terça-feira, 23 de junho de 2009

Reflexão sobre o texto “Perdedores Globais”, de Roberto Kurts

Por Natasha Ramos

A palavra de ordem hoje em dia é globalização, como afirma Roberto Kurtz. Segundo ele, cada vez mais, a ideia de “economia nacional” tem estado deslocada no atual contexto do mercado e seus conceitos não correspondem mais à realidade.

À medida que foi se tornando fato, a globalização criou novas diretrizes, ampliando o campo de atuação dos atores privados econômicos. Porém, tanto a política quanto a ciência econômica ainda estão presas a velhos conceitos e teorias que não acompanham as mudanças expressivas que vêm ocorrendo durante as últimas décadas.

E de que mudanças estamos falando?

Trata-se do transbordamento do mercado mundial sobre o nacional, expandindo seus tentáculos até o mais distante vilareijo. Desde o início do século XX, a exportação de mercadoria foi incrementada pela de capital. Assim, para citar um exemplo de Kurtz, um especulador alemão pode operar com dólares no Japão; uma empresa japonesa pode tomar empréstimos nos Estados Unidos. E o mesmo vale para a produção: uma mercadoria que será vendida por uma empresa alemã no mercado alemão pode ser elaborada na Inglaterra ou no Brasil, montada em Hong-Kong e o produto expedido do Caribe.

Seguindo a lógica dessa nova ordem mercantilista, a concorrência não se dá mais no âmbito nacional apenas, mas no mundial. Há então uma busca constante das multinacionais por custos mais baixos e maiores vendas. Dessa forma, a revista alemã Wirtschaftswoche sintetizou muito bem a fórmula utilizada pela maioria das empresas: “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”. Assim, no país de origem, permanece apenas o setor de finanças, pelo menos por enquanto.

Apesar de as empresas privadas terem se adaptado muito bem à globalização, o Estado permanece naturalmente restrito às fronteiras territoriais. A imagem do Estado “regulador” tem cedido, cada vez mais, espaço à lógica da concorrência do mercado. A velha “economia política” transformou-se em “política econômica”. Em muitos países, o Estado acabou virando um refém das multinacionais. Grande parte das indústrias estatais, consideradas pouco lucrativas internacionalmente foi privatizada ou desativada.

A grande questão é que o capital estrangeiro não visa ao desenvolvimento de um país, ele é guiado pela formula explicitada pela revista alemã. Cabe ao Estado atraí-lo com a redução de impostos e outras vantagens.

Assim, na era da globalização, os protagonistas tem sido cada vez mais as empresas multinacionais. Devido à falta de recursos financeiros, os Estados têm abandonado à própria sorte uma parcela cada vez maior da população, privando-lhe o direito à cidadania. As autoridades, em vez de defender os interesses do povo, seguem em via contrária oprimido uma sociedade posta à margem.

Porém, a globalização traz inerentemente uma incongruência estrutural entre mercado e Estado. Se por um lado, a internacionalização do capital faz com que este fuja ao controle estatal e diminui as receitas públicas, por outro o capital globalizado depende mais do que nunca de uma infra-estrutura funcional que, por sua vez, é iniciativa do Estado. Podemos concluir, então, que “a globalização tira do poder do Estado os meios financeiros imprescindíveis para o próprio desenvolvimento da globalização”.

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