segunda-feira, 22 de junho de 2009

A gripe, o avião e os focos do jornalismo

Dado que a informação é apenas mais um tipo de mercadoria disfarçada de serviço público, devido mesmo ao caráter mercantil de se manter um jornal e lucrar com ele, a utilidade da notícia pode ser medida, assim como a utilidade de um bem qualquer.

Exemplos não faltam na mídia brasileira. O caso da gripe suína é um desse tipo. No início foi feito um grande alarde dos veículos de comunicação, que davam maior atenção à letalidade da doença, que, embora baixa, quanto mais mataria, mais traria audiência.

Entretanto, o tema da gripe “esfriou”, sem a mídia dar muita atenção aos casos que aumentavam no Brasil. Com a queda do avião da Air France, a utilidade das notícias sobre o novo vírus diminuíram, enquanto que, pela curiosidade natural das pessoas, a audiência trazida pelo voo 447 aumentava.

É possível também medir a utilidade das notícias sobre o Airbus que desapareceu no oceano Atlântico entre os dias 31 de maio e 1º de junho. Conforme as buscas avançam e é cada vez mais remota a possibilidade de serem encontrados mais corpos de vítimas (ao todo a aeronave transportava 228 pessoas e foram resgatadas 50), a atenção sobre esses fatos – que deixaram de ser o foco do jornalismo - é proporcionalmente menor.

Após a declaração da Organização Mundial da Saúde, que passou a considerar a gripe suína uma pandemia mundial, a utilidade das notícias sobre o assunto aumentaram, ao ponto que a Marinha e Aeronáutica agora apenas divulgam uma nota ao final do dia, no lugar de convocar uma coletiva de imprensa para falar dos trabalhos de buscas ao avião.

O Jornalismo burocrático funciona por focos que naturalmente mudam, de acordo com uma agenda, ou com o acaso, já que acidentes não são previstos. Infelizmente fica a cargo de poucas pessoas a decisão sobre o que vai ser divulgado. Mais triste ainda é saber que o que é retratado é assim feito apenas porque tem apelo, e não por sua qualidade como informação.

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