sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Não precisamos mais lembrar... Temos o Google!

Por Elisangela F. Silva


“Algumas coisas o homem não deve saber. Para todas as outras existe o Google”. Isto resume, de forma amadora e precária, a intenção do hipertexto e links de substituir os projetos dos enciclopedistas - de organizar, hierarquizar, relacionar e transmitir o conhecimento. A idéia em si não é ruim, apenas impossível. Sempre me pergunto, “que cargas d’águas, eles pensavam quando idealizaram o projeto de etiquetar o conhecimento?”. Teriam que ter mais vida que um gato, viver mais que Matusalém, afinal de contas, eles próprios se angustiaram em perceber que o projeto é tão complexo e infinito, quanto o universo e o conhecimento.

Que fique claro que trabalhos de catalogação foram, e continua sendo, importante para novas descobertas e manutenção do que já foi realizado. Os registros da informação por parte dos enciclopedistas não foram em vão (Que atire a primeira pedra quem nunca usou uma enciclopédia para descobrir algo ou verificar que se uma coisa tem relação com outra!).

Ao longo da história diversas linhas editoriais, políticas, econômicas e sociais foram criadas para explicar e registrar o conhecimento. Em todos os projetos a intenção era a mesma: realizar o sonho moderno de conservar e transmitir o máximo de memória possível, porém, os enciclopedistas confundiam conhecimento com informação. Nos exemplares (e mais tarde na internet) havia registro da informação, por meio dela é possível se chegar ao conhecimento, contudo o acréscimo de informação não acarreta necessariamente um acréscimo de conhecimento.

O acumulo de informação sem reflexão conduz à redução do conhecimento, uma vez que o não entrelaçamento entre as memórias adquiridas transforma os indivíduos em verdadeiros Funes – personagem de Jorge Luís Borges caracterizado por registrar e recordar tudo, porém não consegue distinguir o memorável e o desprezível.

Os meios de comunicação trazem consigo a intenção elaborada pelos enciclopedistas e apresentam a mesma positividade e os mesmo problemas. Na tentativa de informar o mais rápido possível, com o maior número de informação, a imprensa acabar por desinformar o interlocutor. A televisão e a internet despejam um conteúdo mesclado em que um fato histórico tem relação com a novela que por sua vez tem relação com um filme e assim por diante, misturando realidade cotidiana com uma realidade fabricada, ficcionalizada.

Refiro-me a internet e a televisão em especial porque são os meios em que esse processo está mais avanço, e consequentemente, mais visível. Na internet, a enciclopeditização da informação ganhou proporções inimagináveis, quer dizer, pensadas sim pelos primeiros enciclopedistas que acreditavam ser possível a racionalização da memória. Hoje um simples clique no mouse, permite que o interlocutor, ou leitor (como referir) pule diretamente para aquela outra referência, e assim por diante, num processo quase infinito de busca e cruzamento de informações aparentemente dispares ao primeiro olhar.

Possibilidades infinitas de ligações, links, assuntos em um tempo proporcionalmente pequeno. O Google faz isso, acumula informação e num simples “enter” páginas e mais páginas aparecem sobre o assunto e suas relações. As informações, assim como eram nas enciclopédias, estão ali para serem pesquisadas, cabe ao internauta interpretá-las e perceber os limites de sua pesquisa, caso contrário, uma informação sobre golfinhos, por exemplo, pode ir parar no passeio da Xuxa a um parque aquático.

A tecnologia, mais especificamente a informática, dá à sociedade a imortalidade tanto buscada, acumula a memória que há tanto tempo é perseguida. A máquina consegue atingir a quase perfeição no acumulo, registro, ligações e transmissão de informação. A memória é a força motora social. Para Nietzsche, ela é o poder social, que também nos separa dos outros animais e de si mesmo, Michel Foucault também afirma isso quando argumenta dizendo que o saber/conhecimento é uma forma de poder. A memória está estritamente ligada ao acumulo de conhecimento, é por meio dela que o homem tenta se tornar imortal fazer-se lembrar. Embora nossa mente guarde muita informação, não fomos “organizados” para isso, não superamos um computador ou o Google que possui uma infinidade de rede de relação entre assuntos. Somos limitados, o Google aparentemente não!

A idéia de disponibilizar o maior número de informação no site faz-se crer que todo o conhecimento mundial está a nosso alcance, na tela do computador. Esse pensamento faz surgir frases que refletem a abrangência do site: “o que vai acontecer, só Deus e o Google sabe”, “Deus sabe de tudo, está em todos os lugares, portanto Deus é o Google”, “Se não está no Google é porque não existe”.

É como inicio o texto, tudo que a humanidade precisa saber está no Google?

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