terça-feira, 23 de junho de 2009

O prazer como motor da economia

Stanley Jevons aborda a questão dos sentimentos humanos como uma das principais preocupações do estudo econômico. A economia acaba girando na satisfação dos prazeres humanos ou na conseqüente diminuição dos seus sofrimentos. Por isso, o autor trata prazer e sofrimento como medidas algébricas, sendo o prazer correspondente ao valor positivo e o sofrimento ao valor negativo. A quantidade de sentimento é mensurada com duas variáveis em relação à quantidade: tempo e intensidade. Se, em dois casos, o tempo for constante, haverá maior quantidade de sentimento naquele em que a intensidade for maior. No caso de uma intensidade constante, o sentimento que durar mais tempo também terá uma quantidade maior.
Outra característica dos sentimentos que tem grande influência na economia é a capacidade de antecipação, ou a previsibilidade de que um prazer ou sofrimento aconteça ou não. Segundo Jevons, é nessa previsão de sentimentos que “se baseia toda a acumulação de estoques de bens a serem consumidos num tempo futuro”. Isso pode ser percebido na prática quando os investimentos mais agressivos, como ações na bolsa de valores, começam a perder espaço para outros mais seguros e a longo prazo, como a poupança. Obviamente essa influência pode variar de pessoa para pessoa e também entre populações de diferentes países, com alguns com características culturais e históricas de pouparem mais, mesmo em situações de bonança financeira.
No capítulo III do livro “A Teoria da Economia Política”, Stanley Jevons esboça a Teoria da Utilidade. O autor define como utilidade a possibilidade que um bem tem de gerar prazer ou evitar o sofrimento. Além disso, ele frisa que a utilidade de um bem não deve ser limitada por razões morais, já que “tudo aquilo que um indivíduo deseja e trabalha para obter tem utilidade para ele”.
Mais a frente, na lei da variação da utilidade, afirma-se que a utilidade de um bem varia de acordo com a quantidade deste mesmo bem. Uma pequena porção de comida tem uma utilidade infinitamente grande, se considerado que é essencial para a própria sobrevivência humana. Quanto maiores as quantidades, menor a sua utilidade, sendo que uma vigésima pequena parte de comida não é tão importante para manter um homem vivo e saudável como o são uma, duas ou três partes. Assim, ele define que “o grau de utilidade varia com a quantidade de um bem e finalmente diminui na medida em que a quantidade aumenta.”
Esta lógica funciona muito bem para artigos de primeira necessidade, mas pode não parecer precisa se aplicada a outros bens de consumo. Primeiramente, Jevons defende que uma necessidade mais baixa(alimentação, por exemplo), quando satisfeita, pode permitir que uma necessidade mais elevada aparece. Além disso, “quanto mais refinadas e intelectuais se tornam nossas necessidades, menos passíveis são de saciedade. Uma vez despertado, praticamente não há limite para o desejo de adquirir artigos de luxo, de cultura ou exóticos”. Apesar de não se alongar nessa explicação, essa afirmação é extremamente coerente com o modelo de sociedade e economia atuais. Com uma melhora geral do nível de vida e do poder aquisitivo de uma parcela significativa da população, a economia não se preocupa com a simples satisfação de necessidades básicas, e sim com esta vasta gama de necessidades “elevadas”. A publicidade vem trabalhando no sentindo de despertar e instigar os tais desejos insaciáveis do mercado consumidor. Dentro desse leque, alguns dos produtos mais consumidos e desejados atualmente(pense nos celulares e automóveis como exemplo) acabam fugindo uma pouco da lógica inicial da lei da variação da utilidade.
O interessante do trabalho de Stanley Jevons, publicado nos idos de 1870 na Inglaterra, é a tentar abordar aspectos muito próprios da natureza humana dentro da economia. Apesar da dificuldade de utilizar os sentimentos humanos como grandeza algébrica, é muito importante essa teoria, já que, de fato, eles influenciam os caminhos da economia real.

Um comentário:

  1. Estudei isto na aula de Introdução a Economia na terça passada. Fizemos um pequeno modelo matemático(função) para medir o nível de prazer - ou felicidade - de um ser. Aula bem legal

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