sexta-feira, 19 de junho de 2009

Keynes Motor Co.

A teoria econômica de John Maynard Keynes ganha força e adeptos na crise de 1929. Sua doutrina versa, basicamente, sobre um processo chamado fluxo circular: o dinheiro investido pelas empresas e gasto na forma de salários retornaria para a indústria assim que o trabalhador consumisse bens e produtos. É necessário que o público gaste seu parco dinheiro para que a roda da economia possa girar e o processo continuar.
Na esteira do pensamento keynesiano, os governos dos países desenvolvidos adotam medidas mais intervencionistas dentro da economia, com o intuito de manter um baixo patamar de desemprego, o também chamado de “pleno emprego”. Com emprego, o trabalhador continuaria gastando, as empresas continuariam investindo, e a economia funcionaria de um jeito mais ou menos saudável.
De volta a 2009, o que se vê na crise pós-farra neoliberal guarda muitas semelhanças com o que aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial. O governo norte-americano tem se empenhado em salvar suas grandes multinacionais, tentando evitar um colapso ainda pior da economia.
Um desses casos é a da General Motors, que pediu concordata no dia 1º de junho no Tribunal de Falências de Nova York. Segundo matéria da Folha de São Paulo, “a administração federal irá injetar na companhia US$ 50 bilhões, sendo que US$ 20 bilhões já foram liberados, e irá controlar 60% do capital da empresa”. Além disso, o governo canadense e o sindicato Union Auto Workers também teriam participações acionárias.
Salvar a GM não é só uma medida importante para a economia americana – e, portanto, mundial – evitando demissões em massa e a falência de outras tantos fornecedores, mas é também preservar o modo de vida norte-americano.
Os carros com motores enormes e alto consumo de combustível sempre fizeram parte do cenário dos EUA. Um belo exemplo é o Hummer, que era uma das empresas da GM: um veículo de guerra adaptado para o uso civil, carro favorito de nove entre dez rappers. Esse tipo de carro sempre vendeu muito bem, mas só para o mercado norte-americano, com suas highways de nove pistas. Com as sucessivas altas no preço do petróleo, eles começaram a se tornar cada vez mais obsoletos em relação aos produtos da montadoras européias, e, principalmente, japonesas. Devido às características de seus países, com cidades de ruas apertadas, e ao racionamento de combustível no pós-guerra, essas empresas foram praticamente obrigadas a desenvolver carrinhos menores e mais econômicos. Com a crise do petróleo na década de 70, essas marcas começaram a ocupar cada vez mais espaço no mercado americano.
O filme “Gran Torino”, de Clint Eastwood, é exemplar nesse sentido. Eastwood interpreta um ex-combatente da Guerra do Vietnã e ex-funcionário da Ford, que guarda com orgulho um esportivo da marca, que dá nome ao filme. Quando vê um de seus filhos em uma SUV da Toyota, ele resmunga: “você podia ao menos ter comprado um carro americano”.
Apesar dos aumentos no preço da gasolina, GM, Ford e Dodge continuaram insistindo no mesmo tipo de carro. A liderança mundial na venda de veículos passou para as mãos da Toyota, tirando a hegemonia histórica da GM.
A subsidiária da empresa americana no Brasil disse que não será afetada pela concordata, e que seus investimentos(cerca de US$ 2,5 bilhões até 2012) continuarão, o que não é de se espantar. Em um país que se “esqueceu” de investir em outro transporte que não seja o rodoviário, e com uma metrópole com transporte público extremamente deficitário, não é difícil vender carro como água. Apesar disso, a GMB vem sofrendo com os mesmo problemas da matriz americana. Antigo sonho de consumo da classe média, o Vectra perdeu mercado para os japoneses – sempre eles – Toyota Corolla e Honda Civic. Um dos carros-chefe de vendas, o Corsa Classic, é basicamente o mesmo veículo que foi lançado há uns quinze anos atrás, com algumas mudanças estéticas e mecânicas.
É pouco provável que a empresa vá receber ajudar estatal, como aconteceu na Argentina, mas muita coisa vai precisar mudar para recuperar o espaço perdido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário