terça-feira, 23 de junho de 2009

Ingenuidade liberal ou utopia comunista?

Assim como as crises são inerentes ao sistema capitalista, as vozes que se levantam preconizando seu fim e clamando por Marx, Keynes e afins, sempre que isto ocorre, também o são. No entanto, é de se pensar, se são as idéias desses filósofos/economistas que tem a chave para corrigir o defeito estrutural do capitalismo, porque elas nunca foram postas em prática correta e definitivamente?
Pode-se argumentar que os detentores do poder econômico, aqueles que controlam os meios de produção e, por conseguinte, o poder político, nunca abrirão mão deste, deixando que o Estado realmente intervenha na economia, tomando medidas que privilegiem o bem-estar comum, ou concederão de livre e espontânea vontade o seu poder, para o controle e administração da sociedade.
No entanto, o que eu acho curioso ao ler artigos de herdeiros do ideário liberal clássico, me refiro aos oriundos ou pertencentes a Escola Austríaca, como Peter Schiff, que assim como o ganhador do prêmio Nobel de economia deste ano, Paul Krugman, foi uma das únicas vozes dos E.U.A, ainda em 2005, no auge da irracionalidade otimista em relação a economia, a advertir sobre e riscos que esta corria, e na época, é claro, foi execrado e seus alertas recebidos com ironia, é que estes também foram, e continuam sendo após o estouro da crise, profundos críticos da atual conjuntura econômica dos E.U.A, e por conseguinte do mundo.
Eles são críticos ferozes do crédito baseado em reservas fracionadas e impressão de papel moeda, considerado por eles um câncer da economia, criticam atitudes como a de Obama de salvar bancos e empresas como a montadora GM, as estatizando e pondo dinheiro do contribuinte americano nelas, e, o fato mais espantoso, enxergam como um verdadeiro inimigo o Federal Reserve, o Banco Central estadunidense. Há inclusive um deputado, Ron Paul, que clama por uma auditoria no Fed e já conseguiu um número de assinaturas suficiente para assustar o próprio, que logo se mobilizou para contratar uma poderosa lobbista que inclusive já trabalhou na extinta Enron, sim, aquela...
Primeiramente, o que esses, podemos os chamar de neoliberais?, argumentam, é que o crédito saudável é aquele baseado em poupança, não em reservas fracionadas. Mas o que seriam estas reservas? Todo o banco que recebe depósitos em conta corrente que, como se sabe, ao contrário da poupança, não rende juros ao depositário, é obrigado a entregar 10% do valor do mesmo (este valor se refere a realidade estadunidense, em outros países a porcentagem pode ser diferente) ao banco central do país, e os outros 90% ele pode emprestar a seu bel-prazer. Não sabia disso, certo? Agora imagine se todos os clientes de um banco resolverem sacar o dinheiro quem tem depositado nele. Ele quebrará, pois simplesmente não terá como devolver o dinheiro que é devido aos seus clientes.
Uma solução para esta situação seria a intervenção do banco central, no entanto, estes autodenominados libertários, também não consideram a impressão de papel-moeda uma atitude saudável, vista por eles como mais uma ação artificial que prejudica o livre funcionamento da economia, a velha idéia da “mão invisível do mercado”.
Por este mesmo motivo, eles abominam as atuais ações do presidente Obama que, para impedir a falência de mais bancos e indústrias, o último caso foi o da montadora GM, está recorrendo a estatizações e injeção de dinheiro público nas mesmas, diga-se, dinheiro do contribuinte. Para eles, o Estado não deve interferir quando uma empresa quebra, se isto ocorreu foi por conta de má ingerência e a própria que deve única e exclusivamente arcar com o ônus advindo disso.
Não há como não concordar em um ponto com os libertários, pois, de fato, não existe um verdadeiro livre mercado em nenhum país do mundo, no entanto, também é sabido que o próprio capital orgânico superior estimula a concessão de crédito a torto e a direito e que, em ramos da economia que demandam um grande investimento de capital e não apresentam retorno imediato, este capital pressiona pela intervenção do Estado, um exemplo foi a criação da Petrobras no Brasil.
Porém, esta crença quase religiosa na infalibilidade da “mão invisível do mercado” soa como absurdamente ingênua, no entanto, todas as medidas intervencionistas dos últimos anos em inúmeros países, também não conseguiram corrigir o problema das crises definitivamente. Uma alternativa seria a economia planificada, mas isto não tem espaço num sistema capitalista, e também não seria utópico acreditar em uma economia planificada administrada pela sociedade, que teria sempre em mente o bem-estar geral da população?


Ester Minga

Nenhum comentário:

Postar um comentário