terça-feira, 1 de dezembro de 2009

“Os Funes do jornalismo”

Por Rodrigo Borges Delfim - 06004509

“Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido”, analisa Neil Postman no texto “Informação e sentido”, escrito por Paulo Serra.

É bem conhecida a teoria de que o esclarecimento iluminista – do qual a Enciclopédia deve sua origem – levado ao extremo, deu origem ao nazismo – justamente o país de ícones da música clássica, da Filosofia e das Ciências em geral.

O excesso de luz pode levar à cegueira, ao caos, à falta de sentido nas coisas. Claro, tal cegueira deve ser entendida no sentido da incapacidade de processar, a partir do que se vê, a imensa gama de informações disponíveis e com as quais as pessoas são bombardeadas diariamente. Um resultado possível desse “apagão” no cérebro é o que acontece com o personagem de Jorge Luis Borges, Mauricio Funes, que é dotado de um excelente memória, mas que não consegue relacionar, organizar e filtrar os dados presentes em seu cotidiano e sua mente.

Muitas vezes os próprios responsáveis por dar algum sentido ao caos de informação na imprensa – os jornalistas – fracassam nessa tarefa, tornando-se verdadeiros “Funes” do jornalismo. Um exemplo bem claro disso são os textos presentes nos jornais impressos e na Internet feitos a partir de despachos das agências de noticias. Dados incompletos, contraditórios e até mesmo conflitantes uns com os outros podem ser encontrados no mesmo texto.

É certo que, em alguns casos, eles traduzem o contexto de incerteza e de tragédia decorrente de um fato (uma tragédia natural, um acidente de avião, um incêndio em um grande edifício). Aqui, tal confusão pode ser relevada, dada a dimensão ainda difícil de mensurar da tragédia a ser relatada.

Mas esse problema de misturar “alhos e bugalhos” ocorre não só em relatos de tragédias, ms também quando pede-se uma análise de um determinado fato – pode ser política, ideológica, econômica, história, não importa. Na ânsia de se fazer um texto plural e abrangente, o responsável por redigi-lo mistura métodos de análise de pensamentos distintos de forma desordenada, sem delimitar qual é o ponto de referência, qual a base desse texto que pretende ser uma análise de um determinado fato. O resultado são verdadeiros “Frankensteins” que, a exemplo do personagem de Borges, não são capazes de esclarecer e nem ao mesmo informar coisa alguma.

Esse problema é mais presente na mídia do que se imagina. Na Internet essa confusão é mais comum, dado o caráter imediatista que possui. Mas mesmo jornais e revistas – que deveriam dar uma ordem e sentido mais eficazes e com maior critério do que é feito na Internet ao caos de informações – também caem na mesma armadilha. Pior para o leitor do texto, que começa a lê-lo na tentativa de entender um determinado assunto e acaba o texto tão ou mais confuso do que antes.

A cegueira, a síndorme de Funes dos jornalistas tem cura? Sim, também não se pode levar essa questão às últimas consequências e da à mesma um caráter de “fim da história” ou beco sem saída. Ela é muito mais um sintoma de que certos critérios devem ser revistos para se adequar a esses novos tempos.

Apenas para citar um dentre tantos, o furo é um desses critérios a serem reformulados – especialmente em tempos de twitter, onde em 140 toques pode ser dada um informação bombástica, como a morte de Michael Jackson. O furo de verdade não é dar a noticia antes da concorrência, mas sim uma informação exclusiva, apurada e obtida graças à competência da equipe daquele veículo. Sim, dar tal notícia antes da concorrência é melhor ainda, mas corre-se menos risco de o pretenso furo virar uma “barriga” daquelas que será lembrada com um fardo para a história daquele veículo de mídia por um bom tempo – em outras palavras, impede-se um vexame.

O jornalista tem uma responsabilidade cada vez maior em organizar tais informações, e precisa fazer jus a ela, apesar de toda cobrança por tempo e dar a informação antes do concorrente. Ou seja, ele próprio, mais do que qualquer outro profissional, precisa se policiar quanto aos critérios de análise e fontes de informação usadas no texto.

Tudo isso para não cair nas armadilhas e tentações de confundir alhos com bugalhos e inserir informações inúteis nos frutos de seu trabalho – os textos e análises jornalísticas. Assim, será possível ao menos minimizar o problema exposto por Postman e dar cada vez mais sentido às informações.

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