terça-feira, 23 de junho de 2009

Crises

Valéria Vieira

Já em 1984, o texto “Limites do enfoque econômico”, presente no livro “Que crise é essa”, (organizado por Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain), apontava elementos da crise atual. Só que, no entanto, analisava as dificuldades econômicas em que o mundo se encontrava entre as crises de 1929 e 1974.

O texto discute o aumento da diferença entre os países ricos e pobres. Segundo os autores, os países subdesenvolvidos sofrem as piores consequências de uma crise financeira, ficando ainda mais empobrecidos face aos países desenvolvidos. Neste sentido, os principais problemas verificados pelos autores nos países do terceiro mundo são o desemprego e o endividamento.

Durante uma crise, o domínio de novas tecnologias é visto como fundamental na redefinição da economia. Isto porque atividades, antes exercidas pelos países subdesenvolvidos, passam a ser realizadas nos países desenvolvidos, graças à automação. “Nos países desenvolvidos é possível pensar-se em regeneração do capital, surgimento de novas oportunidades de emprego nas áreas conexas às novas tecnologias, ou mesmo na ‘devolução’ a seus países de origem dos trabalhadores estrangeiros incorporados à produção (...) aliviando, assim, as dificuldades de seu mercado de trabalho, etc.”

No entanto, nos países subdesenvolvidos ocorre o inverso. A biotecnologia, por exemplo, inviabiliza a produção dos países pobres que têm suas economias baseadas na agropecuária, pois não conseguem competir com a tecnologia dos países desenvolvidos que produzem muito mais e com maior qualidade. Sendo assim, os produtos de exportação perdem competitividade e mercados internacionais. Outro problema é a automação, que substitui trabalho humano. Ela transforma a abundância de mão-de-obra barata, até então vantagem para o desenvolvimento industrial, em sério problema, já que os trabalhadores não encontram recolocação e aumentam o número de desempregados.

Uma das soluções encontrada pelos países subdesenvolvidos é a importação de tecnologia (máquinas e equipamentos) para a sobrevivência no mercado internacional. Entretanto, só faz aumentar o endividamento, já que os países desenvolvidos detêm tecnologia de ponta, enquanto os países pobres compram tecnologia que se tornou obsoleta nos países de primeiro mundo. Consequentemente, os países de terceiro mundo continuam sem ter condições de competir lado a lado com as potências, precisando, cada vez mais, importar novas tecnologias.

Buscando saídas para a situação, os países subdesenvolvidos precisam atrair capital industrial para seu território e o faz a partir de “vantagens comparativas”, oferecendo as empresas mercados a reduzidos custo de produção e ambiental. A oferta parte do Estado, que cria condições para que o mercado local se converta em demanda efetiva para as indústrias internacionalizadas, por meio de vantagens locacionais (proximidade a fontes de matérias-primas), disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata e uma legislação ambiental “mais tolerante”.

O que para os países ricos é uma saída, para os países pobres acarreta em um agravamento do problema de mão-de-obra e a industrialização subordinada à hegemonia econômica do mundo desenvolvido. Daí que, apesar de crises atrás de crises, “a busca de uma saída por parte do capital tem sido, atualmente, calcada na manutenção dos mesmos modelos de produção e de consumo. (...) O esforço de recuperação da economia mundial insiste em manter os padrões tradicionais das relações sociais de produção, não alterando substantivamente os tipos de produto nem as estruturas de mercado.”

Em 1984, as consequências da crise atual já eram verificadas nas crises anteriores, mas nada foi feito para que uma nova surgisse. O que ainda é necessário acontecer para que uma medida seja tomada sem as mesmas fórmulas fracassadas?

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