domingo, 20 de dezembro de 2009

“O Google é meu Pastor, nada me faltará”

Quem tem mais de vinte anos certamente lembra dos temíveis trabalhos manuscritos na folha de almaço. Normalmente complexos, exigiam que o estudante fizesse um bom trabalho de pesquisa. Aqueles que não contavam com a evolução proposta pela enciclopédia Barsa em sua estante, recorriam aos Centros Culturais, para não ficar para trás. Este esforço representava em muitos casos um sufoco, especialmente por dois motivos.

O primeiro diz respeito ao trabalho em si, já que, em muitos casos não era permitido levar o livro para casa e nem tirar cópia das páginas que interessavam. A alternativa era escrever o que fosse preciso no próprio local. O segundo ponto é que nas bibliotecas havia – como ainda há - pessoas que estão ali para dar suporte, ajudar a encontrar os livros. Só haviam esquecido de avisar isto a muitos destes bibliotecários. Era uma má vontade de dar raiva.Tudo isto tinha um lado positivo. De alguma forma se assimilava a informação contida nos trabalhos, porque para copiar (obviamente) era necessário ler. E há uma maior autonomia. O fato de alguns bibliotecários não cumprirem com suas tarefas fez com que muita gente aprendesse a andar e pegar nas prateleiras os livros que quer sozinho.

O tempo passou e hoje em dia com o advento e avanço da internet, está cada vez mais simples para os estudantes entregar seus trabalhos no prazo. É sobre a importância dada a internet que Olga Pombo fala no texto >Atualmente é muito difícil pensar em alguém que viva em grandes cidades e não tenha acesso à internet, mesmo que seja através de lan houses. A informação rápida e a necessidade irrefreável de “se inserir”, interagir com os amigos é hoje, muito mais que um capricho, tornou-se uma ferramenta de grande utilidade não só no ambiente de trabalho, mas também na vida pessoal.

O Google é o maior representante de como a internet pode ser usada para o bem ou para o mal. Basta clicar para obter respostas, seja sobre assuntos banais, como receitas culinárias ou a respeito de coisas ruins, como torcidas organizadas de times de futebol combinando brigas, por exemplo. O grande problema deste sistema de busca, homenageado no Orkut com comunidades como “O Google é meu pastor, nada me faltará” é permitir que muitas coisas sejam feitas sem identificar as pessoas. O anonimato só alimenta a covardia.

Que a internet é um enorme progresso não há dúvida, basta apenas um pouco mais de critérios. Só isso!

sábado, 19 de dezembro de 2009

A Nova Enciclopédia

No embate entre a enciclopédia e o hipertexto, mais do que informação, formas de transmiti-la e capacidade de recebê-las, está a sociedade e as mudanças das quais é ao mesmo tempo causa e consequência.

Para qual geração saber que Ag é o símbolo da prata na tabela periódica é realmente fundamental? Para esta e a que virá logo em seguida parece não fazer diferença. Se o hipertexto não existisse hoje, ainda assim esta geração não colocaria tal conhecimento na enciclopédia. Tabela periódica não; história da MTV, com certeza.

Outro dia, minha irmãzinha de 12 anos disse, ao comentar sobre quais músicas poderiam tocar no meu aniversário: “tem aquele outro ritmo também, como chama? Ah, MPB”. Chico Buarque, para ela, é só um nome que, de vez em quando, permeia as conversas de adultos. Eu fico triste e, da mesma forma que minha mãe suspirava ao ouvir de mim, quando eu tinha 12 anos, que “Belchior é uma chatice”, percebo a próxima geração mais vazia e... sem poesia.

Então, tento olhar essas crianças “não informadas” mais de perto. Minha irmã nunca leu Shakespeare, mas, de tanta Hanna Montana e Jonas Brothers já tem um inglês fluente, com direito a gírias! Sabe apenas que uma vez, há muito tempo, existiu um cara chamado Marco Polo, mas, por outro lado, encontra os pontos mais impossíveis no mundo virtual em minutos. Ela pergunta se “o Pelé foi tudo isso mesmo”, mas é capaz de criar um jogo de videogame sobre futebol em uma semana.

Não é o nosso ideal de uma pessoa “informada”, mas é o da próxima geração. Assim, para se discutir o quanto de sentido o hipertexto roubou da informação, é preciso entender que é exatamente essa “informação relevante” que gera esse tal de “conhecimento”. Em Enciclopédia e Hipertexto. O Projeto, Olga Pombo diz que “no hipertexto não há, pura e simplesmente, qualquer sistema de seletividade”. Discordo, há sim. O problema é que a seleção sendo feita, diariamente pelos internautas, não é aquela que nós temos como a mais sábia. Mesmo no argumento da autora, de que “trata-se de uma seletividade que só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do eu é mais importante, de dispositivos subjetivos de determinação das boas e das más informações”, revela-se a mesma questão de que é a falta de competências necessárias para se obter uma boa informação que torna o hipertexto “um meio de diversão, distração e esquecimento” (Paulo Serra, Informação e Sentido) e não um ambiente democrático e de infinitas possibilidades onde novas competências talvez comecem a substituir, em sua ideia do que é de fato importante, informações antes tidas como boas e que agora são... descartáveis.

Não é a forma como a informação é transmitida ou a sociedade que a recebe. O hipertexto substituiu a enciclopédia porque o Homem de antes também foi substituído. Podemos preferir o passado e até sentir certa pena por uma sociedade que se direciona para um caminho que não temos como o mais acertado. Mas não podemos julgar esses novos indivíduos (e a parte de nós que sucumbiu às novas tecnologias) a partir do que costumava ser importante. Com base em um conhecimento que também ficou... démodé.

No filme Rebobine, por favor, do francês Michel Gondry (um diretor “sem memória”, como sua geração, e que veio do videoclipe), todas as fitas de uma locadora são desmagnetizadas e, para salvar o negócio, dois amigos refilmam tramas como Conduzindo Miss Daisy e 2001, uma Odisseia no Espaço, da maneira como eles lembram ser os filmes, e com recursos mais do que precários. O resultado, além de divertido, explica um pouco a questão do “descaso” pelo passado e da facilidade em substituir memórias. Um clássico do cinema, por muitos considerado uma obra-prima, é apreendido por dois “ignorantes” que de nada entendem de cinematografia, e transformado em outro filme, mais “fácil de entender” e divertido do que o original – e que lota a locadora de clientes. Um insulto a Kubrick ou uma forma de mantê-lo vivo para uma geração que nem de longe o percebe como gênio?

Paulo Serra, em Informação e Sentido, diz que tal abundância de informações oferecida pelos novos meios de comunicação resulta em “um querer saber não para saber mas para o ter sabido”. Pois é justamente o que muitos defendem como a “boa informação”, negligenciada pela massa sem capacidade para apreendê-la, que essa geração tem como um “saber só para ter sabido”. E cito outro exemplo, meu primo de 17 anos. Ele decidiu assistir a obra-prima de Kubrick, “de tanto falarem”. Dormiu na metade. E não porque lhe faltou competência para enxergar a “genialidade” do filme, mas porque, para a sua vida, sua rotina, para quem pretende ser, aquela obra não lhe diz nada.

E isso, de modo algum, significa a queda do médium, para usar o termo de Paulo Serra. Literatos e imprensa podem ter perdido parte de sua importância e influência, mas, ao mesmo tempo, justamente por conta da abundância de informação, são necessários mediadores que digam o que vale ou não a pena ser absorvido. Evan Williams, cofundador e diretor geral do Twitter, ao lançar o site, disse: “jornalistas são os curadores de conteúdo, com o papel de separar o joio do trigo”. “A adoção relativamente arbitrária de um ponto de vista”, caraterística da enciclopédia, permanece no hipertexto. A diferença é que talvez um ponto de vista antes subjugado agora seja o dominante e que aqueles dispensados, ainda que menor, também têm espaço.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Quase tudo

No exercício diário de meu cargo de redator, constantemente preciso recorrer a materiais internos de onde trabalho. Não obstante, precisei fazer uma nota sobre o maestro Villa Lobos (não sei se o tempo já alterou a grafia do nome dele). Me surpreendo ao buscar por uma foto dele e encontrar dentro do banco de imagens da Folha de São Paulo uma imagem tirada por um fotógrafo da empresa datada da época em que o compositor ainda era vivo.

Este exemplo é um dos casos de migração de mídia que vem ocorrendo com o decorrer dos tempos. Do arquivo de papel para o digital, houve um ganho de agilidade e de espaço consideráveis. É algo similar à pessoa que grava cinco CDs antigos em um único DVD para não ter que lidar com várias mídias. Em menos de um ano, muitos farão o mesmo processo, só que com o Blu-ray.

A digitalização de materiais jornalísticos dá uma falsa impressão sobre uma espécie de "teoria do tudo" informacional. No nível de apenas arquivado, o material não passa de dados, não chegam a constituir uma informação em si, embora estejam repletos delas em seus conteúdos. Categorizar este volume todo, além de gerar um nível muito maior de informações, pode causar um drama com a indexação das informações: o que é realmente relevante?

Um exemplo: Em uma busca por "Lula", Poderíamos organizar por data, mas o retorno seria imenso. Sem contar a ambiguação. Imagine cada termo ter que ser desambiguado? E a cada nova confusão, termos que refazer em tudo que foi publicado uma nova categorização? O trabalho seria enorme. O logaritmo usado pelo Google até hoje também não se mostra eficas ao todo. Se em uma matéria escrevermos "Lula, Lula, Lula, Lula, Lula, Lula, Lula, Lula..." ela terá mais importância que uma onde esteja escrito "O presidente Lula morreu".

Talvez, cada área do conhecimento deva ter seu próprio mecanismo de indexação e características de "tagueamento" comuns a vários mecanismos. Mas a busca deve respeitar cada idiossincrasia. E estas peculiaridades, esta "epistemologia diária" muda constantemente. Ainda sobre o exemplo do Lula, o Banco de Dados da Folha de S. Paulo vê com maior relevância dados sobre a trajetória política do Lula após este ter se tornado presidente. Já os repórteres tem maior interesse nos últimos passos deste. Os redatores se preocupam muito mais com os termos relacionados ao líder e às imagens vinculadas à sua figura.

Como último exemplo, cito um caso referente ao problema em se gerenciar toda esta quantidade de informação. Recentemente, uma grande biblioteca central européia (uso estes termos por não lembrar o local nem o nome) adotou sistemas robotizados para catalogar seus livros. Anteriormente, cada bibliotecário tinha que ir pessoalmente e buscar um volume na biblioteca. Este processo demorava até duas semanas devido ao grande volume de materiais ali presentes e à impossibilidade em várias pessoas circularem pelo mesmo local ao mesmo tempo. Os livros são colocados dentro de caixas plásticas que mais lembram Tupperwares e são endereçados eletronicamente. Ao se digitar a busca, um sistema robotizado de carrinhos, como pontes rolantes, busca esta caixa e a traz até o bibliotecário. Porém, com todo o material ali presente, se o profissional colocar um livro em uma caixa errada, este pode demorar anos, e até mesmo décadas para ser novamente localizado, segundo estimativas de especialistas.

No jornalismo não estamos muito longe disto. Até lá, creio que possíveis soluções para isto encontram-se nas organizações diárias e na divulgação de micro-centros de informações. Todos em rede, e não um só. Talvez um projeto enciclopedista de toda produção existente peque por isso, muito mais do que por capacidade.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um brinde à falta de transparência da FUVEST

Na última terça-feira (8/12), recebi com felicidade a notícia de que a nota de corte do curso de medicina havia caído para 74 pontos – em 2008, o corte foi 77. Felicidade porque minha irmã, que acertou 72 questões no vestibular realizado no último mês de novembro, conseguiria a vaga para disputar a segunda fase do concorrido curso de medicina da USP.

Antes que alguém estranhe minha matemática, devo esclarecer que além dos 72 pontos (ou questões) conseguidos, minha irmã teria acrescido 6% em sua nota por ter estudado o ensino médio inteiro numa escola pública, e mais alguns pontos devido a seu desempenho no Programa de Avaliação Seriada da Universidade de São Paulo (Pasusp), em 2008. Descontado o bônus do Pasusp, que eu confesso não saber calcular, minha irmã alcançaria 76,32 pontos, suficientes para a realização da segunda fase.

Acontece que a Fuvest divulgou nesta segunda-feira (14/12) a lista com os nomes dos aprovados para a segunda fase do vestibular, que vai acontecer na primeira semana de janeiro de 2010. Para minha surpresa e desolamento de minha mãe, o nome de minha irmã não estava lá.

Tenho algumas pistas para o ocorrido. 1) Minha irmã pode ter passado as questões erradas para o gabarito. 2) Ela pode ter se enganado na correção da prova. Estou consciente de que algo do tipo pode ter acontecido.                          

Contudo, salta aos olhos uma atitude no mínimo estranha da Fuvest, que é o fato de não liberarem os pontos atingidos na primeira fase. É uma falta de transparência e respeito ao vestibulando sem igual. Eu não teria dúvidas da lisura do vestibular caso pudesse encontrar no site da fundação um link com o desempenho individual de minha irmã, mostrando quantas questões ela acertou oficialmente e por quantos pontos ela ficou de ir para a segunda fase. 

Não bastasse o processo desumano do vestibular, em especial para um curso de medicina, e a brutal desigualdade entre aqueles que têm condições financeiras para pagar um colégio privado e aqueles que têm como consolo a precariedade de uma escola pública – um processo no qual gente com condição de pagar universidades toma o lugar de quem só poderia estudar numa instituição pública como a USP – vemos numa situação em que o maior vestibular do país flerta com o obscurantismo e a falta de transparência.

É simplesmente lamentável.

Deixo este texto como forma de protesto à estrutura do vestibular da USP e a todos os outros vestibulares, que insistem em reproduzir a lógica capitalista, o darwinismo social descarado, o esquizofrênico conceito de meritocracia presentes nos vestibulares Brasil afora. Protesto, em especial, contra a falta de transparência da Fuvest.

Declaro aqui minha desconfiança. A lisura do vestibular está sob suspeita. Desfazer esta desconfiança me parece simples. Basta a Fuvest liberar o desempenho de cada estudantes no vestibular. Terão coragem? Ou existe alguma maracutaia engendrada para favorecer alguém?

Como cidadão, exijo transparência!

No frigir dos ovos, meu voto é pelo fim dos vestibulares!

Interligações

Por Beatriz Carrasco


“A Enciclopédia é uma reunião da informação disponível em sua época, e também uma vívida ilustração tanto da política como da economia do conhecimento”, afirma Peter Burke. É por essa importância que ficou na história a imagem das imensas bibliotecas, abarrotadas de livros e pessoas em busca de informações. Mas hoje esse quadro mudou. Os papéis foram substituídos, em grande parte, por bancos de dados na Internet, e as pesquisas são feitas por meio de cliques, sem a necessidade de se locomover.

Opiniões à parte, o fato é que a realidade agora é outra. E é justamente sobre essa transição da informação para os ambientes de rede que falam os textos de Paulo Serra, Olga Pombo e Antonio Hohlfeldt. Em “O projeto da Enciclopédia e seus registros sobre o Jornalismo”, Antonio Hohlfeldt faz um levantamento histórico a Enciclopédia de Diderot, de 1750. Por seu caráter ousado e inovador, que buscava disseminar o conhecimento, foi considerada “a obra suprema do Iluminismo”, e foi, inclusive, caçada pela Igreja Católica e alvo de processos do Parlamento.

O autor também menciona a novidade da enciclopédia que, além de trabalhar com os verbetes, utilizava a “referência cruzada”, ou seja, “um verbete poderia remeter, em seu interior, a outro verbete”. Esse recurso garantia a consulta multiplicada da obra, e talvez tenha sido a primeira manifestação do que, séculos mais tarde, veio a ser o hipertexto tão citado por Olga Pombo em “Enciclopédia e hipertexto – o projeto”. Isso é apenas mais um dos indícios de que o ser humano sempre sentiu necessidade de interligar os fatos e alcançar conclusões fundamentadas.

“Daí aquele cuidado, já mencionado, para que as ilustrações não apenas representassem o objeto, quanto o apresentassem sob diferentes perspectivas, seu modo de construção e operação, e sobretudo, seu funcionamento e utilização”, afirma Hohlfeldt. Nesse caso, percebe-se que não havia uma intenção de impor um conhecimento absoluto, mas abrir as portas para a reflexão. O autor ainda expõe as diferenças que alguns termos sofreram em seus significados ao longo dos anos, o que evidencia como os tempos mudam e modificam a percepção dos fenômenos sociais: “mudavam os tempos, modificava-se a percepção dos fenômenos sociais, e as enciclopédias registravam, como um fiel barômetro de temperatura”.

Muitos teorizadores da “sociedade da informação” acreditam, assim com os Iluministas, que quanto mais informação houver disponível para o cidadão, mais conhecimento ele terá. Porém, no texto “Informação e sentido”, de Paulo Serra, é defendida a ideia de que muita informação gera um decréscimo de conhecimento. “Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido”, diz citação de Baudrillard no texto.

O excesso de informação que começou com a imprensa, hoje atinge seu ápice com a informatização. São diversos sites, blogs e publicações formais ou informais que desencadeiam em uma “bolha” de conteúdos. Mas toda essa bagagem muitas vezes não encontra o seu próprio sentido. É uma frequência tão rápida e ininterrupta de novos conceitos, que há a perda da reflexão sobre cada fato, para que estes encontrem seus próprios significados. Como afirma Serra, é “um mundo em que verdade, valores e normas se multiplicam até ao infinito, tornando impossível qualquer escolha fundada”.

Baseado na teoria de Baudrillard e Postman, o autor afirma que quanto mais se tem informação sobre algo, mais a representação fica distante do que é real. Segundo ele, “o mito da informação” (como aquelas geradas pelos enciclopedistas), propõe uma concepção plena do conhecimento, ou seja, algo fechado e pré-conceituado. Com os computadores, ainda há uma busca de registrar todas as informações, como se a máquina fosse a própria memória (para garantir a abundância de sentido das coisas). Mas construir a memória dessa maneira pode envolver contradições e, segundo o autor, gerar uma concepção errada do conhecimento, do sujeito e da própria memória.

Segundo D’Alembert, os conhecimentos humanos podem ser divididos em “conhecimentos diretos” (ou sensações), que recebemos de forma passiva, sem que a nossa vontade tenha influência; e “conhecimentos reflexos”, que são resultado da combinação e relação do espírito sobre os conhecimentos diretos. Sendo assim, o que a tecnologia da informação busca é algo como uma “memória artificial”, que garanta a abundância (e plenitude) do sentido das coisas.

Mas a grande questão é que essa “memória artificial” gera um pré-conceito sobre tudo, de forma que a memória humana não seja utilizada na interpretação dos fatos. O autor critica isso, e é incisivo ao afirmar que, mesmo que a memória humana seja finita, ela é a chave para a diversidade de sentidos. E não uma memória artificial, um banco de dados que pressupõe todas as interpretações.

Já em “Enciclopédia e hipertexto – o projeto”, Olga Pombo aborda a importância da Internet. Para a autora, o hipertexto é a última potencialização da ideia de enciclopédia. É o “saber perfeito” sonhado por Santo Isidoro quando criou a primeira grande enciclopédia cristã. Após introduzir o assunto, a autora logo lança a questão: “é inevitável perguntar: será que a nossa experiência da unidade dos conhecimentos através da Internet tem mesmo a condição de uma enciclopédia em regime de ligação virtual infinita?”. Ela afirma que o hipertexto é “o limite ideal da enciclopédia”, e que são essenciais as informações da enciclopédia no ambiente virtual, com seu “vai e vem” de conteúdos.

Ao apontar que não há muito estudo sobre essa relação, Olga comenta que a enciclopédia é o que está mais próximo ao hipertexto, e indaga sobre como ambos se relacionam. Ela é idealizadora ao tratar sobre o tema, já que sua visão é a de que o hipertexto é a máxima do conhecimento. Por outro lado, Paulo Serra parece muito catastrófico ao defender que a concentração de informações pode gerar uma falta de sentido absoluta. Talvez um meio termo seja o ideal. Utilizar a enciclopédia virtual como mais uma fonte de pesquisa, já que a própria Internet, por si só, já abre diversas portas e fontes. Por isso, segundo Olga, o hipertexto, que interliga os fatos, é dinâmico e fundamental: “sabemos que a enciclopédia se constitui na e pela pretensão à exaustividade, à cobertura do saber adquirido pela humanidade até um determinado momento. Por seu lado, o hipertexto está marcado por uma inexorável abertura à promessa de um saber em permanente crescimento”.

Outro contraponto nessa discussão é o texto “Funes, o memorioso”, de Jorge Luis Borges. Com linguagem rebuscada que faz oposição à adotada na Internet, o autor cita instrumentos de comunicação como o livro e o telégrafo. É uma ideia diferente da agilidade à qual temos acesso nos tempos atuais, com os hipertextos e bancos de dados. Apesar de a linguagem ser mais densa, há um cunho muito reflexivo, com cuidado para lidar com a própria linguagem. Hoje, apesar do grande acesso à informação, muitas vezes acaba-se esbarrando com o problema da credibilidade das fontes.

Por meio das novas tecnologias, a informação alcança o mundo inteiro, a qualquer momento. Porém, como destaca Paulo Serra, é preciso ficar atento para que o fluxo excessivo de informações não faça com que haja uma perda geral no sentido das coisas. A conexão por meio do hipertexto é um meio de contribuir para a assimilação dos fatos, mas não se pode enxergar as informações disponíveis na rede como verdades indiscutíveis. Absolutismos são becos sem saída, que impedem a reflexão, o avanço no campo do pensamento e, acima de tudo, no próprio desenvolvimento racional do ser humano.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A internet não tem razão

Até que ponto o excesso de informação tem nos deixado completamente desinformados. Por maiores que sejam os meios e as possibilidades de descobrirmos mais sobre tudo, mais nos afundamos no vazio. A obsoleta enciclopédia não teria nada a acrescentar a nossas mentes abarrotadas de espaços virtuais que muito pode trazer de novidade e pouco tem nos nutrido de real conhecimento?

E pensando em Funes, o memorioso, de Jorge Luis Borges podemos perceber o quanto que nosso grande afã diário faz de nós exatamente aquele que Funes critica no texto: vivemos como quem sonha, olhamos sem ver, ouvimos sem escutar, esquecemos de tudo, ou quase tudo. Excesso de informação? Seria de se perguntar até que ponto Baudrillard também teria razão ao afirmar que a construção de uma memória artificial, corporizada nos media, nos daria a garantia maior de um esquecimento perfeito.

Acontece que esse excesso de acesso a informação não nos garante o conhecimento. A internet, por exemplo, pode ser considerada a nova televisão com um milhão de canais. É uma tentação que distrai muito mais do que orienta.
Não acredito ser a enciclopédia o único caminho para o real conhecimento, porém não há como desconsiderar o seu valor diante de um mundo de incertezas que nos traz a internet. É claro que qualquer conhecimento pode evoluir a partir de novas descobertas. Porém, os livros ainda nos garantem uma maior credibilidade. A palavra escrita, ainda que tenha também o seu prazo de validade, no sentido de amplitude do que está escrito, nos deixa mais certeza sobre sua veracidade. Ao passo que ao atualizar uma página da internet, as informações não apenas aumentam como se modificam.

Toda aquela riqueza de detalhes exposta na tela do computador é tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão irreal. Irreal no sentido de parecer um concentrado de opiniões e achismos que nem sempre correspondem à verdade. O valor do livro, ou da enciclopédia, como diria o filósofo Denis Diderot, está em agrupar os conhecimentos dispersos e expor aos homens, “a fim de que os trabalhos dos séculos passados não tenham sido trabalhos inúteis” e que os descendentes ao se tornarem mais instruídos, se tornem também mais virtuosos. Enquanto o mundo virtual desorganiza, os livros ordenam.

A grande vantagem do hipertexto para com a enciclopédia seria a rapidez de atualização. Esse atualizar poderia, então, garantir aquilo que ainda não garante racionalmente como informação concisa e segura. Isso por contar por diversas contribuições espontâneas, por vezes anônimas, que de certa forma trazem mais dúvidas do que aprendizado. Então, teríamos a ilusão, estamos atualizados.

A enciclopédia idealizada por Diderot e dAlembert, em 1750, trazia a novidade de trabalhar com a referência cruzada, isto é, um verbete poderia remeter a outro, o que garantia a consulta multiplicada quase ao infinito da obra. O que, de certa forma, antecipava em séculos o que fazemos ao clicar uma palavra destacada de um texto na internet, pulando diretamente para sua referência. Toda essa suposta agilidade proporcionada pelo mundo virtual parece fazer de nossa memória um depósito de lixo. Nossas escolhas, ainda que com “preocupações culturais”, acabam se voltando para uma informação mais acessível oferecida pelo mass media.

Essa condição ilimitada do hipertexto tem como efeito a banalização, a sobrecarga, a desorientação e a indiferenciação dos conteúdos veiculados. Claro que existem mecanismos de filtragem, os sites de busca oferecem esboço de seleção. Acontece que essa seleção só funciona na medida que o leitor tenha capacidade crítica de discriminação do que é importante ou não.
E de que forma adquirir um senso crítico se hipnotizados pela curiosidade disfarçada de ‘busca pelo conhecimento’ saltamos de novidade em novidade em busca de entretenimento ao invés da instrução. Se não há mais como realizar nosso ofício sem essa navegação sem bússola, não há mais como apreender nada. E devo lembrar Jorge Luis Borges novamente: “um jornal lê-se para esquecer, uma música também se ouve para depois se esquecer, é uma coisa mecânica, portanto fútil. Um livro lê-se para se reter na memória.”

A internet pode substituir o jornal diário, ainda que sem a devida credibilidade. Porém, a web está longe de substituir os ensinamentos dos livros. Talvez a enciclopédia, digna de tantos preceitos, devesse incorporar uma linguagem mais acessível e menos complexa para que não aconteça, por excesso de erudição, o mesmo que acontece ao passarmos os olhos pelo hipertexto, a impossibilidade de memória.

A grande questão é que a informação (importante) só tem utilidade para quem está informado (e conhece); a quem não está informado (nem conhece), de nada serve procurar essa informação nos sites de busca. Temos assim, dois tipos de internautas: aquele que procura para confirmar, ou rememorar, e outro, senão a grande maioria, que usa a internet como um desaprendizado ou como um meio de diversão, distração e esquecimento – aproximando-se cada vez mais, neste aspecto, da televisão.

Não sejamos nós vítimas da opinião alheia ou pertencentes a uma opinião pública que não se sustenta. Não deixemos que o poder publicitário governe nossas idéias e ações. O mundo virtual não tem um conteúdo de todo racional e lógico. Ele só poderá ser usado a nosso favor se fizermos o uso das bússolas. E que não nos enganemos, as únicas bússolas existentes ainda estão nas estantes.

Juliana Menz 05006894

Internet, democracia e participação política

Após 4 anos discutindo paradigmas da comunicação, mais especificamente do jornalismo. Se a chegada do rádio e, posteriormente, da televisão mudaram radicalmente a forma de se relacionar com os meios de comunicação e até mesmo a forma de se relacionar entre as pessoas; o advento da internet modificou isso mais profundamente, intensificando até o conceito de democracia no que tange a comunicação.

A web proporciona a seus usuários a possibilidade de tornar-se um provedor de informação capaz ainda de distribuir esse conteúdo por toda a rede. O resultado desse fenômeno é a criação de uma rede de interação nunca vista. E como todo o espaço midiático, a internet também se constitui como um importante lugar de conversação, onde se desdobram importantes discussões políticas. Ora, seria então a internet um meio favorável para o surgimento de condições para o debate público democrático?

O surgimento desse espaço democrático tão sonhado não depende somente de um meio de comunicação apropriado, mas acima de tudo do interesse dos cidadãos em participar dos debates políticos. Caso não haja essa disponibilidade em se apropriar dessa rede para a deliberação política, a internet ganha contornos tão unidimensionais quanto a televisão, por exemplo. O problema não reside, portanto, na capacidade dos meios, e sim na motivação da sociedade, que não é estimulada a desenvolver a conversação política.

A questão do acesso às tecnologias da comunicação também deve ser levada em consideração. O alto custo dos equipamentos eletrônicos de acesso à internet e o elevado índice de analfabetismo da população limitam o acesso de muitos ao espaço cibernético. Dessa forma, a internet tende a reforçar as desigualdades sociais, criando uma espécie de exclusão digital. Essa exclusão digital fica socialmente mais evidente quando assistimos a adoção de políticas públicas no formato digital, sem que haja uma inclusão das camadas economicamente menos favorecidas.

A participação do público em debates políticos possui uma ligação direta com a questão da educação. Fica claro que o limitado conhecimento dos cidadãos acerca de seus direitos e deveres se reflete drasticamente na apatia política e no desinteresse pelo debate público. Os meios de comunicação, por sua vez, não colaboram para suprir essa brecha no ensino de base, uma vez que os conteúdos jornalísticos preocupam-se apenas com a cobertura política factual.

Percebe-se atualmente um certo grupo de pessoas que está mais interessado naquilo que afeta diretamente as suas vidas. São os movimentos sociais e as associações voluntárias. Essas redes são parte fundamental para a promoção da politização, pois são capazes de implementar o debate político no tecido social.

Apesar do momento propício para o surgimento de uma esfera pública de deliberação política cibernética, a internet por si só não é capaz de promover nenhuma transformação efetiva. Um ambiente informativo, formado por cidadão críticos, só será possível se houver interesse discursivo efetivo. E esse interesse ainda parece distante ou muito pulverizado.

Informação sem sentido

Realizando a leitura dos textos usados em aula para a confecção deste trabalho, não pude deixar de lembrar, a todo momento, todo o tempo que demorei para começar, de fato, o trabalho. Durante este período, estive exposto a todo tipo de informação, vindo dos mais diversos meios, mas, principalmente, da Internet. Uma quantidade exponencial de informação, mas que não teve grande ajuda para o que estou escrevendo agora.

Se o projeto da enciclopédia mais recente, já modificado daquele objetivo original de reunir e organizar todas as informações produzidas, pretendia dar chaves de sentido e compressão à nossa contemporaneidade, a Internet, com toda a sua interatividade atual, tem quase uma característica utópica pretendida pelas primeiras enciclopédias, mas de um modo um tanto quanto mal sucedido.

Ao dar livre acesso à quase todo tipo de conteúdo possível e também à abertura de todo este conteúdo para a própria criação dos usuários, a Internet acaba sendo, ao mesmo tempo, mocinho e bandido. De fato, o livre acesso à informações que antes eram extremamente difíceis de se encontar é uma maravilha do mundo moderno. De outro lado, o usuário se vê diante de uma quantidade tão grandiosa de informações que, para filtrar aquilo que realmente interessa e tem valor, ele necessita de uma capacidade de seleção fora do humanamente possível. O que acontece, na maioria das vezes, é que não haja seleção alguma, e que tudo atinja o usuário de modo desconexo.

Não consigo me sentir muito otimista em relação a tal da interatividade e da “livre criação” no ambiente virtual. Mais uma vez aí, é exigida a filtragem e a seleção pelo usuário. O que se percebe é que, ao contrário da produção de um conteúdo cada vez mais emancipador (no caráter iluminista da coisa), a web interativa é muito mais uma fábrica de superexposição de egos, de um “querer se mostrar ao mundo”, bem mais freqüente do que a troca e a criação de idéias.

O jornalismo, que não podia ficar de fora dessa lógica, acaba repetindo o mesmo processo. Os grandes portais de notícia parecem levar a sério o lema all the news that’s fit to print, só que a enésima potência. As páginas iniciais destes sites são de uma hiperatividade esquizofrênica, com manchetes a respeito de qualquer coisa por todos os lados. Fica difícil perceber o que é que os editores decidiram que seria o mais importante a ser noticiado. As notícias se acumulam e se amontoam umas as outras, e esta quantidade não significa necessariamente uma produção em excesso de novo conteúdo. As histórias aparecem repetidas vezes, com acréscimos de detalhes, e todas elas, em todos os sites, parecem ter sido escritas pela mesma pessoa. Como tal caminho já foi traçado e ele não tem volta, o que se torna necessário cada vez mais é a capacidade de seleção e filtragem, que exige algo não muito em voga hoje em dia: escolher algumas coisas e abrir mão de muitas outras.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O lado negro do Google

Apesar de poder reunir daqui a algum tempo todos os documentos já escritos, site de buscas traz a escória da humanidade em 0,26 segundos


Diariamente, recebemos diversas informações de todos os meios possíveis. A profusão desse material e a rapidez como isso tem se imposto no cotidiano das pessoas põe em xeque até que ponto documentos, como livros, jornais e revistas, sobreviverão. O Google, muito além de ser uma ferramenta que traz esse tipo de informação, mostra também em seus resultados coisas absurdas.


Em uma rápida pesquisa por pedofilia, é possível encontrar, em 0,26 segundos, quase 4 milhões de links como resultado. Antes da web, para se ter acesso ao conteúdo de jornais ou revistas, era preciso ir à banca comprar o seu, ou fazer a assinatura. Depois da internet, podemos acessar o que quiseremos com um simples clicar do mouse.


Isso passa a ser perigoso quando crianças passam a ter acesso sem nenhum tipo de censura ao conteúdo da rede. Fora que há pessoas em todo o mundo mal intencionadas que postam absurdos em locais nos quais é praticamente impossível haver algum tipo de controle.
Portanto, apesar de termos acesso a um conteúdo quase infinito e que, teoricamente, nos emancipa, o Google é muito mais do que uma simples enciclopédia. Além de trazer os principais verbetes, organizados por relevância, ele traz também conteúdo impróprio, pornografia e crimes virtuais.


Com a possibilidade de escrever sem ser identificado na internet, os crimes ficam ainda mais simples, já que a polícia só teria como rastrear os IP`s (registros dos computadores) para punir o indivíduo. No entanto, aqueles que querem cometer crimes e ficarem impunes usam máquinas de lan houses e cafés.


Por isso, uma legislação mais dura à internet é fundamental para regularizá-la. Porque ela ainda é uma terra de ninguém e um local sem lei.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Do universo paralelo da internet e sua versão ilimitada

A internet é a reunião de informações sobre diversos assuntos, informações essas que acabam por confundir e em pouco esclarecer. Isso porque o problema não está especificamente no meio, a maior parte dele se encontra no usuário das informações encontradas, dados que poderiam ser transformados em conhecimento caso o leitor os soubesse usar.

Ainda falta ao homem a disciplina, a paciência e um minuto de escuridão diante à luz do conhecimento para refletir em meio a tantas janelas de informações. Se na enciclopédia de Diderot e D’Alembert a barreira a se superar era a sociedade, a Igreja e os conservadores, como é apresentado no texto do professor Antonio Hohlfeldt, “essa prática apresentava uma dupla novidade e desafio: de um lado quebrava o parâmetro das poucas obras anteriores, mas plenamente conhecidas e institucionalizadas”, hoje o entrave para o conhecimento é o próprio homem.

A mídia virtual não encontra tamanha censura como a enfrentada pelos iluministas, um controle que tentava suprimir formas intelectuais diferenciadas. A internet encontra facilidades por não ter uma legislação vigente que abrange todas suas formas e possibilidades. Esse novo mundo proposto pela geração tecnológica acaba se tornando uma faca de dois gumes, na qual o indivíduo deve saber aproveitar o que tem nas mãos, porém sem a segurança e garantia de autoridade e fonte que outrora havia sobre os meios do conhecimento.

O próprio Diderot colocou que “por todo lugar, o público tem grande disposição de acreditar naquilo que lhe é relatado contra aqueles que governam; mas esta disposição é a mesma nos países de liberdade e de servidão”.

Esse pensamento colocado sobre a ampla rede da web poderia trazer a idéia de que na verdade, o homem ainda tem a mesma disposição ao que lhe é divulgado, a amplitude da internet pode ser um fator agravante no que diz respeito ao acesso do homem a informações equivocadas, contudo não é fator determinante.

Afinal, da mesma forma que Diderot e D’Alembert lutaram para colocar sua obra a favor da sociedade, documentos os quais acabaram por se tornar institucionalizados e vendidos por editoras a preços estrondosos; a internet também conseguiu atingir o público com bem menos limitações por se tratar de um veiculo interessante ao mercado atual. Ela não vive uma luta contra a burocracia ou o governo. Os que vivem essa luta são os próprios burocratas e legisladores que tentam colocar em vigor uma forma de organizar a rede, algo distante de se concretizar.

As informações implantadas no hipertexto, nas publicações em blogs, sites e redes social são trabalho do próprio usuário, ele escreve conforme seu intuito e seu desejo e, diferente da enciclopédia original, não obedece a um ritmo ou padrão, nem busca superar um obstáculo da sociedade.

Trata-se de um mundo paralelo sem governantes e coordenadores. Não é uma várzea total, pois por ser exatamente um universo tão amplo é que, além de fugir ao controle de algo maior, também depende do homem a busca por informações nessa gama abrangente de dados, e então cabe a ele decidir a que se disporá ter acesso e ao seu filtro pessoal, no que ele irá acreditar e aceitar.

O assustador desse mundo paralelo é que a informação pode se perder na rede virtual, mas nunca sumir. Se antes a Igreja ou o governo podia queimar livros ou trancafiá-los em mosteiros, hoje não se pode apagar um link de forma definitiva, a informação estará sempre lá, mais distante, menos visível e menos acessível, porém existirá solidamente até onde se sabe desse universo virtual.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Paradigma de Cody Darnell

Gustavo Silva (06008768)

O garoto norte-americano de nove anos, Cody Darnell, de Springwood, Dakota do Norte, apostou com Mikey Darnell, seu primo de 17 anos, que conseguiria imprimir todo o conteúdo da Internet. Segundo o acordo dos dois jovens, se depois de alguns meses da data da impressão não fossem encontrados sites que não foram impressos Cody ganharia US$ 50.

Faz todo o sentido que a Internet e seus mecanismos sejam uma extensão do projeto enciclopedista. A compilação e a condensação de todo o saber humano ganhou traços mais destacados – em forma de bytes – e a idéia de referência cruzada, a novidade maior da Enciclopédia de d’Alembert e Diderot, em que verbetes poderiam remeter a outro verbete, ganhou o mundo virtual na forma dos links e do hipertexto.
Seria então a internet a versão definitiva da enciclopédia? Cody Darnell não deixa dúvidas de que algo está errado. Olga Pombo, em seu texto “Enciclopédia e Hipertexto”, identifica um dos sintomas: “essa condição ilimitada do hipertexto tem como efeito a desorientação, a sobrecarga, a banalização e a indiferenciação dos conteúdos veiculados”. Os excessos da internet transformam a mente, parafraseando a frase do personagem Irineu Funes, de Jorge Luis Borges, em uma lixeira – tal como a dos PCs, cheia de arquivos inúteis e desnecessários.
O hipertexto, que arrasta consigo problemas de credibilidade, legitimação, erro, engano, contra-informação (individual e institucional), sintetiza as dificuldades no momento da seleção do que é aproveitável ou não no mundo virtual. A Wikipedia, reconhecida como uma enciclopédia digital colaborativa, é o exemplo mais nítido dessa problemática, que é aplicável a todo e qualquer outro site dito informativo.
Mas não é só de desvantagens que vive a rede. As vantagens conseguem atrair adeptos da enciclopédia colaborativa na internet, como por exemplo, a relação espaço e custo, que obviamente permite maior conteúdo e a popularização dos assuntos tratados, já que os livros têm o limite do papel e custam caro para quem quiser pesquisar.
Além disso, a web permite certas facilidades. Não é mais necessário procurar em outro volume uma informação. Os links estão ali, basta clicar sobre a palavra que ela remete a uma nova página, com mais possibilidades de novos assuntos e assim por diante.
Como coloca Roberto Darton, a Enciclopédia foi um produto de seu tempo, da França de meados do século XVIII. A Internet, com sua rapidez, fluidez e volatilidade, também é um Zeitgeist da nossa era – o que, visto a partir do prisma das redes sociais, das salas de bate-papo, dos comunicadores instantâneos e de outros sites e programas contribuentes à mediocridade, mostra que os tempos do ‘ápice’ do projeto enciclopédico são tão claros quanto a cegueira branca de José Saramago.
Olga Pombo observa que a seletividade em meio aos bilhões, quiçá trilhões de hipertextos contidos na internet, só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do que é importante, de dispositivos subjectivos de determinação das boas e das más informações. Mas como diria um certo sábio, isto no ecsiste, e esperar que esse filtro se desenvolva em todos os usuários é tarefa para a eternidade – o garoto Cody Darnell e seu primo não me deixam mentir a respeito.

Fora do papel

No final da década passada surgia o Google, um despretensioso projeto de dois estudantes americanos da Faculdade de Stanford. Em menos de dez anos a empresa de fundo de quintal se tornou uma das maiores corporações do mundo. As infinitas possibilidades de busca se transformaram em infinitos dígitos na conta da empresa. A idéia inicial era oferecer um site de busca mais avançado, com uma melhor navegação e uma maior qualidade de ligações.

Com 23 anos de idade acompanhei de perto a transição e a consolidação do mundo virtual. É impossível negar as inúmeras vantagens e recursos que são oferecidos, por outro lado sites de busca como google também perpetuam a preguiça entre bilhões de pessoas que se sentem acomodadas com as informações que são oferecidas. Em primeiro lugar, grande parte das buscas nos leva para informações pouco confiáveis. Para piorar esse cenário, o que é errado ou pouco elaborado, é perpetuado como verdade por outros sites que usam a informação como referência. Um ciclo sem fim.

Crianças utilizam a ferramenta para os trabalhos escolares, jovens buscam uma resposta rápida para um trabalho da faculdade, copiar as respostas da internet, infelizmente é cada vez mais corriqueiro. Nem mesmo as teses de doutorado e mestrado estão isentas dessa realidade, pipocam casos de trabalhos acadêmicos que foram copiados através da internet. Jornalista sem mobilidade nas redações, pressionados pela rapidez e pelo imediatismo também são pautados pelos sites de buscas, como confiar na informação?

Irineu Funes, personagem de Funes, o Memorioso, tem a incrível capacidade de lembrar de todos os acontecimentos. Uma representação perfeita dos sites de busca, onde ambos compartilham a incapacidade de reflexão sobre os acontecimentos, tudo é muito superficial.

Nesse mundo de informações e transformações a velha enciclopédia foi devorada pelas novas tecnologias. A lembrança do tempo de escola, da busca por algum tema naquela série de livros faz parte do passado. Com a busca virtual ganhamos tempo, direcionamos nosso olhar na busca de um único objetivo, aquele termo preciso escrito entre aspas. No tempo da enciclopédia era comum errar alguma página e ler sobre um outro assunto, ler a informação da página seguinte. Esse hábito também existia na busca por alguma palavra no dicionário, prática que também está ficando para trás, hoje buscamos uma definição nas centenas de dicionários virtuais. No mundo moderno um dos grandes problemas da enciclopédia é sua defasagem em relação aos acontecimentos recentes, no mundo virtual as informações são atualizadas em tempo real.

Paulo Serra defende em Informação e Sentido a visão que a internet responderia a um projeto de construção da memória por meio da informação, ele argumenta que o início desse projeto aconteceu no século XVIII com o advento das enciclopédias, um projeto que buscava reunir os conhecimentos para transmiti-los para as gerações futuras.

Em O Google e o futuro do livro texto publicado no Caderno Mais (dia 29 de novembro) o professor da Collège de France, Roger Chartier discute essa transferência da informação e do conteúdo dos livros para o mundo digital. Processo que começou com os dicionários online e com as enciclopédias onlines (wikipedia) e que é consolidado com o novo projeto do Google, a criação de uma livraria digital paga o Google Editions.

O autor alerta para o rompimento das relações que em todas as culturas escritas anteriores, ligava estreitamente os objetos, os gêneros e os usos. No mundo digitalizado, o discurso não se inscreve mais nos objetos, algo que permitia que ele fosse classificado, hierarquizado e reconhecido em sua identidade própria. Esse foi o destino da velha enciclopédia e parece ser o futuro dos livros, jornais e revista.

João Pontes (06004171)

sábado, 5 de dezembro de 2009

UM MUNDO VIRTUAL DE CONHECIMENTO

Por Leandro de Jesus Gomes ( 06006492)

O ser humano sempre foi movido a conhecer e compreender novidades. Naturalmente, a incorporação no cotidiano de avanços tecnológicos fez com que houvesse atenção para este campo. Entender como atualmente se dá o processo de difusão do conhecimento através dos meios de comunicação é algo inquietante para acadêmicos.

Sabe-se que não é fácil compreender qualquer coisa que esteja ligada à tecnologia da informática, pois a velocidade com que surgem novidades é desafiadora para quem pretende entender os fenômenos a ela conectados.

A rede mundial de computadores – a internet - hoje em dia se tornou um meio no qual é possível criar, procurar, publicar, discutir e alterar conhecimentos, os quais podem ser inseridos em qualquer lugar do planeta.

Os conhecimentos humanos que eram organizados, ordenados e sistematizados em enciclopédias cederam lugar à multiplicidade, heterogeneidade e diversidade existentes na internet, embora dispostos de forma anárquica. Discutir se o hipertexto, reinante na web, é uma nova forma de enciclopédia é debater algo que parece consumado. Questionar se o excesso promove um esvaziamento de sentido ou a perda da memória é fazer previsões da mesma forma daqueles que trataram sobre o fim do rádio e da televisão. É de mais valia estudar até que ponto as informações difundidas na internet servem para difundir conhecimento, para ilustrar ou emancipar.

A rede de computadores é conhecida por ser democrática, mas também se pode vê-la como anárquica. E é nesse ponto que reside o maior questionamento à validade e credibilidade das informações nela transmitidas. Se antes, numa enciclopédia, a sistematização e o rigor, além é claro da clara identificação de quem compilava, eram critérios que valorizavam aquilo que se publicava, na internet, a autoria, a objetividade, a fidelidade de fatos e dados e a responsabilidade, quando existem, não são claros o suficiente.

A possibilidade de acesso à milhares de informações instantaneamente pode ser aquilo que Santo Isidoro no século VII via como “saber perfeito”. Em contrapartida, essa quantidade pode se tornar em pesado excesso. De acordo com Olga Pombo, “essa condição ilimitada tem como efeito a desorientação, a sobrecarga, a banalização e a indiferenciação dos conteúdos veiculados”. Ainda de acordo com Pombo, uma condição não seletiva, vista na web, “arrasta problemas de legitimação, erro, engano e contra-informação”.

A internet é uma ferramenta que pode ser utilizada para se chegar ao conhecimento. Ela sozinha não é o conhecimento. E também não é fácil chegar à ilustração se utiliza-lá somente. Diante da facilidade, podem-se encontrar armadilhas que afaste do descobrir e aprender. Parodiando o presidente Lula, nunca antes na história se viu um meio que pudesse contribuir tão massivamente para difusão da educação, cultura e do entretenimento. Mas para que se chegue a eles, é necessário que o navegante tenha uma capacidade de seleção muito boa, do contrário, pode receber falsos conhecimentos e ao invés de chegar à ilustração, retroceder para o obscurantismo.

“A seleção que é realizada automaticamente na web só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do que é importante, de dispositivos subjetivos de determinação das boas e das más informações. E, sem essas competências, sem essa arte de filtrar que ninguém sabe como se adquire e como se ensina, são inevitáveis a banalização e a indiferenciação”, disse Pombo.

Enquanto no Brasil a transmissão de conhecimento pelas vias comuns ainda engatinha, resta apenas aguardar quando todos brasileiros tiverem oportunidade de ter capacidade de crítica e seleção para chegar à emancipação pela web.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A internet e o excesso de luz

Como catalogar algo imaterial e constantemente mutável? Se esse era o desafio principal dos iluministas quando surgiram as primeiras iniciativas reunir o conhecimento humano nas chamadas enciclopédias, hoje com a consolidação da internet esse obstáculo parece ter sido eliminado. Isso porque se o que faltava antes eram os recursos para a constante renovação e acúmulo de informações de maneira física, através do papel, o armazenamento virtual hoje dispõe de um espaço infinito e facilmente alterável, assim como o acesso instantâneo a esse "acervo" de qualquer parte do mundo. Esse "limite ideal da enciclopédia" apontado por Olga Pombo em "Enciclopédia e Hipertexto, o Projeto", é a solução com que qualquer iluminista sonharia, mas ainda assim leva a novos obstáculos para sua realização plena.

A começar por sua própria democratização, o que a princípio seria um ponto positivo mas que também traz seus poréns. Da mesma forma que a internet oferece o livre acesso a (quase) qualquer informação, ela também permite que qualquer pessoa públique conteúdos nessa rede virtual e, da mesma maneira, que os altere. Essa pluralidade de fontes aumenta as possibilidades, mas também confunde. Vale dizer que o problema em relação à veracidade daquilo que se lê é anterior à internet, assim como o controle da informação que, assim como a concentração de riqueza, é anterior até mesmo ao capitalismo. A diferença é que se antes tal poder ficava restrito apenas a determinados grupos, e hoje a inserção de informações é possível para qualquer pessoa. Então o problema não é exatamente a distorção dessa memória, mas o excesso de informações que contribuem com ela. Como bem aponta Jean Braudillard, "estamos em um universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido". E assim como a clássica alegoria da caverna de Platão, parecemos viver hoje um momento pós-iluminista, uma transição de homens aprisionados na escuridão para seres livres a caminhar na luz, mas ainda com olhos desabituados a ela. Ou seja, a cegueira pelo excesso de luz, que Braudrillard traduz na "inflação da informação" e "deflação do sentido".

Dessa forma, Olga Pombo tem razão ao apontar a internet como o meio ideal para a concretização desse ideal iluminista, pois o hipertexto é de fato a ferramenta ideal para o arquivamento de informações, por seu espaço de armazenamento ilimitado e possibilidade de alteração constante. Porém, falta a seus usuários ainda a habilidade para lidar com tal. Com tamanho número de informações chegando aos seus computadores e se atualizando e frações de segundo, o homem de hoje precisa desenvolver sua capacidade para absorver e filtrar um volume de conhecimento praticamente impossível. Da mesma forma, ao mesmo tempo que a oferta de informações cresce, o tempo e a capacidade para apreende-las parece se reduzir constantemente. Assim, dezenas de novos conteúdos passam diariamente pelos olhos de um internauta, mas até que ponto isso é absorvido? E, também de forma negativa, esse excesso de velocidade faz com que as informações sejam reduzidas para otimizar o tempo, tornando os conteúdos pouco aprofundados e fazendo com que muito do que entra nessa rede virtual se perca entre páginas de internet na história.

Em contraponto, a possibilidade de contribuir com esse espaço fez com que crescesse muito, nos últimos anos, o hábito de se escrever. Desde a popularização dos blogs e redes sociais como orkut, facebook e etc, até a crescente contribuição de leitores em seus jornais e portais de notícia, que hoje disponibilizam espaços para comentários e contribuições com fotos e depoimentos sobre o que é publicado. Ainda assim, tais informações acabam carecendo de aprofundamento e reflexão, e ao final o que restam são opiniões repetidas e pouco aprofundadas sobre temas facilmente esquecidos. Será isso o que restará às próximas gerações como memória de nossa sociedade atual? O próprio twitter, microblog que restringe as publicações a 140 caracteres traduz muito bem essa tendência com sua popularização. Assim como o que se lê, o que se escreve não ultrapassa as três linhas de pensamento, e assim nossos livros de 700 páginas e anos de pesquisa dão lugar a opiniões instantâneas e levianas.

Outra preocupação é a constante atualização desses próprios mecanismos de armazenamento virtual. Por mais que a superação do palpável, do material, pareça ser necessária, a mudança desses meios e seu controle por terceiros elimina a garantia de uma conservação dessa memória. Afinal, por mais que todos possam contribuir com ela, quem a armazena e controla? Com o aumento do espaço de armazenamento virtual, a tendência é que cada vez menos o usuário conserve alguma informação em seu computador pessoal. Hoje já é possível ouvir música e assistir a vídeos e filmes em streaming, sem a necessidade de se possuir os arquivos em um hd próprio, assim como existem diversas ferramentas online de criação e armazenamento de textos, fotos e qualquer tipo de material. E como se garante a conservação e inalteração disso? E, do mesmo modo, para que fins tais informações serão utilizadas?

Por fim, mesmo que materializada em livros, a informação permanecerá sempre impalpável, e sua conversação plena ainda é um ideal distante. Seja em back-ups virtuais ou antigas escrituras, ela sempre estará sujeita a fatores externos, que variam de posse e uso até sua interpretação. Dessa forma, acredito que o maior desafio a ser superado para uma boa preservação de nossa memória atual é deseolver a habilidade para interpretá-la hoje. Treinar os olhos para lidar com esse "excesso de luz" e, por que não, selecionar parcelas, deixar de lado o excesso superficial alertado por Braudrillard, buscando aprofundar sentidos naquilo que se recebe mas não necessariamente absorve.

A Deflação do Sentido

Essa é apenas parte de um texto completo sobre a crise do jornalismo e a deflação do sentido. O texto na integra você baixa aqui

A Deflação do Sentido

“A crise é uma crise na consciência. Uma crise que não pode mais aceitar velhas normas, os velhos padrões, as antigas tradições. E, considerando que o mundo hoje, com toda miséria, conflito, brutalidade destrutiva, e por ai vai, o homem continua o mesmo de antes.” (Raymond Franz)

POR EDSON CASTRO

N

ão partilho cegamente a visão dos teóricos da "sociedade da informação" em que o conhecimento tem um caráter auto-formador e emancipatório e que tendem a pensar que mais informação levam, necessariamente, a um acréscimo de conhecimento. Mas mesmo assim, nego o valor de alguns seus estudos e afirmações.

Postman em sua teoria sobre a deflação do sentido critica a "explosão da informação", iniciada com a imprensa e com o seu auge com o computador, gerando um mundo onde não á uma orientação existencial definida, perdida no meio de valores, normas e verdades infinitas. Já Baudrillard, acredita que o problema está na relação entre o receptor e a informação, fazendo assim com que fujamos do sentido real da mesma e assim, não compreendermos o sentido que ela traz.

Todo esse processo criticado é simplesmente um dos efeitos da modernidade na humanidade, que, ao contrário de certos estudiosos, tende a evoluir e andar para frente. Nunca ouve um bom tempo onde as pessoas liam somente livros e dela extraiam o máximo de informação. Isso é puro e simples saudosismo irracional. Hoje basicamente qualquer um pode acessar um site com uma informação que antes estava limitava a um livro que acumulava poeira nas mãos de estudiosos que tinham acesso à obra. Parte do acervo de livros da USP, que deveria ser de livre acesso ao público, esta fechada somente aos professores e mestres da universidade.

Paulo Serra relembra em seu texto Informação e Sentido o sentido original de outro formato ameaçado de extinção tal como conhecemos, a enciclopédia:

“Ora, um dos objectivos centrais da Encyclopédie é, justamente, eliminar resolutamente a infinidade de pontos de vistas, reduzindo o conhecimento a limites comportáveis por cada ser humano - o que envolve, obviamente, a adopção relativamente arbitrária de um ponto de vista) e o apagamento da infinidade de todos os outros que também seria possível adoptar.”

Considero esse trecho simplesmente de um caráter retrogrado impressionante. Autores que realmente acreditam nesse valor, deveriam estar fadados a amargurar o esquecimento na história da humanidade. Ao meu ver, ele defende a história sendo escrita apenas por uma ponto de vista só, como foi feita até o século passado. Um mesmo ponto de vista que decidiu que a história do massacre nas ruas de Ruanda não deveria ser contada, ou que a batalha de Stanligrado não tinha tanta importância para a 2ª Guerra Mundial, e tantos outros fatos históricos apagados e diminuídos graças à concepção estúpida de que é necessário limitar o ponto de vista do ser humano e adotar arbitrariamente uma que seja melhor para todos. Para todos quem Paulo?. Se antes o mundo mal ouviu falar sobre o genocído que acontecia nas ruas de Ruanda, esse ano vimos a população do Irã falar ao vivo com o mundo via Twitter. Temos dados na Wikipédia, explicações, fotos e tudo mais que procurarmos lapidar na rede.

Com o uso da Wikipedia, criamos uma enciclopédia coletiva, livre de redatores e interesses privados. Os negativistas questionam: mas quem escreve essa enciclopédia? Ora, nós escrevemos. Aqueles que se interessam e vão atrás. Realmente, quantas pessoas você conhece que já fizeram isso? Essa iniciativa é única e a grande chance da história ser construída por aqueles que a vivem. O monopólio da informação ainda existe sim, mas ele não é tão gigante como era antes. Continua sim, grande e influente, mas pelo menos hoje, temos saída, temos pesquisa. O que a Globo diz sobre um assunto não é mais verdade garantida se você tiver o interesse de pesquisar e ir atrás. Não vivemos mais em uma realidade extraída das paginas de “O nome da Rosa” ou nas mãos criminosas da emissora que foi “Muito além do Cidadão Kane”. Se tudo isso for contra o principio da enciclopéd, que por favor esse principio se exploda. A Wikipedia agrada muito mais e, por mais que as pessoas não queriam aceitar, para quem se dedica, é fácil se informar muito mais.

Por que não nos atermos somente ao que Paulo Serra diz sobre a seletividade: “só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do que é importante”, ao invés de uma dedicação imensa ao negativismo desse sistema. E para adicionar, cito o que o colega de classe Victor Esteves brilhantemente escreveu sobre o tema:

“É fato que o excesso de luz pode cegar. Mas sem luz não há meio de se enxergar. É mais fácil colocar um óculos escuros para aprender a diferenciar as coisas amenizar as luzes fortes do que arrumar um sofisticadíssimo óculos infravermelho para enxergar no escuro. Mais informação, por si só, não garante nenhum desenvolvimento. Mas ao invés de maldizermos o excesso, é hora de nos preocuparmos em destacar o que é relevante, e de ensinar a quem não tem colírio a usar óculos escuros.”

Que abundância, meu irmão!

por Paula Cabral Gomes

Vivemos num período de abundância. Tudo que chega aos nossos olhos vem em quantidades impossíveis de serem digeridas dentro de um intervalo de tempo razoável e torna-se irrealizável o arquivamento para se verificar mais tarde.

Como Paulo Serra citou em Informação e Sentido, a fórmula de Baudrillard explica bem o que sofremos no século XXI: “estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido”.

Isso ocorre com a informação e aquela possível sensação inicial trazida pela internet, de que se teria mais conhecimento devido a maior quantidade de informações disponíveis, vem caindo por terra, pois, por experiência própria, afirmo que ainda não sei como selecionar os sites que devem ser checados primeiro e muito menos decifro rapidamente os mais confiáveis.

No que acreditar num mundo virtual que permite a expressão livre de “todos” (claro que esse todos tem limites)? A quais critérios recorrer para se fazer uma escolha que faça sentido?

Muito do que se encontra foi requentado do requentado do requentado de um site x e, como dizia minha avó, “quem conta um conto aumenta um ponto”, e o que chega até nós pode estar completamente distorcido. Logo deixo claro que não entrarei no mérito de discutir quem tem a verdade, até porque cada um tem seu modo de decifrar os códigos do mundo.

Também há o risco de perda de identidade, porque passamos a não saber mais “quem está falando” e perde-se todo e qualquer estilo de escrita. (De acordo com um amigo meu e o que ele discutiu em uma aula pesquisas atuais revelam que os meios digitais criam um novo estilo de escrita, com suas próprias regras bem definidas; ou seja, é uma aparente baderna que, na verdade, é organizada.) Além disso, já se criou uma dependência sem volta com relação aos computadores e ferramentas oferecidas. Quem, hoje em dia, vai pesquisar na Larousse ou na Barsa antes de utilizar o Google, também conhecido com Deus e “aquele que tudo sabe”.

Já que o Google sabe de tudo, deixamos para lá o poder de nossa memória e confiamos a ele essa função: recordar para viver, o que não é muito confiável, diga-se de passagem, até porque quantidade e a variedade são inumanas.

A perda de memória, para alguns (principalmente políticos nada confiáveis), é sinal de liberdade, pois assim se torna viável experimentar de tudo, já que não se sabe os resultados devido a um esquecimento do passado. Dessa forma, qualquer tentativa de eliminação da memória ou a limitação desta pode ser vista como criminosa. Mas isso quando se tem noção desse fato, pois, nos dias de hoje, é totalmente possível reconhecer esse “fenômeno”, porém não aqueles que o notam.

Os objetivos de se limitar a história podem ser decifrados nessas palavras de Diderot: “Com efeito, a finalidade de uma Enciclopédia é reunir os conhecimentos dispersos pela superfície da terra, expor o seu sistema geral aos homens com quem vivemos, e transmiti-lo aos homens que virão depois de nós; a fim de que os trabalhos dos séculos passados não tenham sido trabalhos inúteis para os séculos que se sucederão; que os nossos decendentes, tornando-se mais instruídos, se tornem ao mesmo tempo mais virtuosos e mais felizes, e que nós não morramos sem termos desmerecido do gênero humano.”

Assim, da mesma forma que acho péssima a idéia de se limitar aquilo que deve ser passado a diante, também me incomodo com a oferta de muitas opções, pois ambos, um pela seleção e outro pela abundância, impõem limites. Não vejo nos limites um problema quando se sabe que eles existem.

Sei que a discussão parece estranha, não há uma verdade absoluta, mas qual seria a graça se tivéssemos todas as respostas, se tudo fosse simplesmente uma escolha entre verdadeiro ou falso?

De acordo com a previsão de Diderot, no futuro, os homens se dividirão em duas classes: de um lado, os que lendo pouco e fazendo as suas descobertas, irão acrescentando novos volumes já existentes; e, do outro lado, a classe dos homens que, não descobrindo (e não se preocupando em descobrir) nada, “se ocuparão a folhear dia e noite esses volumes, e a separar aí o que eles julgarão digno de ser recolhido e conservado”.

É difícil saber o que está certo ou errado, pois cada caso necessita de uma solução diferente que pode estar na limitação ou na abundância. Um ou outro pode facilitar uma pesquisa, uma busca, uma resposta, por isso fica difícil para mim, concordar ou discordar de uma opinião, já que acredito que a generalização, em qualquer aspecto empobrece aquilo que se defende.

Não posso dizer, por exemplo, que o jornal é melhor que uma enciclopédia e vice-versa, pois cada um tem a sua função certa em determinados casos.

No texto de Paulo Serra, ele chama atenção para os tipos de informação que podemos encontrar. Há aquela que se dirige à curiosidade, que existe apenas para saciar o olhar inquieto, que sempre busca por novidades, mas que não se preocupa em absorver aquilo que é visto. Posso citar o Twitter, ótima forma de passar o tempo escrevendo, lendo e repassando “informações” que podem ser fundamentais como simples distração. Outro tipo é a informação que serve para divertir e agradar, que utiliza o recurso do choque e que dura exatamente o tempo do programa e acaba. Que tal usar como exemplo o Brasil Urgente, programa de Datena, apresentador sensacionalista, que por mais crítico que seja, torna-se apelativo muitas vezes.

Resumindo (o que não é tão legal assim): Muito do que encontramos e do que é produzido é instantâneo, no mesmo momento em que vemos, já acabou. São coisas consumidas na hora e que não surtem efeito. Aquilo que incomoda, não interessa, e o reflexo é mudar de canal ou parar de ler. Essa não é a fórmula certa para se prender um telespectador, um internauta. Todos sabem disso e é exatamente por esse motivo que as fórmulas da televisão e da internet não mudarão tão cedo, por mais opções que possamos encontrar. Afinal, porque mudarmos aquilo que está dando certo?

OBS: Não concordo com muitas coisas que escrevi, tento criar alternativas, como “boa” zineira, porém reconheço as dificuldades e a existência de fórmulas praticamente imutáveis.

O conhecimento coletivo

Por Alexandre Santos de Morais Matrícula 06008626

Catalogar a memória é algo que sempre foi feito através dos anos por meio das enciclopédias, que reúnem e organizam o conhecimento. Atualmente os buscadores virtuais, diferente das tradicionais enciclopédias, parecem se alimentar ininterruptamente das bases de informação e devolver tudo isso da maneira que o internauta solicitar.
Sem dúvida, a internet desempenha um importante papel da democratização da informação e a ela são atribuídos novos sistemas de comunicação, que se desenvolvem independentemente da pauta social, ou seja, do jornalismo das empresas de comunicação. O Google, em especial, faz um trabalho de referenciar a informação tal como uma enciclopédia e parece agregar tudo o que, em volume, a memória humana sequer sonha suportar. Retirar o conhecimento do indivíduo e situá-lo fora dele. Seria possível tal feito? Não precisaremos mais usar a memória, pois ela estará catalogada na internet pronta para ser usada de acordo com a demanda?
Em Portugal, por exemplo, o site de buscas mais requisitado é o sapo.pt e não o Google, e isso se dá pelo fato de que as referências em língua portuguesa nos sites de pesquisa são geralmente brasileiras. O sapo.pt é um buscador mais voltado para o conteúdo de Portugal. Assim, podemos concluir que até a disponibilidade dos assuntos na internet, pelo Google ao menos, pressupõe uma organização política da informação.
O grande problema está na concentração de conhecimento em um só ponto, e no efeito colateral desta imensa difusão de informações que é justamente o seu excesso, que não emancipa o indivíduo, mas o desorienta. Em especial, a postura adotada diante da internet a desconsidera como uma ferramenta e lhe dá um caráter superior de detentora dos conhecimentos. Os jornais, que antes eram o meio predominante de informação, hoje estão em crise por não darem meios alternativos de resposta ou interação com o conteúdo.
A questão que envolve a internet e jornalismo se dá pela razão de que os meios digitais ultrapassam o controle do conteúdo antes exercido pela mídia. O que se dava em um movimento vertical, hoje se desenvolve horizontalmente. Assim, quem antes era consumidor, passa a ser produtor de conteúdo. E nesse aspecto o Hipertexto se encaixa como uma espécie de construção do saber que se mostra em aberto, pois mais pessoas podem adicionar os dados que julgarem necessários a aquele tipo de informação.
Neste sentido, como enciclopédia, a internet pode cumprir muito bem a missão de receber os saberes de diversas fontes e condensá-los, porém, não pode substituir a capacidade humana de contextualizar os saberes, que são dados a partir de uma assimilação. E é assim que surgem as dificuldades em lidar com o bombardeamento, uma vez que a velocidade das informações independem do ritmo de internalização da notícia.
Portanto, é necessário perceber que o acesso aos fatos por meio da informação, independente da forma com a qual ela se dá, é produto de uma segunda visão deste fato, passível à visão de quem a produziu. Logo, o princípio para se entender a criação de uma memória coletiva, como uma enciclopédia, e entender o Hipertexto, é conferir a estes o caráter de serem obras da individualidade.

Não precisamos mais lembrar... Temos o Google!

Por Elisangela F. Silva


“Algumas coisas o homem não deve saber. Para todas as outras existe o Google”. Isto resume, de forma amadora e precária, a intenção do hipertexto e links de substituir os projetos dos enciclopedistas - de organizar, hierarquizar, relacionar e transmitir o conhecimento. A idéia em si não é ruim, apenas impossível. Sempre me pergunto, “que cargas d’águas, eles pensavam quando idealizaram o projeto de etiquetar o conhecimento?”. Teriam que ter mais vida que um gato, viver mais que Matusalém, afinal de contas, eles próprios se angustiaram em perceber que o projeto é tão complexo e infinito, quanto o universo e o conhecimento.

Que fique claro que trabalhos de catalogação foram, e continua sendo, importante para novas descobertas e manutenção do que já foi realizado. Os registros da informação por parte dos enciclopedistas não foram em vão (Que atire a primeira pedra quem nunca usou uma enciclopédia para descobrir algo ou verificar que se uma coisa tem relação com outra!).

Ao longo da história diversas linhas editoriais, políticas, econômicas e sociais foram criadas para explicar e registrar o conhecimento. Em todos os projetos a intenção era a mesma: realizar o sonho moderno de conservar e transmitir o máximo de memória possível, porém, os enciclopedistas confundiam conhecimento com informação. Nos exemplares (e mais tarde na internet) havia registro da informação, por meio dela é possível se chegar ao conhecimento, contudo o acréscimo de informação não acarreta necessariamente um acréscimo de conhecimento.

O acumulo de informação sem reflexão conduz à redução do conhecimento, uma vez que o não entrelaçamento entre as memórias adquiridas transforma os indivíduos em verdadeiros Funes – personagem de Jorge Luís Borges caracterizado por registrar e recordar tudo, porém não consegue distinguir o memorável e o desprezível.

Os meios de comunicação trazem consigo a intenção elaborada pelos enciclopedistas e apresentam a mesma positividade e os mesmo problemas. Na tentativa de informar o mais rápido possível, com o maior número de informação, a imprensa acabar por desinformar o interlocutor. A televisão e a internet despejam um conteúdo mesclado em que um fato histórico tem relação com a novela que por sua vez tem relação com um filme e assim por diante, misturando realidade cotidiana com uma realidade fabricada, ficcionalizada.

Refiro-me a internet e a televisão em especial porque são os meios em que esse processo está mais avanço, e consequentemente, mais visível. Na internet, a enciclopeditização da informação ganhou proporções inimagináveis, quer dizer, pensadas sim pelos primeiros enciclopedistas que acreditavam ser possível a racionalização da memória. Hoje um simples clique no mouse, permite que o interlocutor, ou leitor (como referir) pule diretamente para aquela outra referência, e assim por diante, num processo quase infinito de busca e cruzamento de informações aparentemente dispares ao primeiro olhar.

Possibilidades infinitas de ligações, links, assuntos em um tempo proporcionalmente pequeno. O Google faz isso, acumula informação e num simples “enter” páginas e mais páginas aparecem sobre o assunto e suas relações. As informações, assim como eram nas enciclopédias, estão ali para serem pesquisadas, cabe ao internauta interpretá-las e perceber os limites de sua pesquisa, caso contrário, uma informação sobre golfinhos, por exemplo, pode ir parar no passeio da Xuxa a um parque aquático.

A tecnologia, mais especificamente a informática, dá à sociedade a imortalidade tanto buscada, acumula a memória que há tanto tempo é perseguida. A máquina consegue atingir a quase perfeição no acumulo, registro, ligações e transmissão de informação. A memória é a força motora social. Para Nietzsche, ela é o poder social, que também nos separa dos outros animais e de si mesmo, Michel Foucault também afirma isso quando argumenta dizendo que o saber/conhecimento é uma forma de poder. A memória está estritamente ligada ao acumulo de conhecimento, é por meio dela que o homem tenta se tornar imortal fazer-se lembrar. Embora nossa mente guarde muita informação, não fomos “organizados” para isso, não superamos um computador ou o Google que possui uma infinidade de rede de relação entre assuntos. Somos limitados, o Google aparentemente não!

A idéia de disponibilizar o maior número de informação no site faz-se crer que todo o conhecimento mundial está a nosso alcance, na tela do computador. Esse pensamento faz surgir frases que refletem a abrangência do site: “o que vai acontecer, só Deus e o Google sabe”, “Deus sabe de tudo, está em todos os lugares, portanto Deus é o Google”, “Se não está no Google é porque não existe”.

É como inicio o texto, tudo que a humanidade precisa saber está no Google?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Aviso: texto descartável

Por Fabiana Nanô 05007458

Talvez pela data, um tanto tardia, meu “post” é publicado depois dos da maioria de meus colegas. Eu poderia tirar vantagem dessa posição privilegiada e “dialogar” com diversos textos “escritos” abaixo. A aparente natureza democrática da internet permitiria essa “conversa”. Mas a verdade é que, depois de ler seis ou setes páginas do blog, cansei. Minha mente já não processava mais tanta opinião, tanta informação. Se continuasse, eu não conseguiria produzir o meu próprio texto.
Tampouco conseguiria dialogar com os outros “posts”. Ao conhecer a opinião de todos os meus colegas, não conheci nenhuma. Ok, talvez uma ou outra tenha me chamado a atenção, mas porque eu já tinha feito uma prévia reflexão, fora do espaço da internet, sobre o assunto. O diálogo virtual é impossível. O blog é, por excelência, o espaço onde todos colocam suas opiniões e não se chega a lugar nenhum.
É infrutífero, contraproducente, desumano, saber tudo. A Internet, assim como a sua irmã mais velha Enciclopédia, não passam de ferramentas desumanas criadas por seres humanos. E qual a finalidade? No caso da enciclopédia, enquadrar todo o conhecimento em um espaço reservado e imutável? Tal projeto já nasce fracassado por vários motivos. Citarei dois. Em primeiro lugar, o conhecimento muda a todo momento. E, segundo, o fato de selecionar o que irá ou não para a enciclopédia indica um recorte, e não uma totalidade. (Na minha opinião, isso é ótimo, os recortes não são apenas necessários, mas vitais.) Diderot e D’Alembert conheciam estes problemas inerentes ao projeto da Encyclopédie, porém não deram o braço a torcer. Eram, antes de tudo, iluministas.
A internet, aparentemente, veio para preencher tais lacunas. O conhecimento guardado na rede atualiza-se em tempo real e pode ser visto e modificado (acrescentado) por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Repito: aparentemente. Pois, assim como a enciclopédia, a internet já mostra-se um fracasso neste aspecto.
Primeiramente, pela questão do próprio conhecimento. O internauta que entra na rede sem saber previamente o que procura acabará perdido, sem rumo, passando de um site para outro, lendo várias opiniões sem chegar a nenhuma, completamente esvaziado de sentido.
Existe, além disso, uma questão de caráter político e econômico: quem tem acesso à internet? Os miseráveis, os excluídos? Eles finalmente ganharam voz? Acredito que não. A rede é usada como mais um instrumento de concentração de poder. Engana-se quem acredita que Facebook, Twitter e Wikipédia são espaços democráticos. Pelo contrário, são muito bem controlados por corporações nada virtuais.
Além disso, tanto a enciclopédia quanto a internet foram criadas pelos e para os países ricos, detentores das tecnologias mais avançadas. A enciclopédia é filha do Iluminismo e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O projeto, apesar de ser fruto de escolhas feitas por homens de um dado contexto, se declarava universal. A internet, por sua vez, se diz democrática. Porém, é um espaço repleto de filtros e controlado por megacorporações norte-americanas, em sua maioria.
É preciso ser muito esperto para usar a rede virtual da maneira que melhor lhe convém. É um espaço pouco transformador que nunca vai substituir a conversa entre amigos, o olho no olho. O contato humano segue fundamental para a sobrevivência, assim como a memória imperfeita segue essencial para a construção do sentido.
Poderia, agora, transportar o debate sobre a contenção do conhecimento para o jornalismo e criticar o excesso de informação que nos leva a não refletir. De fato, não refletimos. “O que fazer?”, é a pergunta que me vem à cabeça. Infelizmente, ainda não tenho resposta.
Por isso, agora me contento em publicar esse texto, sabendo que, quando for postado, será mais uma opinião no meio de outras tantas. O que, antes, era uma opinião minha, toda especial, vai virar uma opinião banal. Sei também que bastará um clique no meu mouse para que o artigo apareça no blog e, da mesma forma, um clique no mouse do professor para que seja deletado para sempre. Quanta banalidade! Que situação deplorável, ou melhor, descartável! (Ao menos resta a sensação de “missão cumprida”, de texto feito e entregue.)

O mundo a um clique

Li alguns dos artigos desse site antes de tentar bolar o meu próprio. Notei que grande parte deles traçava um paralelo entre os textos de Paulo Serra, Olga Pombo e Antonio Honfeldt, e terminava em análises sobre como a rede mundial de computadores se mostra como um ambicioso projeto de arquivar e fornecer todas as informações ao acesso de um clique -- o que pode não dar certo, visto que a quantidade de informações no ambiente online é tão grande e infinita que acaba por perder seu valor.

Paulo Serra, em Informação e sentido, aborda essa questão de forma clara: “Grande parte dos teorizadores da "sociedade da informação" - que partilha, com os iluministas, da crença otimista de que o conhecimento tem um caráter auto-formador e emancipatório -, tende a pensar que mais informação leva, necessariamente, a um acréscimo de conhecimento. No entanto, e a acreditarmos em autores como Postman e Baudrillard - que podemos considerar, neste aspecto, como paradigmáticos -, o acréscimo de informação não só não acarreta um acréscimo de conhecimento como conduz, mesmo, ao seu decréscimo; assim, e para citarmos a conhecida fórmula de Baudrillard, "estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido", em que a "inflação da informação" corresponde uma "deflação do sentido"”.

Jorge Luis Borges, no conto Funes, o memorioso, já prevê o que esse excesso pode trazer. O homem que possui a maior memória do mundo vive isolado; ele grava e recorda, mas nem sempre consegue pensar, por não ser capaz de selecionar o que deve ser lembrado e o que deve ser jogado fora.

Dez anos atrás, o termo internet era quase desconhecido para a grande maioria das pessoas. Hoje, ela se tornou uma ferramenta poderosa e mundialmente conhecida e utilizada, com uma coleção absurda de serviços e pesquisas, capaz de conectar pessoas de um lado a outro do globo em poucos segundos. Existe hoje um excesso de informação sobre praticamente qualquer assunto, onde quer que se possa acessar a internet. É como se cada um de nós tivesse acesso a um Funes, o Memorioso, que pudesse ser consultado quando bem quisermos. A rede mundial deixou de ser apenas uma longa coleção de páginas; hoje ela envolve quantidades incalculáveis de informação com dados, imagens, vídeos, músicas, textos, artigos, resumos, coletâneas, livros, blogs, enciclopédias virtuais --- para citar alguns dos recursos de que ela dispõe.

Das centenas de milhares de maneiras de compartilhar informação na internet, pego como exemplo uma parte significativa dela: os blogs (ou em estrito senso, um weblog, ou fotolog, ou blog, ou registro, ou diário on line). Os blogs têm uma história tão antiga quanto a internet. Em 1999, contavam-se algumas dezenas deles; hoje, são milhões.

A explicação desse aumento tão significativo foi dada pelo criador da primeira ferramenta que possibilitou seu sucesso: Andrew Smales, que lançou o pitas.com alguns meses antes do surgimento do blogger, em 1999. Disse Smales que “as pessoas gostam de se intrometer na vida alheia. Ler outros blogs é uma forma de voyerismo. Ter seu blog vistado, uma forma de exibicionismo”. Mas independente de entendermos a fórmula de seu sucesso, faz-se mister reconhece-lo como uma forma alternativa de jornalismo. Isso devido a uma razão histórica muito importante: nunca antes foi possível a uma só pessoa escrever, editar, diagramar e publicar seu próprio produto editorial – e ser lido por um público de milhares de pessoas – gastando entre nada e 100 dólares por ano. Nunca antes surgiram tantas pessoas dispostas a fazer jornalismo sem passar por uma redação. Claro que muito do que vemos como notícia - nessa mídia especificamente – não passa de tentativas infecundas de despejar verdades, crendices e valores sem fazer jornalismo de verdade. Ou seja, sem apurar, sem checar, sem avaliar. Mas existe, para nossa sorte, muita gente fazendo jornalismo. E bom jornalismo.

Quanto mais segmentado e mais específico, possivelmente melhor será a cobertura de determinado fato, e mais pontos esse blog vai ganhar em relação à concorrência de jornais e revistas, por exemplo. A verdade é que se os veículos de comunicação e os jornalistas mudarem a maneira de produzir as histórias e trouxerem o leitor não para a confortável situação de receptor de seus conteúdos, mas de co-partícipe de seus esforços jornalísticos, poderão informar melhor.

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O jornalista Matt Welch, em artigo para a Columbia Journalism Review, afirma que cada novo fenômeno no mundo das publicações é precedido por um grande avanço na tecnologia de impressão. A Renascença, desse ponto de vista, garantiu os tipos móveis de Guttenberg (com isso, a Bíblia foi impressa em larga escala). Formas mais baratas de papel de imprensa são precursoras do jornalismo popular de Pulitzer e Hearst. Pode-se dizer que o hipertexto seria o sonho dos criadores da enciclopédia francesa de 1750?

A idéia dos pensadores iluministas Diderot e D’Alembert era não só reunir todo o conhecimento da humanidade em uma mídia impressa, mas também catalogá-lo segundo critérios científicos. A enciclopédia dos iluministas encontrou diversos obstáculos, entre eles a dificuldade para atualizá-la, uma vez que era um processo bastante dispendioso realizar novas pesquisas e novas edições periodicamente. Além disso, havia um lapso significativo de tempo entre a pesquisa da informação e sua consulta, ou seja, parte das informações inevitavelmente se desatualizaria. Com a revolução tecnológica vivida na segunda metade do século XX, o antigo projeto dos enciclopedistas do Iluminismo ganhou novo fôlego.

A grande vantagem da internet é a falta de fronteiras, é o espaço infinito disponível nessa mídia. O hipertexto, ou seja, o reenvio virtual entre todos os conceitos e endereços dos servidores de internet do mundo, é ilimitado. Cada palavra e cada conteúdo pode estar interligado a milhares de outros, e só o que precisamos fazer é dar mais um click na tela.

No texto “Enciclopédia e Hipertexto, O Projeto”, Olga Pombo defende que o hipertexto “é o limite ideal da enciclopédia, isto é, a de que a relação entre as diferentes formas de organização da totalidade do patrimônio cognitivo de uma época (enciclopédia) e as técnicas de reenvio virtual entre todos os conceitos ou todos os endereços conservados nos servidores de todo o mundo (hipertexto) é mais fundamental do que aparece de forma imediata”. O hipertexto desafia o ideal textual e renova as medidas antiquadas, mas gera desorientação, sobrecarga, banalização e indiferenciação dos conteúdos vinculados, o que expõe problemas de legitimação e credibilidade. Afinal, como podemos confiar no que lemos na internet, se qualquer pessoa no mundo pode ser responsável por aquele conteúdo?



por Thais Cortez