terça-feira, 1 de dezembro de 2009

“Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair’’

Luciana Barbosa (05000495)

Borges consegue criar em seus contos ótimas analogias. “Funes, o memorioso”, mesmo que passado no final do século 19, pode ser perfeitamente usado para explicar a complexidade da vida nos dias de hoje.

Tempos intricados, onde, sufocados pelo excesso de informação, estamos sempre a esquecer o que vimos, ouvimos ou pensamos minutos atrás. Ireneo Funes, por outro lado, lembrava de tudo; tinha uma capacidade ilimitada de memória. Mas era incapaz de ter ideias geniais, ou compreender qualquer pensamento. Ele apenas guardava, não havia raciocínio por trás das lembranças.

Funes pode ser comparado à Internet: uma infindável memória, onde se coloca de tudo. Não se filtra nada; não há seleção da qualidade da informação e nem se discrimina sua origem. "Minha memória, senhor, é como um despejadouro de lixos".

Tal qual a memória de um computador, onde quase tudo se encontra indefinidamente registrado. E quando é preciso, corremos para nosso arquivo e procuramos, entre as tantas pastas, aquela informação que resolvemos guardar não em nossa própria memória, mas em nossa memória – ou HD - externa.

Segundo Funes, deveria haver um sistema capaz de dar um signo único para cada coisa, cada expressão, observada em cada momento preciso. Seus fatos eram limitados a uma memorização sem um real raciocínio, apenas o total e completo registro de tudo que acontecera ausente de distinções ou afastamentos.

Dizia, ainda, que antes do acidente "havia vivido como quem sonha: olhava sem ver, ouvia sem ouvir, esquecia-se de tudo, de quase tudo", tal qual Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, com sua simplicidade em o “Guardador de Rebanhos”.

O excesso de informação do mundo atual nos confunde. TV, rádio, jornais, Internet e o ritmo frenético da vida urbana se combinam numa tensa mistura que torna tudo fragmentado demais. A incessante mudança de contextos torna a realidade das informações e imagens praticamente impossível de assimilar tudo.

Entretanto, a Internet, sem dúvidas, é a que mais colabora para a nossa perda de memória. A Internet e suas incontáveis páginas de informação concentram-se nos anos recentes. É como se de imediato o tempo tivesse sido aniquilado, deixando-nos numa espécie de presente estendido. Tudo é para hoje, tudo é agora, é o Último Segundo.

Funes simplesmente não sabia o que fazer com tanta informação. Nem nós.

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