lançou um ciclo vicioso em que se acredita que há sempre a necessidade de consumir ainda mais. Prazeres como a admiração da arte e interação social foram ofuscados quando comparados a ele. Assim, sofrimento e prazer passaram a estar intimamente ligados à economia e acumulação de bens.

Em "A teoria econômica keynesiana e a grande depressão" é feita uma análise minuciosa sobre a crise de 29, utilizando a teoria de Keynes como base de explicação para uma possível solução para este momento histórico. É questionado se as políticas econômicas keynesianas funcionaram e o sistema capitalista saiu vitorioso, já que não houve mais uma grande crise desde a de 29 nos EUA. Isso até hoje. Com a crise financeira que assola o mundo atualmente, o questionamento ressurge, junto ao sofrimento dos mais atingidos pelo desemprego. O profundo sofrimento do proletariado, que é oposto absoluto à idéia do prazer vinculado ao consumo. Assim, o capitalismo dá prazer a poucos e sofrimento a muitos. Mas é como uma bolha que envolve um paraíso artificial: ela cresce, desenvolve-se e expande os horizontes e prazeres de quem está protegido por ela. Até o momento em que explode e deixa tanto ricos quanto pobres novamente à mercê do sofrimento e da miséria.

Por Beatriz Carrasco

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