quarta-feira, 17 de junho de 2009

Precisamos de um Keynes

Assim como a crise de 1929 quebrou o EUA em plena expansão, a crise de 2008 teve um efeito significativo sobre o Brasil, porém, numa escala bem menor. O que não dá para assimilar é como um país entra em crise financeira num momento em que os índices de produção industrial mostram um franco crescimento e a riqueza acumulada é digna de uma economia ativa e positiva. O valor dos bens e serviços produzidos no país crescendo; a menor taxa de desemprego já vista nos últimos anos; a elevada taxa de produtividade do trabalho ligada ao salário mínimo mais alto; os consumidores adquirindo bens graças às cartas de crédito, tudo isso fazendo o capital circular e conseqüentemente fazendo as indústrias investirem e produzirem cada vez mais.

No entanto, assim como em 1929, as decisões ligadas à produção baseiam-se no princípio do lucro e não nas necessidades do homem. Então, na lógica da produção lucrativa, não faz sentido reabrir as fábricas ou colocar homens de volta para trabalhar com os recursos naturais quando o principal intuito é concentrar renda com a compra das empresas que quebrarem com a crise. Segundo dizem alguns economistas, a crise é fundamental para a concentração do capital. Agora, o porquê, eu não sei, uma vez que lutamos pela distribuição de renda em nosso país.

Naquela época, John Maynard Keynes (1883-1946) incumbiu-se de conhecer melhor a natureza do mal que colocava em risco a existência do sistema capitalista. Ele acreditava que o pleno emprego era a solução, pois o salário retornaria à empresa quando o público adquirisse os bens e serviços oferecidos por elas e isso perduraria enquanto as empresas pudessem vender tudo o que produzirem e obter lucros satisfatórios. Porém, parte dos salários são poupados em bancos e ele constatou que no auge da prosperidade, a poupança supera os empréstimos. Logo, quem ganha mais, poupa mais.

Dessa forma, os investimentos teriam que crescer em ritmo mais acelerado que as rendas, para que pudessem absorver continuamente a poupança. Porém, quando se esgotam as oportunidades de investimento, os investimentos caem abaixo da poupança, e os gastos totais em bens e serviços caem abaixo do valor do conjunto de bens e serviços produzidos. As empresas nãos conseguem vender tudo o que produzem e crescem os estoques de produtos. A produção diminui e conseqüentemente o número de empregados e o de renda também criando um círculo vicioso que diminui o poder de consumo, uma vez que os consumidores não têm salários.

Na visão de Keynes, quando isso acontecesse o governo deveria interferir recolhendo o excesso de poupança mediante empréstimos e investindo o dinheiro em projetos de utilidade social como a construção de hospitais, escolas e parques para beneficiar a camada média e a baixa, que são a maioria, e assim evitar que os ricos concentrassem cada vez mais capital. Porém, não vemos esse dinheiro sendo totalmente aplicado a esses fins. E mais uma vez, tudo fica muito bonito na teoria.

Será necessária uma Guerra Mundial para retirar o Brasil do fundo do poço? Porque já que a Grande Depressão que assolou os EUA em 1929 foi revertida com a II Guerra Mundial, talvez consigamos o mesmo resultado. Pois quando o assunto é de interesse dos governantes e dos empresários e isso vai gerar lucro à eles, a situação volta a ser positiva: as indústrias voltam a produzir e a até falta mão-de-obra, apesar de a inflação continuar firme e forte.

No Brasil pode ser que não funcione com a indústria bélica, mas a renovação incessante das tecnologias e as propagandas que surgem em conseqüência delas fazem o consumidor sentir a necessidade de substituir a tecnologia “antiga” e adquirir a nova. Assim, a produção se renova e não pára, fazendo circular o capital. Mas a questão ainda paira sobre nós: Como evitar crises financeiras num sistema globalizado quando se está crescendo sem parar? Infelizmente, teoria é teoria e a prática funciona sob especulações, ou seja, tudo pode mudar de uma hora para outra em questão de milésimos de segundos. Basta o dólar oscilar e o EUA (a maior potência do mundo) se desestabilizar. Portanto, acredito que não exista resposta para essa pergunta. Apenas especulações.

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