segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Paradigma de Cody Darnell

Gustavo Silva (06008768)

O garoto norte-americano de nove anos, Cody Darnell, de Springwood, Dakota do Norte, apostou com Mikey Darnell, seu primo de 17 anos, que conseguiria imprimir todo o conteúdo da Internet. Segundo o acordo dos dois jovens, se depois de alguns meses da data da impressão não fossem encontrados sites que não foram impressos Cody ganharia US$ 50.

Faz todo o sentido que a Internet e seus mecanismos sejam uma extensão do projeto enciclopedista. A compilação e a condensação de todo o saber humano ganhou traços mais destacados – em forma de bytes – e a idéia de referência cruzada, a novidade maior da Enciclopédia de d’Alembert e Diderot, em que verbetes poderiam remeter a outro verbete, ganhou o mundo virtual na forma dos links e do hipertexto.
Seria então a internet a versão definitiva da enciclopédia? Cody Darnell não deixa dúvidas de que algo está errado. Olga Pombo, em seu texto “Enciclopédia e Hipertexto”, identifica um dos sintomas: “essa condição ilimitada do hipertexto tem como efeito a desorientação, a sobrecarga, a banalização e a indiferenciação dos conteúdos veiculados”. Os excessos da internet transformam a mente, parafraseando a frase do personagem Irineu Funes, de Jorge Luis Borges, em uma lixeira – tal como a dos PCs, cheia de arquivos inúteis e desnecessários.
O hipertexto, que arrasta consigo problemas de credibilidade, legitimação, erro, engano, contra-informação (individual e institucional), sintetiza as dificuldades no momento da seleção do que é aproveitável ou não no mundo virtual. A Wikipedia, reconhecida como uma enciclopédia digital colaborativa, é o exemplo mais nítido dessa problemática, que é aplicável a todo e qualquer outro site dito informativo.
Mas não é só de desvantagens que vive a rede. As vantagens conseguem atrair adeptos da enciclopédia colaborativa na internet, como por exemplo, a relação espaço e custo, que obviamente permite maior conteúdo e a popularização dos assuntos tratados, já que os livros têm o limite do papel e custam caro para quem quiser pesquisar.
Além disso, a web permite certas facilidades. Não é mais necessário procurar em outro volume uma informação. Os links estão ali, basta clicar sobre a palavra que ela remete a uma nova página, com mais possibilidades de novos assuntos e assim por diante.
Como coloca Roberto Darton, a Enciclopédia foi um produto de seu tempo, da França de meados do século XVIII. A Internet, com sua rapidez, fluidez e volatilidade, também é um Zeitgeist da nossa era – o que, visto a partir do prisma das redes sociais, das salas de bate-papo, dos comunicadores instantâneos e de outros sites e programas contribuentes à mediocridade, mostra que os tempos do ‘ápice’ do projeto enciclopédico são tão claros quanto a cegueira branca de José Saramago.
Olga Pombo observa que a seletividade em meio aos bilhões, quiçá trilhões de hipertextos contidos na internet, só funciona na medida em que o leitor é detentor de competências críticas de discriminação do que é importante, de dispositivos subjectivos de determinação das boas e das más informações. Mas como diria um certo sábio, isto no ecsiste, e esperar que esse filtro se desenvolva em todos os usuários é tarefa para a eternidade – o garoto Cody Darnell e seu primo não me deixam mentir a respeito.

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