quinta-feira, 25 de junho de 2009

Crise no otimismo?

A crise que afeta o mundo inteiro parece passar longe do sempre otimista presidente Lula, que insiste afirmar que a crise passará longe do país. Porém o governo não se manteve inerte e coordenou algumas ações que asseguraram altas na Bolsa de São Paulo e gerou quedas sucessivas na cotação do dólar.
Mas o Brasil será afetado de alguma forma, por exemplo, o setor agrícola está sujeito às variações dos preços do mercado internacional. E para pior o panorama, boa parte do plantio é financiado por empresas que vendem commodities agrícolas, em troca de um pedaço da colheita. Porém o crédito bancário se tornou escasso, assim se pensarmos que a agricultura é a principal responsável pelo saldo positivo na balança comercial do país, é fácil entender a desaceleração do crescimento econômico prevista para 2009.
A confiança do consumidor parece não ter sido abalada e as novas previsões para economia não são tão preocupantes como anunciado no fim de 2008. O PIB (Produto Interno Bruto) terá uma retração de 0.8%, o percentual está abaixo do que o estimado há três meses atrás, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
O que se verifica em tempos de crise é o medo do mercado em atingir as marcas de 1929. E a cada nova crise uma avalanche de informações negativas inflamam os países e consequentemente as bolsas de valores. Há de se destacar que com o crash da Bolsa de Nova Iorque no século passado novas oportunidades surgiram para países emergentes, como Argentina e México. Não que suas economias tenham se tornado independentes e a condição da população possa ser equiparada a do mundo desenvolvido, mas é preciso enxergar uma melhora.
As crises do capitalismo são cíclicas e por mais terríveis que possam parecer é necessário repensar os modelos adotados, para garantir que numa nova turbulência não haja tantos feriados. Talvez Lula esteja certo, não há tanto perigo quanto o alertado pela mídia, mas ainda sim é necessário pensar novas formas de organização da economia para garantir uma rápida e eficaz recuperação. Mas isso não irá acontecer de uma hora para e usando metáforas de futebolísticas.

Global Losers

No mundo em que poucos ganham, todos acabam perdendo.

O continente africano é o segundo continente mais populoso da terra só perdendo apenas para a Ásia. Porém seus mais de 900 milhões de habitantes vivem uma situação única no globo terrestre. Esquecido pelo resto do mundo a África, tem o maior número de infectados pelo vírus da AIDS e é o continente onde a fome está mais disseminada.
Numa época em que as nações não mais de distinguem das empresas, vemos uma África fadada ao destino de depósito humano da terra. É ali que diversas companhias testam seus medicamentos ou suas armas para vender ao resto do mundo. Enquanto as celebridades tentam abrir os olhos das pessoas para problemas pontuais, as heranças deixadas pela época do colonialismo continuam a matar milhões de pessoas.
O senso comum traça um culpado nessa história toda: a corrupção dos governantes africanos, que muitas vezes, com regimes ditatoriais dizimam etnias inteiras. Mas os principais culpados são estão camuflados sob a bandeira de países desenvolvidos com “mercado negro” a tira colo.
Seja na vida ou na arte, como na pobreza e no abandono retratados por Fernando Meirelles em “O Jardineiro Fiel”, cujo palco utilizado foi a parte sul do mesmo continente, observa-se uma rede de corrupção muito forte que envolve os governos africanos e grandes empresas multinacionais.
Segundo o líder da União Africana, Olusegun Obasanjo, algo em torno de 25% do PIB africano seria consumido por esse tipo de ação vinculada. No filme baseado na obra de John Le Carré, os recursos enviados para a ajuda humanitária são desviados ao comércio de armas e drogas. Agregado a isso, descobrem-se a lavagem de dinheiro por bancos ocidentais, a inserção de alimentos subsidiados no comércio africano e as guerras tribais incentivados pelo tráfico de armas.
É baseado nessa situação de abandono e corrupção que o filme, através de sua narrativa, revela o poder das grandes indústrias farmacêuticas multinacionais e a corrupção presente no continente africano.
O paralelo de Egito e África do Sul permeia o texto de Robert Kurz. Em “Perdedores globais”, a infidelidade das empresas com o desenvolvimento da economia nacional é expressa de uma maneira muito clara. O capital já não possui mais barreiras e o movimento migratório das principais transnacionais para países de Terceiro Mundo – ou “em desenvolvimento” – é cada vez mais notório.
As vantagens oferecidas nesses ambientes, em que as leis trabalhistas e ambientais são fracas e a remuneração da mão de obra é próxima da linha de miséria, propiciam uma globalização do capital. Assim, devido à falta de recursos financeiros, os Estados abandonam a sua população numa condição deplorável, retirando-lhe o direito à cidadania.
“O mercado mundial devassou as entranhas da economia nacional e sua língua alcançou, por assim dizer, a última das aldeias nos confins do mundo. (...) A repartição das funções produtivas não se acha mais concentrada num único lugar, mas difunde-se por vários países e continentes. Todos os componentes do processo produtivo e do sistema financeiro perambulam pelo globo”, analisa Kurz.

A mensagem do capitalismo

O modelo econômico que mais impôs suas vontades, ao longo da civilização, foi de fato foi o capitalismo. Sua fórmula pronta para “felicidade” agregada à lógica do consumo, a inversão de papeis o qual o homem se tornou mercadoria e os produtos desencadeiam uma mágica sobre as pessoas foi a principal forma de dominação, a qual nenhuma guerra de conquista se compara. O colorido das propagandas e a idéia de um “mundo perfeito” foram aos poucos absorvidas por aqueles que com a extensão do seu trabalho transformam esse “sonho” numa dura realidade. Esse cenário que foi sendo pintado com a promessa de que a modernidade daria ao homem as soluções para suas angustias e dúvidas, que são dissuadidas massivamente pela mídia, abre-se então, uma grande brecha a qual o meio, mais uma vez, “encontra vida” e lança suas premissas na falsa consciência, ou seja, ao tentar naturalizar um processo que não é natural, na tentativa de esconder as motivações ideológicas existentes nos interesses mercadológicos das empresas e governos. Tornando possível a comunicação de massa, que Herbert Marshal McLuhan chamou de ALDEIA GLOBAL, a qual possibilitou um mercado global, como conhecemos, como uma das principais características do apogeu do sistema capitalista, por tanto podemos dizer que o capital como meio se faz mensagem e estabelece sua lógica catalisada nas diferenças sociais.
A mídia nos anos que sucederam a Segunda Grande Guerra resultou em dominação econômica e especulativa que se aproveitou da consciência alienada que Georg Lukacs dizia ser a “ausência de controle sobre o que você faz” para disseminar seu poder sobre a sociedade num todo. E os meios usados, é claro, os que visavam atacar e englobar o maior número de “vitimas” usaram de todas as armas para fincarem os pés na vulnerabilidade da sociedade: o ser humano historicamente construído, moldado como um boneco de massa que movido por uma grande repressão torna-se alvo fácil dos meios que visam única e exclusivamente o lucro. As praticas individualistas fizeram com que as sociedades adeptas a elas colocassem “suas ideologias” numa propaganda de margarina, e sua representatividade numa grande tela de muitas polegadas. Tudo isso porque, adotaram uma visão de mundo, mediada pelas mensagens publicitárias, a qual segundo Freud, o consumo é impulsionado por um grande vazio que se estabelece dentro de nós, produzido pelo o que somos e aquilo que a sociedade permite que sejamos, ou seja, volta a idéia de um ser humano historicamente condicionado, o qual é o reflexo de suas próprias frustrações, e imposições dos meios. O homem unidimensional caracterizado por Herbert Marcuse como um indivíduo que tem uma quantidade de bens e serviços extremamente viável, ao invés de propiciar a ele liberdade, estabelece certa forma de domínio que o impossibilita até mesmo de decidir sobre qual caminho seguir de seu trabalho até sua casa.
A relação dos meios como as massas seriam analisadas do ponto de vista do receptor, do individuo que é a ultima instância desta relação e como a consciência é individual, o trabalho dos meios de comunicação seria criar uma mensagem artificial, que através de razões sociais, culturais e mercadológicas, substituiria os desejos (que não são as vontades do cotidiano e sim um vazio que se estabelece dentro de cada um e moram no inconsciente) fazendo-os parecem ser comuns a todos. Esse processo se sustenta numa busca, por parte do individuo que marginalizado à suas vontades se submete à fórmula de exploração do consumo, criando falsos mitos, e falsos sonhos, como o de possuir um automóvel de marca Ferrari porque apareceu no filme ou num comercial como um símbolo de poder, invariavelmente, apelando para recursos subjetivos. Por fim o meio é uma indústria qualquer, e a mercadoria um produto como qualquer outro que visa única e exclusivamente o lucro.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Crash

Nada de pessimismo, mas o sonho desenvolvimentista caiu por terra

O ser humano é impulsionado por suas vontades e, através da obtenção do esperado com a compra, movimenta a economia conforme seus desejos. William Stanley Jevons, em seu livro “A teoria da Economia Política”, já dizia que o consumo é a forma encontrada pelo homem de obter prazer.
Muitas vezes, a própria sociedade “dita moda” e a vende como deleite. Na compra do industrializado, as pessoas utilizam qualquer meio na busca do seu privilégio. Desse modo, o consumismo se faz de modo exacerbado.
A atividade econômica mundial foi aquecida não só sem limite e sem direção, mas também sem consequência. Tudo isso proporcionou uma pane no sistema, motivo da crise. Aqueles que a geraram podem até ter os olhos azuis notados por Lula, mas os mantiveram bem fechados. E acreditaram que estavam sonhando. Contudo, o desenvolvimentismo caiu por terra.
Para combater um pesadelo é preciso manter os olhos bem abertos. Entender, por exemplo, que a mesma força motriz que movimentou o mercado financeiro acabou esgotando os seus próprios créditos e levou a quebra de diversos bancos.
A bolsa moveu-se em torno da ganância, a busca incessante pelo lucro foi questionada. No meio do crash é mais do que óbvio que esse sonho desenvolvimentista não passa, a médio prazo, de um pesadelo. Mas, como o sonho traz esperança, a crise poderia significar um despertar para a complexidade do mundo. Não dá mais para ganhar dinheiro só na especulação.
A crise levanta uma consciência coletiva da análise do sistema vigente. Contudo, os satélites ainda mostrarão a devastação do meio ambiente, que continuará. Em 2010 permanecerão as fantasias de um império do etanol, sem considerar o perigo dessa tecnologia. Infelizmente, a tendência de favorecimento individual sofre de obsolescência programada.

Já aconteceu décadas atrás, porém não aprenderam

O mundo passou há alguns meses atrás e ainda esta passando por uma crise em suas bolsas de valores e nas suas economias tanto local quanto externa, crise essa que já se repetiu há algumas décadas atrás, mas parece que a maior potencia do mundo ainda não aprendeu a lição e acabou fazendo pela segunda vez uma reviravolta no mundo deixando uma enorme insegurança para nação.
No início do século XX, os Estados Unidos viviam o seu período de prosperidade e de pleno desenvolvimento, até que a partir de 1925, apesar de toda a euforia, a economia norte-americana começou a passa por sérias dificuldades. Podemos identificar dois motivos que acarretaram a crise:
O aumento da produção que não acompanhou o aumento dos salários. Além de a mecanização ter gerado muito desemprego.
A recuperação dos países europeus, logo após a 1ª Guerra Mundial. Esses eram potenciais compradores dos Estados Unidos, porém reduziram isso drasticamente devido à recuperação de suas econômicas.
Diante da contínua produção, gerada pela euforia norte-americana, e a falta de consumidores, houve uma crise de superprodução. Os agricultores, para armazenar os cereais, pegavam empréstimos, e logo após, perdiam suas terras. As indústrias foram forçadas a diminuir a sua produção e demitir funcionários, agravando mais ainda a crise.
A crise naturalmente chegou ao mercado de ações. Os preços dos papéis na Bolsa de Nova York, um dos maiores centros capitalistas da época, despencaram, ocasionando quebra. Com isso, milhares de bancos, indústrias e empresas rurais foram à falência e pelo menos 12 milhões de norte-americanos perderam o emprego.
A crise de 1929 levou o mundo a uma grande turbulência no país mais rico do mundo, a renda total dos trabalhadores da indústria e da agricultura foi literalmente amputada pela metade. A produção de aço foi reduzida a menos de 20% da sua capacidade. As exportações, que ultrapassavam os cinco bilhões de dólares, mal chegavam a 1,5 bilhão; as importações passaram de quatro bilhões e meio para cerca de um bilhão. Depois de 4.600 falências bancárias em três anos, todos os bancos do país fecharam seus guichês em março de 1933 no apogeu da crise financeira.
Com esse desastre na economia no ano de 1929 Roosevelt lançou um programa de medidas sociais e econômicas fundamentada na intervenção do Estado, que tinha como objetivo principal a reconstrução da economia capitalista norte-americana, Para realizá-lo, o novo presidente cercou-se de intelectuais respeitados, deveriam orientar o governo na concretização das medidas. Esse grupo de especialistas ficou conhecido como a confiança do governo americano.
Nos dias atuais o mundo esta se recuperando de uma queda que quase levou o pais a um desastre total, porém com a transição da presidência América as coisas se mostravam estar andando para outro caminho, ou seja a economia começou a andar, porém com certos receios de que a qualquer momento a montanha as bolsas de valores pode desabar a qualquer momento.
O que talvez precise deixar claro é que essas crises financeiras já foram citadas por Marx e que se pararmos para pensar do jeito que o mundo capitalista anda as coisas só tem a piora e por ai podemos chegar a conclusão de que a economia mundial não passa de uma montanha russa que cada vez mais vai avançando seus limites até um dia ela desabar de vez e fizer as nações entrar em guerra econômica como já é vista em alguns paises.

Crise! Uma coisa puxa a outra

Não sou economista, mas estou a algum tempo lendo e prestando atenção no que está acontecendo com a economia por aí. Existem inúmeros artigos que explicam esses acontecimentos, mas poucos falam de uma maneira clara e simples.

Pois bem, vamos começar dizendo que uma coisa puxa a outra, é uma mistura só. Tudo começa com o desenrolar do mercado hipotecário americano, que fez renascer na mente de economistas o temido conceito de risco sistêmico.

Que deixou de herança para o mundo a recessão e as violentas quedas das bolsas mundiais além de muita crise no mercado cambiário, analisei primeiramente, os motivos e estruturas da quebra de gigantes americanos, desencadeadoras da crise atual.

Pude ver que os juros baixos do Banco Central Americano é resultado da expansão daquela economia nesta década que acelerou o mercado imobiliário nos financiamentos e hipotecas, na esperança de valorização, então cresceu-se o número de pessoas que hipotecavam este bem para utilizarem-se do produto em outros investimentos.

Os financiamentos ou hipotecas conferidos ao cliente subprime não contavam com rigor excessivo para o deferimento, tendo em vista que esta parcela da população já tinha problemas de endividamento e dificuldade de comprovação de renda.

Desta forma, e já percebendo um dos elementos agravantes do risco sistêmico, os benefícios conferidos a esta clientela tinham maior perigo, porém, com taxas mais altas, de modo a equilibrar a relação.

Com o aumento dos juros e encarecimento do crédito, os imóveis passaram a experimentar enorme desvalorização e com isso a população passou a se endividar e a inadimplência atingiu patamares elevados, interrompendo operações de crédito e a cadeia de compra e venda no mundo todo.

A crise do mercado imobiliário que acarretou prejuízo e quebra de grandes empresas de vários setores afetou diretamente instituições financeiras detentoras destes títulos podres o que acarretou verdadeiro caos no mercado financeiro, transferência de controle para obtenção de recursos e até o pedido de concordata do gigante Lehman Brothers entre outras empresas.

Obviamente a crise afeta a economia brasileira, tendo em vista que os investidores estrangeiros, já estão prejudicados pela situação, vendem seus papéis, também, no Brasil, gerando as quedas nas bolsas Brasileiras deixando o país em estado de alerta.

A situação atual pode ser entendida se analisarmos pela ótica do conceito de risco total.

Há verdade é que há um serio risco de quebra econômica em nosso país podemos ver que o cenário atual identifica todas as formas de existência de risco que desencadearam a crise, e que deixa a sensação de preocupação intensa com a economia global e local.

A crise Americana e global, além de levar os investidores estrangeiros a vender seus títulos no Brasil, de modo a amenizar seus efeitos, o que gerou a queda da Bolsa e a operação em cadeia de venda de títulos, podem acarretar outros problemas ao mercado brasileiro. Como o aumento do dólar que pode aumentar a inflação, e o status do país como produtor e exportador de matéria prima, além de levar à queda dos preços das commodities.

E finalmente, sem dúvida, e por todos os fatos expostos acima teremos uma queda brusca do PIB brasileiro, que desacelerará a economia brasileira trazendo o desemprego e o desesperos de muita pessoas que não sabe nem o que é esse bicho de sete cabeças chamado economia global e seus gigantes, afinal a mídia não consegue passar isso com transparência.

1973 – Da Crise à Oportunidade

Por Juliana Menz
O aumento do preço do petróleo causado pelo embargo dos países da OPEP a exportações junto com o aumento desenfreado de impostos sobre consumidores e empresas, gerou, em 1973, a primeira grande crise do petróleo. A guerra entre Israel e os países árabes só veio a piorar essa baixa na economia mundial. As taxas de crescimento econômico entram em gradual declínio nos países de capitalismo mais maduro, chegando nos EUA, na Europa e no Japão a cair de 5% para 3%. Além disso, o desemprego cresceu de forma assustadora.

A partir da crise de 1973, as depressões do sistema produtivo foram mais sérias que nos “anos dourados”, quando causavam pouca preocupação e aparentemente podiam ser facilmente contidas ou contornadas com uma sábia política econômica. Durante essa época muitos teóricos debateram sobre o tema, porém, quase todos defendiam a tese de que a “crise dos anos 70” seria o grande declínio da hegemonia americana. Desde então, em vez do “declínio americano”, o que se assistiu foi uma mudança profunda da economia mundial, e um aumento exponencial do poder dos Estados Unidos.

Foi quando os Estados Unidos deixaram de ser “credores”, e passaram à condição de “grandes devedores” da economia mundial. Mas ao mesmo tempo, sua dívida e sua capacidade de endividamento os transformaram no primeiro motor da economia mundial destes últimos 30 anos. Foi também na década de 70, que o “padrão dólar-ouro” foi substituído pelo novo sistema monetário internacional “dólar-flexível”, lastreado, em última instancia, no poder americano, e nos seus títulos da dívida publica.

Por outro lado, são também da década de 70, as políticas de desregulação dos mercados financeiros anglo-americanos, que lideraram o processo de globalização financeira, do final do século 20. E por fim, foi à sombra da derrota americana no Vietnã, em 1973, que os Estados Unidos e a China negociaram sua nova parceria econômica que se transformou na grande locomotiva da economia mundial, no início do século 21. Ou seja, desde a crise de 70, em vez do “declínio americano”, o que se assistiu foi uma mudança profunda da economia mundial, e um aumento exponencial do poder dos Estados Unidos.

Ao longo da história, o déficit comercial dos EUA (que começa em 1971 em relação ao conjunto das suas trocas internacionais), transformou-se em déficit de contas correntes (a partir de 1982) e, na seqüência, em dívida externa. Já em meados dos anos 1980, os EUA deixaram de ser credores líquidos do mundo e pouco a pouco passaram a exibir o maior passivo externo do planeta, estimado hoje por alguns economistas em 40% do PIB.

Dentro deste sistema, extremamente complexo, toda crise financeira interna da economia americana pode afetar a economia mundial, pela corrente sanguínea do “dólar flexível” e das finanças globalizadas. E todos os seus ciclos internos de “valorização de ativos”, (em particular, imóveis, câmbio e bolsa de valores) se descolam com facilidade dos circuitos produtivos e mercantis, e se balizam pelas variações da dívida publica e da política de juros do governo norte-americano.

Foi o que aconteceu em 1973, e voltou a acontecer em 2007. A crise potencializa as contradições fundamentais do sistema capitalista internacional - entre os interesses do capital e do trabalho; das potências imperialistas e das nações economicamente dependentes, vítimas da espoliação neocolonial; e dos próprios países imperialistas entre si -, gerando uma perspectiva de instabilidade e grandes conflitos. Digamos que o que vivemos uma reprise, no entanto com tendência a uma maior intensidade.

A Teoria Econômica Keynesiana e os anos 2000

A última grave recessão ocorreria entre 1969 e 1971. De lá para cá o mundo vinha vivendo um período de abundância econômica, alegria exagerada, com pequenas crises, é claro, mas nada que pudesse afetar a euforia capitalista.
Anos 2000, a China cresce cerca de 10% ao ano. Os Estados Unidos mantém sua prosperidade com a Era Bush: uma guerra atrás da outra; Afeganistão, Iraque. Sempre com motivos muito contundentes, de acordo com suas palavras, e contando com forte apoio de grande parte da população. O povo daqueles países? Morriam aos milhares numa guerra atroz. Enfim, o norte-americanos utilizaram ( e ainda utilizam) muito bem o conceito de estado bélico, apontado por Keynes. Independente da razão real do conflito, seu país continuava economicamente estável, comas as despesas militares elevando a demanda, mas não alterando a produtividade, a ponto de causar algum problema futuro na combinação poupança-investimento.
Tudo corre tranqüilamente. Até que essa prosperidade, esse aparente marasmo capitalista (sempre lembrando que o capitalismo se realimenta com as crises) é subitamente interrompido. Final de 2007, ano de 2008.
A classe média americana vê o período como um ótimo momento para se investir. Resolve atuar no setor imobiliário. Comprar a primeira casa, a terceira, que seja. Dentro de uma economia real tal fato teria tudo para dar certo, afinal, todo investimento dentro da ótica capitalista parece ser um bom negócio. Ele seria equivalente a renda existente, o dinheiro circularia, lucros seriam obtidos e a prosperidade reinaria. Mas esse processo não é tão linear e automático quanto parece, principalmente quando uma economia empresta 52 vezes o seu valor real e 17 vezes a economia mundial. Algo tinha que dar errado. E deu. Os Estados Unidos tornavam-se mais uma vez o epicentro de uma nova crise.
A conseqüência disso, dessa irresponsabilidade? Empresários atemorizados e descrentes efetuando cortes na produção e nos investimentos. Declínio da renda e do emprego, falta de confiança na economia, e, segundo relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), 1,2 bilhão de famintos em todo o mundo.
Quem mais sai perdendo? Os ricos aproveitam esse momento para acumular mais capital. Crise também é acúmulo. Os pobres? Quem lá sabe deles?!
Novamente o capitalismo mostra sua faceta. E, enfim, é questionado: Será que existe de fato a convicção de que ele é um sistema econômico e socialmente viável? Ficou claro que não. Mas o que será que vem depois? Ainda ninguém sabe.

A crise americana, Obama e os bancos

Por João Villaverde

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs hoje a reforma do sistema financeiro americano. É o primeiro conjunto de reformas feitas no setor em mais de dez anos e cumpre a promessa de Obama de aumentar o rigor da fiscalização do governo sobre o sistema financeiro.

As reformas que Obama anunciou já foram consideradas pelo The Wall Street Journal como "a mais abrangente reorganização dos mecanismos de supervisão do mercado financeiro desde os anos 30". Embora o jornal seja francamente conservador, a análise faz sentido.

A última vez que um governo americano mexeu pesado nas regras do sistema financeiro foi em 1999, quando os democratas sob o governo de Bill Clinton revogaram uma lei dos tempos de Franklin Roosevelt (o Glass-Steagal Act). Essa lei fazia parte dos planos de Roosevelt de "chegar junto" nos banqueiros: delimitava que bancos comerciais eram uma coisa e bancos de investimentos outra. Ambos teriam regras e seriam fiscalizados pelo governo, mas, evidentemente, suas normas básicas seriam distintas, porque as operações são distintas.

A partir dos anos 80, no entanto, as coisas começaram a mudar. Aos poucos, as regras foram se tornando brandas e a fiscalização frouxa. O governo de Ronald Reagan iniciou a política que seria colocada em prática no resto do mundo e viraria mantra: o Estado deveria ser mínimo. Diante do poder supremo dado aos mercados - e dentre eles, o financeiro ganhando proeminência sobre todos os outros setores - ao governo cabia interferir menos possível. Cortaram pessoal, diminuíram as regras e os bancos de investimentos foram surfando a onda do neoliberalismo.

Faltava, ainda, o Glass-Steagal Act. Após pesada artilharia contra a regulação "dos anos 30" (repetido de maneira pejorativa, associada ao passado), os democratas (quem diria!) revogaram a lei, permitindo assim, que os bancos comerciais operassem nos mercados de investimentos. Com isso, o pouco de fiscalização que ainda existia foi pro beleléu. Os bancos podiam fazer toda a sorte de apostas porque tinham a legislação dos bancos de investimentos como guarda-chuva. E, se por um acaso, os investidores de suas ações reclamassem dos segredos, eram igualmente fácil: bastava adulterar balanços.

E toda essa festa ganhava nota AAA das agências de classificação de risco. A coisa toda começou a explodir a partir de julho/agosto de 2007, ficando pesado em março de 2008 e finalmente criando uma crise econômica mundial a partir de setembro do ano passado.

Há muito a ser feito nos Estados Unidos. O déficit público é enorme, os chineses dominam boa parte da dívida externa americana, os consumidores e empresas estão endividados (dívida privada) e o crédito, que começa a ressurgir, não anima ninguém. Há toda uma mudança de sistema, de cultura, de costumes e de ideologia a ser feita.

Será feita? Provavelmente não.

Mas, ao menos no sistema financeiro, muita coisa está acontecendo. E é justamente nesta arena que se inserem as mudanças anunciadas hoje por Barack Obama. Sua reforma vai atingir praticamente todo o sistema bancário, desde a forma de concessão de créditos imobiliários até a maneira de negociar instrumentos financeiros exóticos. No centro deste conjunto de medidas está a alteração da área de atuação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), tornando-o mais poderoso.

O Fed passará a supervisionar as maiores empresas do setor financeiro, dando ao governo o poder de fechar ou desmembrar companhias importantes para o sistema e de criar um novo órgão regulador para os produtos financeiros voltados para pessoas físicas.

A Economia é uma ciência humana

Os cadernos de Economia dos grandes jornais, assim como os periódicos exclusivos da área, usam uma linguagem muito específica. Apesar de tentativas como a da Folha ("saiba mais") e o uso de infográficos, as notícias econômicas seguem restritas a um público mais elitizado. Outras editorias, como de esporte, tem mais penetração popular.
Essa alienação é bem visível no Brasil: termos como PIB, commodities, debêntures, seguem como um grande mistério para a maioria da população. A situação é curiosa: o que é mais importante, ler sobre o jogo de domingo ou sobre a variação do desemprego no segundo trimestre do setor de comunicação?
Vamos falar de atitudes prazerosas. Num primeiro momento, eu escolho o futebol. Porque me preocupar em analisar números estranhos, que me parecem descontextualizados?
Em "A Teoria do Prazer e do Sofrimento", de William Stanley Jevons, talvez tenhamos a resposta para essa decisão. Ele afirma que feliz é aquela pessoa que, mesmo com pouco recursos, tem a realização no seu trabalho diário e a garantia de um futuro melhor. E infeliz é aquele que vive do "carpe diem", um dia após o outro, sem nenhum tipo de planejamento.
Faz sentido: se eu apenas ler sobre futebol e me esquecer de outros importantíssimos assuntos (política, internacional, etc), certamente serei alguém infeliz no médio e longo prazo. Por dominar um único assunto, tenho grandes chances de ser derrotado em entrevistas de emprego.
Acredito que a proposta de Jevons é analisar de uma forma mais humana as ciências econômicas. Ele diz que “O prazer e o sofrimento são indiscutivelmente o objeto último do cálculo da Economia. Satisfazer ao máximo às nossas necessidades com o mínimo de esforço é o problema da Economia”. Muito além de taxas cambiais, derivativos e estudo macroeconômicos: a meta da Economia é nos trazer bem estar.
E satisfeitas nossas necessidades básicas (alimentação, saúde), partimos para a realização de outros desejos, até então secundários. A partir desse momento, tornam-se mercadorias produções artísticas. A visita a exposições de arte entra no sistema capitalista da mesma forma que o Hopi Hari faz ao cobrar a entrada.
Uma ciência feita por humanos, para humanos e sobre a humanidade. Temos muito a aprender com o estudo de Jevons sobre a relação desejável X indesejável na Economia.

terça-feira, 23 de junho de 2009

O prazer como motor da economia

Stanley Jevons aborda a questão dos sentimentos humanos como uma das principais preocupações do estudo econômico. A economia acaba girando na satisfação dos prazeres humanos ou na conseqüente diminuição dos seus sofrimentos. Por isso, o autor trata prazer e sofrimento como medidas algébricas, sendo o prazer correspondente ao valor positivo e o sofrimento ao valor negativo. A quantidade de sentimento é mensurada com duas variáveis em relação à quantidade: tempo e intensidade. Se, em dois casos, o tempo for constante, haverá maior quantidade de sentimento naquele em que a intensidade for maior. No caso de uma intensidade constante, o sentimento que durar mais tempo também terá uma quantidade maior.
Outra característica dos sentimentos que tem grande influência na economia é a capacidade de antecipação, ou a previsibilidade de que um prazer ou sofrimento aconteça ou não. Segundo Jevons, é nessa previsão de sentimentos que “se baseia toda a acumulação de estoques de bens a serem consumidos num tempo futuro”. Isso pode ser percebido na prática quando os investimentos mais agressivos, como ações na bolsa de valores, começam a perder espaço para outros mais seguros e a longo prazo, como a poupança. Obviamente essa influência pode variar de pessoa para pessoa e também entre populações de diferentes países, com alguns com características culturais e históricas de pouparem mais, mesmo em situações de bonança financeira.
No capítulo III do livro “A Teoria da Economia Política”, Stanley Jevons esboça a Teoria da Utilidade. O autor define como utilidade a possibilidade que um bem tem de gerar prazer ou evitar o sofrimento. Além disso, ele frisa que a utilidade de um bem não deve ser limitada por razões morais, já que “tudo aquilo que um indivíduo deseja e trabalha para obter tem utilidade para ele”.
Mais a frente, na lei da variação da utilidade, afirma-se que a utilidade de um bem varia de acordo com a quantidade deste mesmo bem. Uma pequena porção de comida tem uma utilidade infinitamente grande, se considerado que é essencial para a própria sobrevivência humana. Quanto maiores as quantidades, menor a sua utilidade, sendo que uma vigésima pequena parte de comida não é tão importante para manter um homem vivo e saudável como o são uma, duas ou três partes. Assim, ele define que “o grau de utilidade varia com a quantidade de um bem e finalmente diminui na medida em que a quantidade aumenta.”
Esta lógica funciona muito bem para artigos de primeira necessidade, mas pode não parecer precisa se aplicada a outros bens de consumo. Primeiramente, Jevons defende que uma necessidade mais baixa(alimentação, por exemplo), quando satisfeita, pode permitir que uma necessidade mais elevada aparece. Além disso, “quanto mais refinadas e intelectuais se tornam nossas necessidades, menos passíveis são de saciedade. Uma vez despertado, praticamente não há limite para o desejo de adquirir artigos de luxo, de cultura ou exóticos”. Apesar de não se alongar nessa explicação, essa afirmação é extremamente coerente com o modelo de sociedade e economia atuais. Com uma melhora geral do nível de vida e do poder aquisitivo de uma parcela significativa da população, a economia não se preocupa com a simples satisfação de necessidades básicas, e sim com esta vasta gama de necessidades “elevadas”. A publicidade vem trabalhando no sentindo de despertar e instigar os tais desejos insaciáveis do mercado consumidor. Dentro desse leque, alguns dos produtos mais consumidos e desejados atualmente(pense nos celulares e automóveis como exemplo) acabam fugindo uma pouco da lógica inicial da lei da variação da utilidade.
O interessante do trabalho de Stanley Jevons, publicado nos idos de 1870 na Inglaterra, é a tentar abordar aspectos muito próprios da natureza humana dentro da economia. Apesar da dificuldade de utilizar os sentimentos humanos como grandeza algébrica, é muito importante essa teoria, já que, de fato, eles influenciam os caminhos da economia real.

Global Losers

No mundo em que poucos ganham, todos acabam perdendo.
Por Letícia Peres
O continente africano é o segundo continente mais populoso da terra só perdendo apenas para a Ásia. Porém seus mais de 900 milhões de habitantes vivem uma situação única no globo terrestre. Esquecido pelo resto do mundo a África, tem o maior número de infectados pelo vírus da AIDS e é o continente onde a fome está mais disseminada.
Numa época em que as nações não mais de distinguem das empresas, vemos uma África fadada ao destino de depósito humano da terra. É ali que diversas companhias testam seus medicamentos ou suas armas para vender ao resto do mundo. Enquanto as celebridades tentam abrir os olhos das pessoas para problemas pontuais, as heranças deixadas pela época do colonialismo continuam a matar milhões de pessoas.
O senso comum traça um culpado nessa história toda: a corrupção dos governantes africanos, que muitas vezes, com regimes ditatoriais dizimam etnias inteiras. Mas os principais culpados são estão camuflados sob a bandeira de países desenvolvidos com “mercado negro” a tira colo.
Seja na vida ou na arte, como na pobreza e no abandono retratados por Fernando Meirelles em “O Jardineiro Fiel”, cujo palco utilizado foi a parte sul do mesmo continente, observa-se uma rede de corrupção muito forte que envolve os governos africanos e grandes empresas multinacionais.
Segundo o líder da União Africana, Olusegun Obasanjo, algo em torno de 25% do PIB africano seria consumido por esse tipo de ação vinculada. No filme baseado na obra de John Le Carré, os recursos enviados para a ajuda humanitária são desviados ao comércio de armas e drogas. Agregado a isso, descobrem-se a lavagem de dinheiro por bancos ocidentais, a inserção de alimentos subsidiados no comércio africano e as guerras tribais incentivados pelo tráfico de armas.
É baseado nessa situação de abandono e corrupção que o filme, através de sua narrativa, revela o poder das grandes indústrias farmacêuticas multinacionais e a corrupção presente no continente africano.
O paralelo de Egito e África do Sul permeia o texto de Robert Kurz. Em “Perdedores globais”, a infidelidade das empresas com o desenvolvimento da economia nacional é expressa de uma maneira muito clara. O capital já não possui mais barreiras e o movimento migratório das principais transnacionais para países de Terceiro Mundo – ou “em desenvolvimento” – é cada vez mais notório.
As vantagens oferecidas nesses ambientes, em que as leis trabalhistas e ambientais são fracas e a remuneração da mão de obra é próxima da linha de miséria, propiciam uma globalização do capital. Assim, devido à falta de recursos financeiros, os Estados abandonam a sua população numa condição deplorável, retirando-lhe o direito à cidadania.
“O mercado mundial devassou as entranhas da economia nacional e sua língua alcançou, por assim dizer, a última das aldeias nos confins do mundo. (...) A repartição das funções produtivas não se acha mais concentrada num único lugar, mas difunde-se por vários países e continentes. Todos os componentes do processo produtivo e do sistema financeiro perambulam pelo globo”, analisa Kurz.

Crises

Valéria Vieira

Já em 1984, o texto “Limites do enfoque econômico”, presente no livro “Que crise é essa”, (organizado por Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain), apontava elementos da crise atual. Só que, no entanto, analisava as dificuldades econômicas em que o mundo se encontrava entre as crises de 1929 e 1974.

O texto discute o aumento da diferença entre os países ricos e pobres. Segundo os autores, os países subdesenvolvidos sofrem as piores consequências de uma crise financeira, ficando ainda mais empobrecidos face aos países desenvolvidos. Neste sentido, os principais problemas verificados pelos autores nos países do terceiro mundo são o desemprego e o endividamento.

Durante uma crise, o domínio de novas tecnologias é visto como fundamental na redefinição da economia. Isto porque atividades, antes exercidas pelos países subdesenvolvidos, passam a ser realizadas nos países desenvolvidos, graças à automação. “Nos países desenvolvidos é possível pensar-se em regeneração do capital, surgimento de novas oportunidades de emprego nas áreas conexas às novas tecnologias, ou mesmo na ‘devolução’ a seus países de origem dos trabalhadores estrangeiros incorporados à produção (...) aliviando, assim, as dificuldades de seu mercado de trabalho, etc.”

No entanto, nos países subdesenvolvidos ocorre o inverso. A biotecnologia, por exemplo, inviabiliza a produção dos países pobres que têm suas economias baseadas na agropecuária, pois não conseguem competir com a tecnologia dos países desenvolvidos que produzem muito mais e com maior qualidade. Sendo assim, os produtos de exportação perdem competitividade e mercados internacionais. Outro problema é a automação, que substitui trabalho humano. Ela transforma a abundância de mão-de-obra barata, até então vantagem para o desenvolvimento industrial, em sério problema, já que os trabalhadores não encontram recolocação e aumentam o número de desempregados.

Uma das soluções encontrada pelos países subdesenvolvidos é a importação de tecnologia (máquinas e equipamentos) para a sobrevivência no mercado internacional. Entretanto, só faz aumentar o endividamento, já que os países desenvolvidos detêm tecnologia de ponta, enquanto os países pobres compram tecnologia que se tornou obsoleta nos países de primeiro mundo. Consequentemente, os países de terceiro mundo continuam sem ter condições de competir lado a lado com as potências, precisando, cada vez mais, importar novas tecnologias.

Buscando saídas para a situação, os países subdesenvolvidos precisam atrair capital industrial para seu território e o faz a partir de “vantagens comparativas”, oferecendo as empresas mercados a reduzidos custo de produção e ambiental. A oferta parte do Estado, que cria condições para que o mercado local se converta em demanda efetiva para as indústrias internacionalizadas, por meio de vantagens locacionais (proximidade a fontes de matérias-primas), disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata e uma legislação ambiental “mais tolerante”.

O que para os países ricos é uma saída, para os países pobres acarreta em um agravamento do problema de mão-de-obra e a industrialização subordinada à hegemonia econômica do mundo desenvolvido. Daí que, apesar de crises atrás de crises, “a busca de uma saída por parte do capital tem sido, atualmente, calcada na manutenção dos mesmos modelos de produção e de consumo. (...) O esforço de recuperação da economia mundial insiste em manter os padrões tradicionais das relações sociais de produção, não alterando substantivamente os tipos de produto nem as estruturas de mercado.”

Em 1984, as consequências da crise atual já eram verificadas nas crises anteriores, mas nada foi feito para que uma nova surgisse. O que ainda é necessário acontecer para que uma medida seja tomada sem as mesmas fórmulas fracassadas?

É preciso saber distinguir (as sociedades)

Por Carlos Massarico


Em uma interpretação superficial, sociedade tem como significado fundamental o agrupamento, a reunião de pessoas que possuem interesses em comum. Muitos exemplos simples ilustram essa definição, tais como estudantes em uma faculdade, operários que se reúnem em um sindicato, entre outros. No primeiro exemplo, essa reunião de pessoas pode visar diversos objetivos em comum entre seus membros, como formação de um grupo de estudos, uma colocação no mercado profissional, dentre outras inúmeras possibilidades. No segundo exemplo, fica ainda mais forte esse “elo” de ligação. Unidos nessa sociedade, objetivos em comum entre todos são claramente definidos, como negociações para aumento de salários, melhoria nas condições de trabalho, aumento nos benefícios, etc. Grosso modo, sociedade é essa ligação social entre as pessoas, visano um bem comum entre todos seus membros.


Em um mundo repleto por diversas sociedades, na boa parte das vezes uma pessoa participa de diversas ao mesmo tempo. Esse é o primeiro indício para apontar o principal opositor aos elementos que constituiriam sociedades harmoniosas por completo. Parte do objetivo inicial do conceito de sociedade, na prática, é condenado a possíveis atritos mesmo entre esses membros. Para um fortalecimento da funcionalidade desses grupos, muitos deles trabalham em união, ampliando relações sociais.


Basicamente, sociedades comuns visam atingir bens particulares de uma forma direta, sempre à busca de alcançar o objetivos traçados no momento da constituição plena da sociedade. Já na sociedade política, o que se busca é a concretização de bens gerais, que então criariam condições adequadas de que as pessoas e outras sociedades conseguissem atingir seus objetivos particulares. Esse tipo de sociedade não se prende a um objetivo.


Uma sociedade política não tem um foco tão fechado quanto as sociedades comuns. Por exemplo, uma sociedade de ambientalistas, grosso modo, visam a defesa da fauna e flora. Em uma sociedade política, seus membros, que muito comumente não precisam explicitar vontade pessoal para estarem nesse tipo de sociedade, buscariam agir em diversas vertentes, com a intenção de auxiliar sociedades comuns a alcançarem suas metas.


Procurei apresentar alguns princípios básicos de sociedade e sua diferença com a sociedade política. Todavia, é preciso frisar que o conceito de Estado é diferente da desse tipo de união social, apesar de ele ser uma instituição organizada de maneira política. Pode-se dizer sim que as sociedades políticas são o primeiro passo para se entender a constituição de um Estado. Nesse sentido, ambos não são sinônimos e sim duas formações distintas, que participam de um contexto maior na ligação entre as pessoas e de suas relações.


PS: Urbano, só para frisar, meus dois textos anteriores foram postados nos dias 2 e 6 de Junho, através do Max. Passei para que ele postasse em meu nome.

Vida de apostador

Por Renata Puccinelli


Os economistas têm uma brincadeira predileta nesses momentos de crise: adivinhar quando ela irá acabar. É como uma loteria, todos fazem as suas apostas, e quem acerta leva a glória. Desde o fim de 2007, os chutes sobre o fim dos problemas econômicos não param, tanto por profissionais brasileiros, quanto estrangeiros. Já se falou que a crise seria sentida até 2012, 2011, 2010. Agora, já há quem diga que no Brasil tudo volte ao normal ainda esse ano.

O jornalista João Caminoto, da Revista Época, fez uma crítica em sua reportagem exatamente sobre esse ponto. A partir de uma declaração do Ministro da Fazendo, Guido Mantega - um dos apostadores da crise - dizendo que o PIB do Brasil vai fechar positivo em 2009, com o Brasil longe da crise, o repórter fez uma análise da situação, criticando a postura de Mantega.

Nos últimos meses, o PIB do Brasil andou em baixa, chegando a um declínio de 3,6% no fim de 2008. Ele chama de ingênuo e oportunista a fala do Ministro, querendo esconder a verdade para o povo e empresários. Uma queda tão grande e brusca da economia em um curto período de tempo não é tão fácil de ser revertida. Será que as isenções de IPI dos automotivos são suficientes para reverter a situação se vemos que milhares de empregos desapareceram, que os outros países ainda passam por dificuldades. O Brasil será tão auto-suficiente como os políticos afirmam?

Em que o Ministro se baseia na sua aposta? No crescimento de 0,7% do consumo das famílias, no aumento de gastos de 0,6% do governo e da atividade de serviços (0,8%). A pergunta que eu faço para ele é, todo esse grande(?) aumento mostrando por ele é capaz de absorver o declínio da indústria de 3,1%, de 12,6% dos investimentos e de 5,6% do emprego na indústria.

Pelo que me parece com esses exemplos, Mantega é mais um dos adivinhos da crise. E pelo que parece ele não vai acertar na loteria. Se eu puder fazer a minha, digo que até o fim de 2010 ainda não seremos o mesmo.

Lord Keynes e a matriz bélica

Por Luiz Henrique Mendes

No último artigo para este O Mundo de Prometeu, avaliou-se que o arsenal teórico a disposição dos progressistas nesta crise tem sido as idéias legadas pelo economista britânico John Maynard Keynes. Segundo aquela argumentação, as divergências e fragilidades da esquerda mundial deixaram Keynes como a única solução política viável, em contraponto a idéias neofascistas. Contudo, ao final do artigo, propôs-se a migração, após primeira intervenção keynesiana, para um instrumental teórico de extração marxista. Por quê?

Ao se utilizar de elementos keynesianos para debelar a atual crise, podemos nos esquecer de alguns decorrentes negativos dos mesmos. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a crise de 29 não pode ser comparada mecanicamente com a atual. Apesar das semelhanças, os dois momentos, 1929 e 2007, são diferentes.

Ao contrário da crise de 29, não há um movimento, uma esquerda revolucionária vigorosa nos Estados Unidos, tampouco a sombra de uma economia socialista em franca ascensão, como a URSS, a ecoar a Revolução Russa. Sendo asssim, concessões da burguesia para a construção de uma política do pleno emprego e um Estado fortemente interventor encontram um limite, que é o da própria ameaça à burguesia. Hoje, a burguesia não se sente ameaçada como em 29. E, sem pleno emprego, não sendo o Estado como indutor do desenvolvimento, não haverá política keynesiana.

Outro senão da teoria keynesiana é sua eficácia sem que a matriz bélica e as guerras tenham de ser insufladas. Como se sabe, a II Guerra Mundial teve importância fundamental na superação da crise de 29. Aliás, guerras são instrumentos essências no receituário capitalista, já que ela tem um potencial de destruição incrível, deixando espaço para a reconstrução que, por sua vez, gerará demanda por empregos, produtos, etc. É a roda da economia voltando a girar.

Definitivamente, além de humanamente indefensável, uma guerra, em pleno século XXI seria de proporções inimagináveis, dado o potencial atômico dos países do mundo. Quem pagaria o preço?

No frigir dos ovos, o arsenal keynesiano terá fôlego curto. O quanto antes, é preciso investir na formação da classe trabalhadora, para estimularmos uma migração rápida para o instrumental marxista, qual seja em prol da construção de um socialismo criativo, distante dos dogmas doutrinários da esquerda atual. Caso contrário, a humanidade estará sob sério risco – isto sem contabilizar o passivo ambiental deixado pelo capitalismo.

O que é que Keynes tem?

Rachel Sterman

As propostas de Keynes na conferência de Bretton Woods foram elaboradas no sentido de reordenar a dinâmica econômica internacional. O economista fez a constatação de que uma economia deixada à própria sorte tenderia ao subemprego, à depressão, à revolta. Desse modo, propunha, grosso modo, intervenção estatal nas economias capitalistas. Aliado a isso, e partindo da concepção de que a reconstrução só seria possível se pautada por uma política econômica cujo objetivo estivera centrado em manter a economia funcionando num nível em que toda a capacidade produtiva fosse empregada, Keynes aponta para a necessidade de que cada país fosse livre para aplicar políticas isoladas que defendessem o nível de emprego mais alto possível dentro das suas fronteiras, e que, visando sempre o crescimento, o sistema monetário internacional, não se estruturasse de maneira a obrigar o país à recessão econômica para o equilíbrio do câmbio.
O desafio, portanto, consistiria em estruturar um sistema monetário internacional de cambio fixo que não criasse –como ocorria no padrão ouro- o chamado ajuste assimétrico da balança de pagamentos, que impede o crescimento das economias nacionais, na medida em que um país que está importando mais porque está crescendo mais, através do pleno emprego, passa a ter déficit nas contas externas (porque a demanda por exportação não alcança a de importação) e a fuga de ouro do país demanda a elevação dos juros de maneira que, com a inflação interna e o déficit comercial o país se encontra impossibilitado de manter o crescimento. Precisa diminuir suas demandas por importações ou endividar-se. Keynes aponta, dessa maneira, que este ajuste assimétrico que termina por premiar os países superavitários – exportam mais que importam - que seguram o crescimento e vão contra o pleno emprego e a prosperidade é um ajuste deflacionário, recessivo, cujo custo é muito maior ao de um ajuste inflacionário e expansionista estruturado na reciprocidade do processo de ajustamento da balança de pagamentos. Em outras palavras, o sistema seria sempre deflacionário se não fosse priorizado o crescimento de todos os países para que pudessem absorver mais exportações.

Paul Singer, economista e professor da FEA-USP, aponta, de um jeito muito didático, a tentativa do resgate do modelo keynesiano em situações de crise econômica e questiona a eficácia desse modelo para o resgate das economias abaladas pela crise*: “A política anticíclica keynesiana consiste essencialmente em ações do setor público em substituição ao setor privado, paralisado pelo pânico. Os bancos públicos ‘salvam’ tanto bancos privados em crise, oferecendo-lhes o crédito que eles se negam mutuamente como empresas não financeiras em crise. Além disso, as instituições governamentais podem ampliar a oferta de serviços públicos – educação, saúde, pesquisa, saneamento, segurança, justiça etc. – pois diferentemente das firmas privadas, não visam lucro e não correm o risco de quebrar.

Os governos são responsáveis pela construção, conservação e restauração da infra-estrutura urbana, de transporte, energia etc.. e as promovem até o limite de seus recursos orçamentários, quase sempre aquém das necessidades. O combate a crises oferece oportunidades para expandir serviços e infra-estrutura vitais para a qualidade de vida dos mais carentes. Além disso, governos democráticos distribuem renda diretamente aos mais pobres, sob a forma de Bolsas Família, cestas básicas, merenda escolar, habitação de interesse social e reforma agrária. Na medida em que estas políticas são financiadas por impostos arrecadados dos mais ricos, a demanda efetiva de consumo sobe, contribuindo diretamente para o aumento da produção, do emprego e do investimento.

Como os ricos entesouram rendas adicionais ao passo que os pobres as gastam para satisfazer suas necessidades mais urgentes, a redistribuição de renda financiada pelos impostos pagos pelos primeiros contribui ao aumento de produção, emprego e investimento e portanto ao combate à crise. Todas estas políticas ativam a economia e ao mesmo tempo a tornam socialmente mais justa. Elas terão sucesso, no entanto, apenas se puderem superar o pânico e restaurar a confiança na sociedade civil de que a economia está reagindo e de que os primeiros a ampliarem suas atividades produtivas serão recompensados. O que na prática não deixa de acontecer.”
*o nome do artigo de Singer é "A crise de 2008 põe à prova as políticas keynesianas"

A Economia movida a desejos

Por Bruno de Pierro

O leitor que tem às mãos o texto A Teoria do Prazer e do Sofrimento, de William Stanley Jevons, tem grandes chances de duvidar de sua relevância para um pensamento acerca da economia política. Segundo capítulo de A Teoria da Economia Política, escrito em 1871 e que contribuiu para a defesa da economia como uma ciência, pretende, no entanto, restabelecer o diálogo, muitas vezes ignorado por economistas, entre os desejos e sensações humanos e os elementos fundamentais da ciência econômica. Se até praticamente os últimos parágrafos pipocam dúvidas com relação à argumentação e à forma como o autor fala sobre prazer e sofrimento – numa mistura de métodos mateméticos com reflexões psicologizantes -, chega-se ao final do curto texto sabendo-se, ao menos, quais foram as intenções de Jevons.

Sem muitas dificuldades, compreende-se o esforço de Jevrons. Sua preocupação é com o que ele julga ser o grande “problema da Economia”, a ser a maximização do prazer. Estabelece-se, assim, uma relação complexa cujo sub-sistema nuclear, se assim poderiamos dizer, coloca em interação a economia, enquanto campo científico que reinvindica autonomia, e teorias próprias do comportamento humano. Jevrons procura, inclusive, falar numa “capacidade de antecipação” dos sujeitos, a fim de justificar a idéia de acumulação e estocagem de bens a serem consumidos num futuro. Mas deve-se tomar cuidado para não se pensar que o economista tenta, amparado por conceitos psicológicos, naturalizar o capitalismo, por exemplo. Ele não discute exatamente os meios de produção, a divisão do trabalho ou o conceito de lucro; dedica-se a uma abordagem da economia valendo-se da discussão que gira em torno do consumo.

“O prazer e o sofrimento são indiscutivelmente o objeto último do cálculo da Economia. Satisfazer ao máximo às nossas necessidades com o mínimo de esforço é o problema da Economia”, afirma Jevrons. Dentro desse contexto, desenvolve-se, a partir do capítulo seguinte, uma análise do conceito de utilidade, palavra esta que caracterizaria tudo o que é capaz de gerar prazer ou evitar sofrimento. É interessante a proposta que Jevrons faz de conferir à economia a resposabilidade de examinar as necessidades e desejos do homem. De acordo com esta idéia, reinvindica-se uma “teoria do consumo da riqueza”, o que contraria muitos pensadores. Ora, se o prazer humano é intrínsceco à economia, por conta dos fatores referentes às necessidades, aos esforços e à satisfação do ser humano, uma indagação, que não vem de Jevrons, surge em meio a tantas frases que tentam explicar como que a necessidade de consumo é inerente à vontade de prazer.

Se a economia quer buscar meios de viabilizar a satisfação de nossas necessidades sem que, para isso, soframos com o excesso de trabalho, então não se pode, aí, incluir, dentro desta vasta gama de necessidades, que inclui fome, vestimentas etc., o lucro? Jevrons afirma que “o grau mais alto na escala das necessidades, o do prazer proveniente das belezas da natureza e da arte, é geralmente restrito a homens que estão isentos de todas as privações mais baixas”. Apesar da afirmação manter certa lógica, não há como passar-se batido por ela sem perceber alguma coisa estranha. Segundo o autor, as privações mais baixas são aquelas relativas às necessidades básicas, ou seja, fome, sede, necessidade de proteção contra o frio etc. Quando “supera-se” tal estágio, outras necessidades ganham importância e são incluídas no sistema econômico e aproveitadas como mercadorias. Assim, explicaria-se o fato de a arte ser uma necessidade de consumo.

Essa idéia explicaria, ainda de acordo com o autor, a teoria do valor; “sem o valor relativo inerente aos objetos para cuja obtenção dirigimos nossa energia, não haveria fundamento para a Economia Política como ciência”. O problema de se ter como parâmetro apenas o consumo, de fato tira um peso das costas da “ciência econômica”, ou seja, sua necessidade de explicar os motivos do lucro. Por exemplo, quando Jevrons diz que “quando o alimento é razoavelmente adundante, seu grau final de utilidade cai a um nível muito baixo, e as necessidades de natureza mais complexa e menos saciável se tornam comparativamente proeminentes”, parece que há um desejo, ou ao menos uma intenção, de se justificar o surgimento de novas mercadorias no sistema, “culpando-se” a condição humana de “desejar” sempre. Caberia, dessa forma, ao sistema mercadológico apenas “administrar” tais desejos? Perceba que se sente a falta de uma explicação que, somada à contribuição do autor (isto não se pode negar), ilumine uma outra relação – a do consumo com a “apropriação” dos desejos pela economia.

É evidente que este artigo não cedeu espaço para uma explicação mais pormenorizada sobre alguns conceitos trabalhados por Jevrons, tais como a “lei da variedade” e a “utilidade marginal”, esta que pode ser entendida, basicamente, como o valor, para o consumidor, representado por uma “unidade adicional” de alguma mercadoria. São idéias que merecem atenção de nossa parte, certamente. E nós, aproveitando a “evolução” de pensamentos sobre economia, à luz de Marx, temos de dar atenção aos escritos de Jevrons sem, contudo, perder de vista “outros” desejos do ser humano, obscuros, contraditórios e perversos.

O ciclo vicioso do sistema capitalista

Por Natasha Ramos

Depois de quase oito décadas desde a grande depressão de 1929, o mundo está diante de outra crise econômica sem precedentes, que já vitimou dezenas de milhares desempregados e levou empresas de grande porte como as norte-americanas Lehman Brothers e a American International Group à falência.

O sistema capitalista funciona em ciclos ou, para usar o termo cunhado pelo teórico John Maynard Keynes, esse processo constitui um fluxo circular. O dinheiro flui das empresas para o público sob a forma de salários, remunerações, rendas juros e lucros; em seguida, esse dinheiro retorna para as empresas quando o público adquire os bens e serviços oferecidos por elas. Para as engrenagens funcionarem perfeitamente, é preciso que as empresas vendam tudo o que produzirem e obterem lucros satisfatórios. Porém, esse sistema não é automático e chega uma hora que esse ciclo harmônico se rompe. São os momentos de crise.

Há fatores que podem interferir neste mecanismo: as importações, os impostos e as poupanças. Para se manter o equilíbrio, Keynes pensou formas de compensar essas perdas no fluxo rendas-despesas. São elas: exportação, o financiamento por parte dos governos na aquisição de bens e serviços, e investimentos.

Essas medidas gerariam o equilíbrio do sistema, o que traria prosperidade e abundância econômica à sociedade. Porém, Keynes percebeu que os indivíduos de rendas elevadas tinham o hábito de poupar uma percentagem maior de suas rendas que os indivíduos menos abastados. Assim, à medida que se eleva o nível de rendas, uma percentagem maior dessas é transformada em poupança.

Para contrabalancear, seriam necessários investimentos que acompanhassem o ritmo acelerado de renda para absorver as poupanças. Só assim, as empresas venderiam o que produzissem.

Mas, segundo a teoria keynesiana, há um limite de oportunidades para os investimentos lucrativos. Assim, à medida que o crescimento econômico avança, fica cada vez mais difícil encontrar formas de equilibrar a balança poupança/investimento.

Quando essa proporção é quebrada, as empresas não conseguem escoar todos os bens e serviços produzidos. Isso acontece em larga escala, atingindo as empresas de uma sociedade de forma geral. Visando reduzir o prejuízo, elas acabam retraindo a produção, o que gera a demissão de um contingente de pessoas.

Em conseqüência do declínio da renda, os gastos em bens e serviços também cai, o que contribui ainda mais para a retração da produção, o que, por sua vez, gera mais demissões. Vira um ciclo vicioso.

A Grande Depressão prolongou-se por toda a década de 30 até a eclosão da II Guerra Mundial. Foi a partir da produção em massa das indústrias armamentistas norte-americanas e de uma série de medidas governamentais que a economia estadunidense começou a reagir.

Durante o reminiscente governo Bush e o recente governo de Barack Obama, muitas medidas foram tomadas e muito dinheiro empregado na tentativa de minimizar os impactos da atual crise. Porém, muitos economistas se mostram incrédulos e até incertos sobre qual seria a solução definitiva. Há quem diga que somente outra guerra poderia nos tirar dessa. Será precisaremos descer tão baixo?

Reflexão sobre o texto “Perdedores Globais”, de Roberto Kurts

Por Natasha Ramos

A palavra de ordem hoje em dia é globalização, como afirma Roberto Kurtz. Segundo ele, cada vez mais, a ideia de “economia nacional” tem estado deslocada no atual contexto do mercado e seus conceitos não correspondem mais à realidade.

À medida que foi se tornando fato, a globalização criou novas diretrizes, ampliando o campo de atuação dos atores privados econômicos. Porém, tanto a política quanto a ciência econômica ainda estão presas a velhos conceitos e teorias que não acompanham as mudanças expressivas que vêm ocorrendo durante as últimas décadas.

E de que mudanças estamos falando?

Trata-se do transbordamento do mercado mundial sobre o nacional, expandindo seus tentáculos até o mais distante vilareijo. Desde o início do século XX, a exportação de mercadoria foi incrementada pela de capital. Assim, para citar um exemplo de Kurtz, um especulador alemão pode operar com dólares no Japão; uma empresa japonesa pode tomar empréstimos nos Estados Unidos. E o mesmo vale para a produção: uma mercadoria que será vendida por uma empresa alemã no mercado alemão pode ser elaborada na Inglaterra ou no Brasil, montada em Hong-Kong e o produto expedido do Caribe.

Seguindo a lógica dessa nova ordem mercantilista, a concorrência não se dá mais no âmbito nacional apenas, mas no mundial. Há então uma busca constante das multinacionais por custos mais baixos e maiores vendas. Dessa forma, a revista alemã Wirtschaftswoche sintetizou muito bem a fórmula utilizada pela maioria das empresas: “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”. Assim, no país de origem, permanece apenas o setor de finanças, pelo menos por enquanto.

Apesar de as empresas privadas terem se adaptado muito bem à globalização, o Estado permanece naturalmente restrito às fronteiras territoriais. A imagem do Estado “regulador” tem cedido, cada vez mais, espaço à lógica da concorrência do mercado. A velha “economia política” transformou-se em “política econômica”. Em muitos países, o Estado acabou virando um refém das multinacionais. Grande parte das indústrias estatais, consideradas pouco lucrativas internacionalmente foi privatizada ou desativada.

A grande questão é que o capital estrangeiro não visa ao desenvolvimento de um país, ele é guiado pela formula explicitada pela revista alemã. Cabe ao Estado atraí-lo com a redução de impostos e outras vantagens.

Assim, na era da globalização, os protagonistas tem sido cada vez mais as empresas multinacionais. Devido à falta de recursos financeiros, os Estados têm abandonado à própria sorte uma parcela cada vez maior da população, privando-lhe o direito à cidadania. As autoridades, em vez de defender os interesses do povo, seguem em via contrária oprimido uma sociedade posta à margem.

Porém, a globalização traz inerentemente uma incongruência estrutural entre mercado e Estado. Se por um lado, a internacionalização do capital faz com que este fuja ao controle estatal e diminui as receitas públicas, por outro o capital globalizado depende mais do que nunca de uma infra-estrutura funcional que, por sua vez, é iniciativa do Estado. Podemos concluir, então, que “a globalização tira do poder do Estado os meios financeiros imprescindíveis para o próprio desenvolvimento da globalização”.