terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ode à Nostalgia?

Nathalia Sica (06007325)

Nostalgia descreve uma sensação de saudades de um tempo vivido, frequentemente idealizado e irreal. Nostalgia é um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida. O interessante sobre a nostalgia é que ela aumenta ao entrar em contato com sua causa e não diminui como o sentimento da saudade.

Wikipedia, 29.11.2009

Em um mundo onde quem fica sem luz não fica sem twitter, a metáfora de Jorge Luis Borges em Funes, o Memorioso cabe como uma luva. Seu ponto de vista é passado através de Irineu Funes, personagem que tem a capacidade de memorizar todos os fatos e armazenar todas as informações, mas sem refletir, hierarquizar a importância, ou simplesmente abstrair o desnecessário.

Nesse contexto é possível voltar aos tempos da enciclopédia, da máquina de escrever e do telegrama. Tempos onde a informação era, não pouca, mas mais sucinta, a velocidade entre produzi-la e repassá-la era de horas e não segundos, e as pessoas tinham tempo de “absorver” o conteúdo pretendido. O projeto da Enciclopédia, desenvolvido e idealizado por D'Alembert e Diderot adota o método “dicionário”, tem o objetivo de arquivar o conhecimento humano, eternizar memória e registrar a evolução e o desenvolvimento ideológicos do homem.

Obviamente que com a evolução da tecnologia e surgimento da internet, o estilo “enciclopédia” de informação caiu por terra, o que levou pensadores como Luis Borges e Paulo Serra a levantar certas questões. Paulo Serra afirma em “Informação e Sentido” que o excesso de informação pode funcionar de forma contrária ao seu objetivo. Para ele, o usuário da internet não consegue filtrar o que é relevante ou não, e deixa para os leitores a máxima: “Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido”.

A discussão do excesso de informação é na verdade uma crítica feroz à sua qualidade. Quem é que tem competência para repassar informações aos outros? É muito fácil sentir-se nostálgico à época aonde a informação vinha condensada em livros de capa dura, e não havia opinião, discussão e dúvida. Assim como a “desinformação” de todos os dias da internet tem seus seguidores fiéis, a informação de qualidade também não perdeu os seus. A mudança está na forma. A enciclopédia engloba a informação em sua forma mais lapidada, e a internet na mais bruta. É um novo modo de encarar o mundo, e a verdade é que a última “geração da enciclopédia” ainda não se acostumou.

Para quem sabe procurar, a informação de qualidade ainda está aqui. A diferença é que há mais opiniões, discussões e pontos de vista, e quem não se interessa, não é obrigado a ler, certo? Os bons autores continuam escrevendo livros, os grandes jornais continuam a publicar suas notícias, e querendo ou não, a evolução da informação não foi acompanhada pela evolução de quem procura, e talvez esteja aí o grande problema. Não se pode negar a revolução que a internet trouxe para o mundo, mesmo com seus poréns. Se o problema é a quantidade e a qualidade, a solução é saber selecionar. Em vez de contestar o excesso, é preciso educar. Negar o direito à internet é negar à sociedade o maior trunfo da democracia e liberdade de expressão já criado.

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