terça-feira, 23 de junho de 2009

Global Losers

No mundo em que poucos ganham, todos acabam perdendo.
Por Letícia Peres
O continente africano é o segundo continente mais populoso da terra só perdendo apenas para a Ásia. Porém seus mais de 900 milhões de habitantes vivem uma situação única no globo terrestre. Esquecido pelo resto do mundo a África, tem o maior número de infectados pelo vírus da AIDS e é o continente onde a fome está mais disseminada.
Numa época em que as nações não mais de distinguem das empresas, vemos uma África fadada ao destino de depósito humano da terra. É ali que diversas companhias testam seus medicamentos ou suas armas para vender ao resto do mundo. Enquanto as celebridades tentam abrir os olhos das pessoas para problemas pontuais, as heranças deixadas pela época do colonialismo continuam a matar milhões de pessoas.
O senso comum traça um culpado nessa história toda: a corrupção dos governantes africanos, que muitas vezes, com regimes ditatoriais dizimam etnias inteiras. Mas os principais culpados são estão camuflados sob a bandeira de países desenvolvidos com “mercado negro” a tira colo.
Seja na vida ou na arte, como na pobreza e no abandono retratados por Fernando Meirelles em “O Jardineiro Fiel”, cujo palco utilizado foi a parte sul do mesmo continente, observa-se uma rede de corrupção muito forte que envolve os governos africanos e grandes empresas multinacionais.
Segundo o líder da União Africana, Olusegun Obasanjo, algo em torno de 25% do PIB africano seria consumido por esse tipo de ação vinculada. No filme baseado na obra de John Le Carré, os recursos enviados para a ajuda humanitária são desviados ao comércio de armas e drogas. Agregado a isso, descobrem-se a lavagem de dinheiro por bancos ocidentais, a inserção de alimentos subsidiados no comércio africano e as guerras tribais incentivados pelo tráfico de armas.
É baseado nessa situação de abandono e corrupção que o filme, através de sua narrativa, revela o poder das grandes indústrias farmacêuticas multinacionais e a corrupção presente no continente africano.
O paralelo de Egito e África do Sul permeia o texto de Robert Kurz. Em “Perdedores globais”, a infidelidade das empresas com o desenvolvimento da economia nacional é expressa de uma maneira muito clara. O capital já não possui mais barreiras e o movimento migratório das principais transnacionais para países de Terceiro Mundo – ou “em desenvolvimento” – é cada vez mais notório.
As vantagens oferecidas nesses ambientes, em que as leis trabalhistas e ambientais são fracas e a remuneração da mão de obra é próxima da linha de miséria, propiciam uma globalização do capital. Assim, devido à falta de recursos financeiros, os Estados abandonam a sua população numa condição deplorável, retirando-lhe o direito à cidadania.
“O mercado mundial devassou as entranhas da economia nacional e sua língua alcançou, por assim dizer, a última das aldeias nos confins do mundo. (...) A repartição das funções produtivas não se acha mais concentrada num único lugar, mas difunde-se por vários países e continentes. Todos os componentes do processo produtivo e do sistema financeiro perambulam pelo globo”, analisa Kurz.

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