sexta-feira, 19 de junho de 2009

O mundo é uma gangorra.

Por Lucian Rosa

O mundo é formado por sociedades. Essas sociedades (dos seres humanos) são formadas por pessoas. As pessoas possuem interesses próprios. O conjunto desses interesses (medidos não individualmente, mas em intensidade) resulta no interesse comum das sociedades. O interesse dessas sociedades faz do mundo o que ele é atualmente. Isso não quer dizer que o mundo continuará sempre da mesma forma; justamente pelo fato que as pessoas mudam e seus interesses também, sempre ganhando ou perdendo novos graus de intensidade.

As pessoas necessariamente em sua vida ganham e perdem prazer, ganham e perdem sofrimento, ganham e perdem felicidade, e por aí vai... Sempre voltando à estaca zero. Quando uma pessoa usa drogas para buscar sensações que aparentemente as deixam feliz, fatalmente após a utilização dessa droga, ela irá ficar aparentemente triste. Quando um jogador de futebol ganha tudo o que sonhou a vida inteira, carros mulheres e dinheiro, em algum momento aquilo tudo já não lhe interessará mais e a queda é certa. Assim como um torcedor que vê seu time ganhar durante vinte partidas, quando ganhar a vigésima primeira, o seu grau (intensidade) de felicidade jamais vai ser parecido como quando ganhou a primeira partida após um longo período de derrotas; da mesma forma que seu grau de tristeza vai ser enorme quando seu time voltar a perder, igualando esses níveis opostos. O mundo não é a vitória, nem a derrota, mas sim um empate.

As pessoas são assim e, por conseguinte tudo que elas criarem vão sofrer essas influências. Quando afirmo tudo, estou falando de: economia, política, esporte, relacionamentos, cultura, enfim, tudo. Quando se tem alguém ganhando com certeza vai haver alguém perdendo. Se hoje na Europa grande parte das pessoas são financeiramente bem sucedidas, na África já é diferente. A tendência é se aproximar mais ainda de tais contradições, sempre havendo um perdedor e um vencedor, como afirma Kurz nessa passagem: “... num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em cada cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade”. Obviamente a quantidade de pessoas pobres no mundo é maior que a quantidade de pessoas ricas, mas o fator básico dessa teoria não é a quantidade e sim a intensidade. Hoje os que são ricos são excessivamente ricos.

Tais conclusões só foram possíveis após ler: “A teoria do Prazer e do sofrimento” um dos capítulos do livro “A Teoria da Economia Política” de Stanley Jevons. Porém discordo desse autor quando ele afirma que: “Podemos dizer com segurança que feliz é aquele homem que, mesmo de baixa condição, e posses limitadas, sempre pode aspirar a mais do que tem e sentir que cada momento de labuta tende à realização de suas aspirações. Aquele que, ao contrário, procura o desfrute do momento fugaz, sem considerar os tempos vindouros, há de descobrir, mais cedo ou mais tarde, que sua cota de prazer está à míngua e que começa a faltar-lhe até mesmo a esperança”. Simplesmente discordo dele, pois nesses momentos que este primeiro homem tiver de labuta, fatalmente ele estará sofrendo e quando obtiver o êxito de suas aspirações ficará feliz, gerando um ciclo que na média alcançará a linha zero e na esfera econômica provavelmente este homem guardará seu dinheiro excessivamente (trancando a economia). Já o outro homem que não pensa no futuro, provavelmente vai sofrer no futuro (gastando o dinheiro que não tem), mas querendo ou não terá aproveitado o passado voltando também a linha zero, e por assim vai...

Tanto o homem pobre que ganhar ou comprar (consumismo) alguma coisa, ficando feliz, quanto o homem rico que não verá mais graça em ser rico, ficando triste, sempre voltarão ao ponto zero, independente de sua classe social, assim como a economia que seguirá um ciclo segundo a teoria Keynesiana.

A economia (no atual sistema capitalista) pode crescer o quanto for, porém, sempre haverá um limite e depois desse limite virá à queda, ou as crises. Isso não é tão difícil de entender: a economia cresce, se expande, os países geram mais empregos, as pessoas ganham mais dinheiro, algumas começam a juntar o dinheiro em poupanças, outras fazem compras que vão ficar pagando a vida inteira, e mais compras dessa maneira, e mais... De repente “buuuum”... As pessoas não possuem mais dinheiro, as empresas não venderão mais, o número de empregos começará a despencar e a economia irá parar... Depois voltará... Depois parará... E assim por diante nesse infinito ciclo...

Nós só conseguiremos acabar com essas crises ou com esses ciclos, se mantivermos tudo em exato equilíbrio, ou seja, deixarmos a gangorra parada em uma linha horizontal exata para que as duas pessoas consigam sair dela de forma mais fácil. Em outras palavras as pessoas não poderão gastar mais do que ganham, nem ganhar mais do que o suficiente pra acabar guardando e deixando de gastar. As empresas não poderão produzir mais que o necessário e nem menos. Enfim tudo deve seguir a linha exata zero. Mas isso não é da natureza humana. Isso é impossível. O homem nunca vai conseguir equilibrar os seus sentimentos, para que não haja variações. Nunca vai conseguir viver sem ficar feliz e sem ficar triste, ou seja, indiferente aos seus sentimentos. E se mesmo assim um dia conseguir, se um dia equilibrar a gangorra para sair dela, a brincadeira vai acabar e a vida meu caro leitor, vai perder a graça.

Um comentário:

  1. Concordo consigo.Tudi no mundo é uma gangorra,pois a mente humana inconsciente tem uma estrutura de gangorra.
    Te indico o livro
    Psicanálise Relacional e a Teoria da Gangorra- A Fórmula da Mente

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