sábado, 20 de junho de 2009

Guerra como ‘freio de arrumação’

Comentário do Texto A Teoria Econômica Keynesiana e a Grande Depressão

André Avelar

A proposta de John Maynard Keynes (1883-1946) para salvar o capitalismo de mais uma de suas crises, analisada em A Teoria Econômica Keynesiana e a Grande Depressão, se não diretamente, ao menos, permite nas entrelinhas, uma concepção ainda mais intrigante do que sua teoria por si só. Além da oposição das idéias neoliberais, fundamentadas na afirmação do Estado como agente indispensável nos negócios, o Bem-Estar Social e o processo que chamou de “fluxo circular”, o pensamento do mais brilhante economista do século passado ganha em perturbação ao deixar transparecer que grandes guerras podem ser boas para um país.

Segundo o próprio Keynes afirma, qualquer economia capitalista já consolidada por sua prática esbarra em um limite de oportunidades para que os investimentos continuem a ser lucrativos. Desse modo, conforme avança o processo de poderio financeiro de uma determinada sociedade, mais difícil de encontrar vazão para os investimentos feitos anteriormente. Até aí, nenhuma grande novidade, até mesmo se levar em conta que mesmo Karl Marx já teorizava isso, tendo como solução também, a entrada em cena do governo.

E justamente nessas grandes intervenções estatais que estariam as grandes guerras, ou, se preferir, grandes conflitos que fossem capazes de injetar mais dinheiro e realinhar a economia. Embora cruel e desumano, o derramamento de sangue historicamente está ligado a grandes retomadas do fluxo de caixa de um grande aparato militar. Por isso, metaforicamente, as guerras estão para uma economia prestes a entrar em ruínas, como os freios estão para um ônibus lotado. Basta um solavanco abrupto para que tudo volte ao normal – nem de longe se trata da tão falada Teoria do Caos, mas sim, apenas uma aproximação dos fatos.

Apesar dos saltos e saltos na linha do tempo, os exemplos do próprio texto justificam a análise de que grandes guerras interferem no bom andamento da economia, quando não se fazem por fim necessárias. “O Antigo Egito foi duplamente favorecido, e sem dúvida deveu sua riqueza mitologia às duas atividades que possuía, a saber, a construção de pirâmides e a busca de metais preciosos”, como revela a citação de Keynes. Essa luta não pode ser associada aqui a despesas que beneficiariam a população, uma vez que, o poder estava nas mãos dos ricos e eles não estariam em políticas dessa ordem.

Outro exemplo para ilustrar a necessidade da guerra, evidentemente não contemporâneo do economista está na bilionária invasão de tropas norte-americanas no Iraque, em 2003, em troca das temidas armas de destruição em massa (entenda como algumas latas de pesticida, no máximo). “O público é bombardeado com histórias horrorosas para que se convença da necessidade de novas escaladas na corrida armamentista, e de que os modelos ‘obsoletos’ devem ser atirados no ferro velho”, diz o texto analisado.

A partir disso, entende-se que o militarismo funciona como uma prerrogativa para que esse sistema se encaixe na máquina do Estado, descontada qualquer perversidade de seu autor. Ainda a recair sobre a mais recente economia norte-americana, ela se viu refém de uma guerra, seja ela contra quem for. Melhor ainda, se for tão genérica quanto à contra o “terrorismo”.

O uso político do keynesianismo pode ser analisado pela economia dos armamentos, que, de tempos em tempos, fazem com que as despesas militares elevem a demanda, sem que a produtividade seja alterada. Um freio de arrumação econômico, a favor de interesses políticos.

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