terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O sentido que falta a comunicação

Valter Hugo Muniz
Jornalismo Noturno
Matrícula:06000524


Durante a historia da humanidade, desde a materialização da razão, posteriormente chamada de ciência, o ser humano sempre buscou dentro de si respostas filosóficas primárias que explicassem concretamente (e satisfatoriamente) o porquê de estar no mundo.

Segundo o pensador francês Jean Paul Sartre "Ser homem é propender a ser Deus; ou, se preferirmos, o homem é fundamentalmente desejo de ser Deus".

Contudo, além de objetivos filosóficos, o homem sempre buscou também satisfazer o desejo de poder que também se manifesta nesse almejar ser Deus.

A informação materializada por meio da escrita, som e imagem e o conhecimento passível de ser adquirido por meio dela tornou-se logo uma forma privilegiada de obtenção e manutenção do poder.

Desde os gregos, romanos e passando principalmente pela Idade Média o conhecimento e principalmente a restrição para o acesso do mesmo era controlado de maneira tantas vezes repressiva.

Por meio de discursos religiosos, culturais e de aspecto “piramidal” mostrava-se claro que somente aqueles seres privilegiados de intelecto ou mesmo “abençoados” eram dotados do dom de transmitir a Verdade para os seus semelhantes.

Contudo, no Iluminismo essa matriz de conhecimento é modificada com o surgimento da Enciclopédia de Diderot, que tinha como principal objetivo evidenciar “a razão como fonte de conhecimento e não a revelação, como a Igreja Católica pretendia”.

Usando o empirismo como método, tendo como objetivo condensar e resumir todo o conhecimento instrumental essa tentativa de Diderot e D’Alembert de criar uma “memória desmedida” travou uma verdadeira batalha contra os paradigmas estabelecidos e perpetuados pela sociedade até então.

No estudo “O projeto da Enciclopédia e seus registros sobre o Jornalismo” o autor deixa explicito que os enciclopedistas estavam “mexendo com maribondos”, apontando assim a interdependência entre informação e poder, como explicita Robert Darmton em seu estudo “O grande massacre dos gatos”.

Contudo, mesmo diante desse ideal libertador e emancipador do conhecimento que, pela primeira vez, ganhava aspectos universais, o próprio processo de disponibilização do conhecimento se confrontou com problemas insolúveis pela incapacidade de se sustentar em seus próprios preceitos.

O primeiro grande problema foi manter consonantes a descoberta e elaboração do conhecimento com a atualização dos volumes enciclopédicos. “Planejada originalmente para 8 volumes” dois anos depois chegou-se à 17 volumes.

Outro problema foi determinar o modo como essas informações cientificas seriam organizadas, principalmente pela interligações e relações de interdependência entre elas, tentando ao mesmo tempo contemplar os mais variados pontos de vista e resumindo-os, “reduzindo o conhecimento a limites comportáveis para cada ser humano”.

Por fim um aspecto que diz muito a respeito do principal objetivo do conceito de informação: “Que tipo de informação merece ser reunida, divulgada aos contemporâneos e transmitidas aos homens do futuro?”, quem faria essa escolha editorial?

É aqui onde as contradições ganham maior dramaticidade pois, o surgimento da enciclopédia visava “desmonopolizar” o conhecimento, mas a escolha editorial do seu projeto teria preferências especificas, decisões cabíveis, segundo os seus criadores, aos homens letrados, elitizando e monopolizando novamente o conhecimento e consequentemente, dotando seus criadores/leitores de um privilegio por poderem utilizar os livros para leitura. (é preciso evidenciar que no final do século XIX o índice de analfabetismo era bem mais acentuado).


Sempre achei que ser jornalista era ser instrumento. Como o mediador que faz com que a mensagem seja materializada para o maior número de pessoas. Que as origens sociais do jornalismo fossem voltadas à promoção do bem comum da sociedade em que ele atua. Mas ela é herdeira do projeto enciclopédico, que mostrou que esses anseios altruístas foram suprimidos pela impossibilidade em si mesma da enciclopédia contemplar o conhecimento humano de maneira intrinsecamente imparcial.

Foi duro descobrir que o nascimento oficial da mídia queria, acima de tudo, oficializar mecanismos de controle da opinião pública. Criar um modo de representar a opinião do povo foi uma sentença de morte à diversidade de vozes. Como dizia Rosseau: a representação é um esvaziamento
." (escrito pós aula a respeito da enciclopédia)


Tendo como base as origens enciclopédias e partindo da premissa de que a necessidade de compilar o conhecimento, de manipular a própria existência, descende do anseio de divindade pelo ser humano, me pergunto, ainda mais no advento da minha graduação, qual o objetivo real da informação?

Chiara Lubich, fundadora do Projeto NetOne (http://www.net-one.org/), um projeto que tem como objetivo reunir profissionais da comunicação de todo o mundo para discutir os meios de comunicação a partir da ótica da fraternidade, disse no primeiro congresso mundial, realizado no ano 2000, em Castelgandolfo, cidade da região dos Castelos Romanos, na Itália que “a comunicação social tem a tarefa de unir pessoas e enriquecer as suas vidas”.

A ideia de Rosseau de que a representação esvazia o sentido e a riqueza das diferentes vozes da sociedade fica mais evidente quando olhamos para nossa contemporânea “Sociedade da Informação”

Seguindo os preceitos e conceitos do projeto enciclopédico, mas agora potencializados pelos modernos meios de comunicação, a produção e organização do conhecimento humano têm gerado muitos questionamentos que tornam bem atuais do estudioso francês Jean Baudrillard que diz: “estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido”.

Procurando responder interiormente esse questionamento percebi que o anseio desmedido de buscar o conhecimento torna a busca não só infinita, impossível, mas absorve a necessidade de encontrar sentido em si mesmo.

A raiz da informação, explicitada na citação de Chiara Lubich é justamente disponibilizar e socializar o conhecimento para permitir uma identificação comunitária entre os seres humanos.

Aqui o jornalismo, como também acontecia com os “letrados” que produziam a enciclopédia, passa a ser manipulador de um instrumento que é fonte de poder.
Também a representação da opinião pública e a linha editorial da informação na atualidade passam por esse crivo extremamente parcial. É uma escolha objetiva que apresenta o que é socialmente importante ou não ser divulgado.


“O jornalista é o ser dotado de talento que o torna capaz de materializar em linguagem o mundo que passa cotidianamente sobre os nossos olhos." (escrito após a aula sobre informação e sentido)


No jornalismo, como também na produção da enciclopédia no século XIX, a produção da informação – verdade, isto é, na escolha do que é socialmente importante conhecer, não existe um debate social.

A representação da opinião publica por meio da enciclopédia, herdada depois pela mídia retirou da sociedade o espírito de busca coletiva por respostas satisfatórias.

Essa concessão social que concedeu a mídia o papel de “Senhora da Verdade” faz hoje dos meios de comunicação não um instrumento de emancipação social, mas um mecanismo de conformidade, passividade e de condução política em direção a interesses específicos.

Também como aconteceu com os enciclopedistas, o conhecimento, a informação disponibilizada só tem utilidade se aquele que a usufrui possui capacidade intelectual de manipulá-la. Pelo contrário, tornas-se um emaranhado infinito de possibilidades que tem mais aspecto dispersivo que sintético.

Mesmo havendo uma enorme quantidade de possibilidades e acesso a informação, principalmente no período pós internet, novamente nos vemos com a necessidade de, se quisermos manipular esses meios, termos um conhecimento precedente sobre eles. “A informação só tem utilidade para quem está informado; para quem não está informado de nada serve procurar essa informação”.

É justamente aqui que se encruzam todos os aspectos da discussão: da impossibilidade de tornar a informação algo imparcial, da desvinculação da informação como forma de poder e da incapacidade de contemplar todo o conhecimento e em tudo o que se é “compilado” conseguir encontrar sentido.

Não basta um espaço virtual como a internet, onde os hyperlinks criam essas relações entre determinados conhecimentos, não basta o anseio de disponibilizá-los. É preciso dar sentido a informação, buscando contemplar as necessidades sociais atribuídas à representação da opinião publica pela mídia.

Organizar e disponibilizar a informação certamente será uma escolha objetiva, como é também decidir os rumos da nossa própria vida como seres humanos, diante de uma infinidade de escolhas. Porém, se nessas escolhas editorias (pessoais ou profissionais) o jornalista (hoje) e o enciclopedista (antes) busca cotidianamente um sentido social, comunitário, para apresentação e representação dessas necessidades ele pode produzir, ao menos de uma nova perspectiva, uma informação que estimule e não escravize a sociedade.

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