sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Deflação do Sentido

Essa é apenas parte de um texto completo sobre a crise do jornalismo e a deflação do sentido. O texto na integra você baixa aqui

A Deflação do Sentido

“A crise é uma crise na consciência. Uma crise que não pode mais aceitar velhas normas, os velhos padrões, as antigas tradições. E, considerando que o mundo hoje, com toda miséria, conflito, brutalidade destrutiva, e por ai vai, o homem continua o mesmo de antes.” (Raymond Franz)

POR EDSON CASTRO

N

ão partilho cegamente a visão dos teóricos da "sociedade da informação" em que o conhecimento tem um caráter auto-formador e emancipatório e que tendem a pensar que mais informação levam, necessariamente, a um acréscimo de conhecimento. Mas mesmo assim, nego o valor de alguns seus estudos e afirmações.

Postman em sua teoria sobre a deflação do sentido critica a "explosão da informação", iniciada com a imprensa e com o seu auge com o computador, gerando um mundo onde não á uma orientação existencial definida, perdida no meio de valores, normas e verdades infinitas. Já Baudrillard, acredita que o problema está na relação entre o receptor e a informação, fazendo assim com que fujamos do sentido real da mesma e assim, não compreendermos o sentido que ela traz.

Todo esse processo criticado é simplesmente um dos efeitos da modernidade na humanidade, que, ao contrário de certos estudiosos, tende a evoluir e andar para frente. Nunca ouve um bom tempo onde as pessoas liam somente livros e dela extraiam o máximo de informação. Isso é puro e simples saudosismo irracional. Hoje basicamente qualquer um pode acessar um site com uma informação que antes estava limitava a um livro que acumulava poeira nas mãos de estudiosos que tinham acesso à obra. Parte do acervo de livros da USP, que deveria ser de livre acesso ao público, esta fechada somente aos professores e mestres da universidade.

Paulo Serra relembra em seu texto Informação e Sentido o sentido original de outro formato ameaçado de extinção tal como conhecemos, a enciclopédia:

“Ora, um dos objectivos centrais da Encyclopédie é, justamente, eliminar resolutamente a infinidade de pontos de vistas, reduzindo o conhecimento a limites comportáveis por cada ser humano - o que envolve, obviamente, a adopção relativamente arbitrária de um ponto de vista) e o apagamento da infinidade de todos os outros que também seria possível adoptar.”

Considero esse trecho simplesmente de um caráter retrogrado impressionante. Autores que realmente acreditam nesse valor, deveriam estar fadados a amargurar o esquecimento na história da humanidade. Ao meu ver, ele defende a história sendo escrita apenas por uma ponto de vista só, como foi feita até o século passado. Um mesmo ponto de vista que decidiu que a história do massacre nas ruas de Ruanda não deveria ser contada, ou que a batalha de Stanligrado não tinha tanta importância para a 2ª Guerra Mundial, e tantos outros fatos históricos apagados e diminuídos graças à concepção estúpida de que é necessário limitar o ponto de vista do ser humano e adotar arbitrariamente uma que seja melhor para todos. Para todos quem Paulo?. Se antes o mundo mal ouviu falar sobre o genocído que acontecia nas ruas de Ruanda, esse ano vimos a população do Irã falar ao vivo com o mundo via Twitter. Temos dados na Wikipédia, explicações, fotos e tudo mais que procurarmos lapidar na rede.

Com o uso da Wikipedia, criamos uma enciclopédia coletiva, livre de redatores e interesses privados. Os negativistas questionam: mas quem escreve essa enciclopédia? Ora, nós escrevemos. Aqueles que se interessam e vão atrás. Realmente, quantas pessoas você conhece que já fizeram isso? Essa iniciativa é única e a grande chance da história ser construída por aqueles que a vivem. O monopólio da informação ainda existe sim, mas ele não é tão gigante como era antes. Continua sim, grande e influente, mas pelo menos hoje, temos saída, temos pesquisa. O que a Globo diz sobre um assunto não é mais verdade garantida se você tiver o interesse de pesquisar e ir atrás. Não vivemos mais em uma realidade extraída das paginas de “O nome da Rosa” ou nas mãos criminosas da emissora que foi “Muito além do Cidadão Kane”. Se tudo isso for contra o principio da enciclopéd, que por favor esse principio se exploda. A Wikipedia agrada muito mais e, por mais que as pessoas não queriam aceitar, para quem se dedica, é fácil se informar muito mais.

Por que não nos atermos somente ao que Paulo Serra diz sobre a seletividade: “só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do que é importante”, ao invés de uma dedicação imensa ao negativismo desse sistema. E para adicionar, cito o que o colega de classe Victor Esteves brilhantemente escreveu sobre o tema:

“É fato que o excesso de luz pode cegar. Mas sem luz não há meio de se enxergar. É mais fácil colocar um óculos escuros para aprender a diferenciar as coisas amenizar as luzes fortes do que arrumar um sofisticadíssimo óculos infravermelho para enxergar no escuro. Mais informação, por si só, não garante nenhum desenvolvimento. Mas ao invés de maldizermos o excesso, é hora de nos preocuparmos em destacar o que é relevante, e de ensinar a quem não tem colírio a usar óculos escuros.”

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