quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Aviso: texto descartável

Por Fabiana Nanô 05007458

Talvez pela data, um tanto tardia, meu “post” é publicado depois dos da maioria de meus colegas. Eu poderia tirar vantagem dessa posição privilegiada e “dialogar” com diversos textos “escritos” abaixo. A aparente natureza democrática da internet permitiria essa “conversa”. Mas a verdade é que, depois de ler seis ou setes páginas do blog, cansei. Minha mente já não processava mais tanta opinião, tanta informação. Se continuasse, eu não conseguiria produzir o meu próprio texto.
Tampouco conseguiria dialogar com os outros “posts”. Ao conhecer a opinião de todos os meus colegas, não conheci nenhuma. Ok, talvez uma ou outra tenha me chamado a atenção, mas porque eu já tinha feito uma prévia reflexão, fora do espaço da internet, sobre o assunto. O diálogo virtual é impossível. O blog é, por excelência, o espaço onde todos colocam suas opiniões e não se chega a lugar nenhum.
É infrutífero, contraproducente, desumano, saber tudo. A Internet, assim como a sua irmã mais velha Enciclopédia, não passam de ferramentas desumanas criadas por seres humanos. E qual a finalidade? No caso da enciclopédia, enquadrar todo o conhecimento em um espaço reservado e imutável? Tal projeto já nasce fracassado por vários motivos. Citarei dois. Em primeiro lugar, o conhecimento muda a todo momento. E, segundo, o fato de selecionar o que irá ou não para a enciclopédia indica um recorte, e não uma totalidade. (Na minha opinião, isso é ótimo, os recortes não são apenas necessários, mas vitais.) Diderot e D’Alembert conheciam estes problemas inerentes ao projeto da Encyclopédie, porém não deram o braço a torcer. Eram, antes de tudo, iluministas.
A internet, aparentemente, veio para preencher tais lacunas. O conhecimento guardado na rede atualiza-se em tempo real e pode ser visto e modificado (acrescentado) por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Repito: aparentemente. Pois, assim como a enciclopédia, a internet já mostra-se um fracasso neste aspecto.
Primeiramente, pela questão do próprio conhecimento. O internauta que entra na rede sem saber previamente o que procura acabará perdido, sem rumo, passando de um site para outro, lendo várias opiniões sem chegar a nenhuma, completamente esvaziado de sentido.
Existe, além disso, uma questão de caráter político e econômico: quem tem acesso à internet? Os miseráveis, os excluídos? Eles finalmente ganharam voz? Acredito que não. A rede é usada como mais um instrumento de concentração de poder. Engana-se quem acredita que Facebook, Twitter e Wikipédia são espaços democráticos. Pelo contrário, são muito bem controlados por corporações nada virtuais.
Além disso, tanto a enciclopédia quanto a internet foram criadas pelos e para os países ricos, detentores das tecnologias mais avançadas. A enciclopédia é filha do Iluminismo e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O projeto, apesar de ser fruto de escolhas feitas por homens de um dado contexto, se declarava universal. A internet, por sua vez, se diz democrática. Porém, é um espaço repleto de filtros e controlado por megacorporações norte-americanas, em sua maioria.
É preciso ser muito esperto para usar a rede virtual da maneira que melhor lhe convém. É um espaço pouco transformador que nunca vai substituir a conversa entre amigos, o olho no olho. O contato humano segue fundamental para a sobrevivência, assim como a memória imperfeita segue essencial para a construção do sentido.
Poderia, agora, transportar o debate sobre a contenção do conhecimento para o jornalismo e criticar o excesso de informação que nos leva a não refletir. De fato, não refletimos. “O que fazer?”, é a pergunta que me vem à cabeça. Infelizmente, ainda não tenho resposta.
Por isso, agora me contento em publicar esse texto, sabendo que, quando for postado, será mais uma opinião no meio de outras tantas. O que, antes, era uma opinião minha, toda especial, vai virar uma opinião banal. Sei também que bastará um clique no meu mouse para que o artigo apareça no blog e, da mesma forma, um clique no mouse do professor para que seja deletado para sempre. Quanta banalidade! Que situação deplorável, ou melhor, descartável! (Ao menos resta a sensação de “missão cumprida”, de texto feito e entregue.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário