quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mais do mesmo

Por Victor Ribeiro

As grandes mudanças ocorridas no cenário econômico mundial a partir da década de 1980 resultaram em muito mais do que um mercado único e global. O surgimento de tecnologias, a diminuição dos custos energéticos e, principalmente, as novas noções de tempo e espaço transformaram a divisão de trabalho e instauraram um novo sistema de produção mundial.

Com a descentralização das funções produtivas e a relativa independência perante o Estado matricial, grandes empresas segmentaram suas atividades ao redor do planeta, de acordo com as condições oferecidas em cada local. Porém, o que a princípio pode parecer uma forma de levar tecnologia, informação e qualidade de vida às pessoas de todos os cantos do mundo, acaba se consolidando como um meio de tornar o mercado consumidor refém de empresários poderosos.

“O mercado consumidor teve de expandir-se por todo mundo, pois quanto maiores os investimentos em tecnologia avançada e quanto maior a racionalização por meio da ‘lean production’, tanto maior é o desemprego e tanto menor o valor da força de trabalho e do poder de compra nacional”. Roberto Kurz , em Perdedores Globais

O tipo de produção lean production, citada pelo filósofo alemão, tem como filosofia obter um melhor resultado nos seus processos e serviços utilizando todos os recursos tecnológicos e humanos, eliminando quaisquer possíveis fontes de perdas do processo produtivo do começo ao fim. Menos esforço humano, tecnológico, tempo e espaço, mas, ao mesmo tempo, com produtos de alta qualidade.

Desta forma, aliado à grande oferta de serviços, o aumento de investimento em tecnologias proporciona crescimento do número de desempregados, diminuição dos salários e, consecutivamente, poder de compra. “Produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”, se tornou o lema das multinacionais.

Pode-se dizer também que, de maneira ampla, todos perdem neste processo globalizado, exceto os empresários. Mesmo o país de origem destas organizações se vê em situação de risco. A fidelidade à economia nacional deixa de existir junto com qualquer estratégia de desenvolvimento econômico. As marcas ganham vida própria e os países são obrigados a oferecerem condições atraentes para mantê-las em seus territórios.

Em busca de melhores condições, o mercado produtor se espalha rapidamente e surgem cada vez mais pólos de abismo social. Produtores ricos passam a dividir espaço com seus empregados, dominam os novos territórios e se apropriam deles. Um exemplo dessa tendência é a cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que há trinta anos era habitado basicamente por moradores paupérrimos de desertos, passou a ser moradia para trabalhadores indianos que imigravam em busca de emprego e hoje é um dos destinos preferidos de milionários do mundo todo.

Por outro lado, este é um processo que tende ao fracasso. A longo prazo, com a dominação territorial e maior abismo social, o capital mundial terá seu raio de ação minimizado e não suportará uma grande acumulação em um espaço tão pequeno. Kurz compara a situação à tentativa de se dançar sobre uma tampinha de garrafa de cerveja.

Ao mesmo tempo em que a globalização se mostra forte para caminhar com as próprias pernas, se apresenta cada vez mais dependente de uma infra-estrutura funcional oferecida pelo Estado. Quando o avanço é demais, chegam as crises. Mas os maiores prejudicados são sempre os mesmos. O povo tem sua ira provocada diariamente pelos abutres da globalização.

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