segunda-feira, 22 de junho de 2009

1929 x 2008

A Grande Depressão econômica que se espalhou pelo mundo na década de 1930 pôde ser considerada mais uma crise cíclica do capitalismo, embora tenha tido efeitos muito mais amplos que as anteriores. Atingiu o mundo inteiro de forma tão violenta que provocou uma desarticulação geral do sistema econômico capitalista.

A origem da crise foi encontrada nos Estados Unidos, que conheceram após a Primeira Guerra Mundial uma fase de imensa prosperidade nos negócios. O crescimento econômico, conhecido como Big Boom norte-americano, estava ocorrendo sob impulsos artificiais, baseando-se em frágeis alicerces que bruscamente se desfizeram.

Foram vários fatores geradores da crise, como:

1. Superprodução agrícola – A Europa, devastada pela guerra, estimulava a produção norte-americana pelas importações, mas, com a recuperação européia, elas foram reduzidas. Assim formou-se um excedente de produção agrícola nos EUA.

2. Diminuição do consumo – A indústria havia crescido muito, assim com os lucrais industriais. Entretanto, o poder aquisitivo da população não acompanhou o desenvolvimento. À medida que aumentava o número de indústrias, diminuía o mercado consumidor. Em pouco tempo, várias indústrias faliram.

3. Crack da bolsa de Nova Iorque – Ações da bolsa atingiram cotações altíssimas, muito maiores do que o crescimento real do capital das empresas. Quando elas faliram, os acionistas perceberam terem pago mais pelos títulos do que ele valiam e tentaram, então, vender as ações, provocando uma baixa vertiginosa no valor.

No dia 24 de outubro de 1929, conhecido como Quinta-feira Negra, a bolsa de valores de Nova Iorque sofreu a maior baixa da história. O crack da bolsa, como foi conhecido, foi o estopim da crise. Em três anos, apenas nos EUA, 4 mil bancos faliram, 14 milhões de pessoas ficaram desempregadas, os salários caíram 40% e a renda nacional foi reduzida em 50%. No mundo inteiro, foram mais de 40 milhões de desempregados.

A solução começou três anos após a crise, com Franklin Roosevelt, eleito em 1932 presidente dos Estados Unidos. Para ele, a solução para salvar o capitalismo da crise era a interferência do Estado, ainda que pequena. Então, elaborou o New Deal, plano que estimulava os investimentos, prevendo a intervenção do Estado na economia pela construção de estradas, barragens, auditórios, aeroportos, portos e habitações populares. O New Deal obteve resultados positivos, e a superação da crise só não se alcançou se efetuou com maior eficiência porque o programa de investimentos do governo nunca alcançou as proporções necessárias para estabelecer o pleno emprego.

Assim, os efeitos da depressão de 30 só foram totalmente superados com o início da Segunda Guerra Mundial, quando o intervencionismo do Estado na economia foi muito mais efetivo e a possibilidade de exportações norte-americana ampliou-se.

79 anos depois...

Os EUA entraram em recessão em 2001, ou seja, sete anos antes da crise de fato, após o estouro da bolha das empresas da chamada Nova Economia (as empresas "ponto com"). Os juros foram baixados para apenas 1% ao ano em junho de 2003. A conseqüência do corte de juros foi o reaquecimento da economia americana, o que gerou o "boom" no mercado imobiliário dos Estados Unidos.

Em 2006 surgiram os problemas perceptíveis. Os preços das casas a as taxas de juros não pararam de subir. Os proprietários ficaram em dificuldades de manter as prestações das hipotecas, já que os contratos previam correções. O aumento da inadimplência foi inevitável.

Em agosto de 2007, o banco BNP Paribas Investment Partner congelou os resgates em fundos, que segundo o banco, eram difíceis para avaliar os valores dos investimentos que eram ligados às hipotecas de risco. Este foi considerado o primeiro grande golpe ao setor financeiro da Crise Econômica Mundial.

A partir daí, empresas de crédito imobiliário tiveram de pedir concordata ou foram compradas por outras empresas ou bancos. Estes também passaram a sofrer seriamente com a crise. Em agosto de 2008, o Lehman Brothers pediu concordata. O Lehman Brothers foi fundado em 1850 e era um dos mais importantes bancos dos EUA, com negócios no ramo de investimentos de capital, renda fixa, negociação e gestão de investimento.

Desde então outros importantes bancos como o Citigroup, Wells Fargo e o Bank of America, sinalizaram as conseqüências da crise econômica. Todos os setores da economia foram afetados como uma bola-de-neve. O PIB americano recuou 3,8% no último trimestre de 2008 - pior desempenho desde 1982.

O governo americano aprovou em outubro de 2008 um pacote de ajuda de US$ 700 bilhões. O objetivo do pacote era ajudar os bancos afetados com os derivativos lastreados nas hipotecas "subprime". Mesmo assim, foram incluídos na ajuda bancos que não foram tão afetados, empresas de créditos, montadoras de automóveis, entre outros.

O desemprego aumentou consideravelmente em todo o país. Em 2008, a taxa de desemprego foi de 7,2% - a pior desde 1993.

Antes da crise, os endividados consumidores estadunidenses era o motor do crescimento global. Esse modelo quebrou e não se encontrará um substituto de um dia para o outro. Porque, ainda que os bancos norte-americanos gozem de boa saúde, o certo é que as riquezas domésticas sofreram danos devastadores e os norte-americanos hipotecavam e consumiam supondo que os preços de suas casas seguiriam subindo eternamente.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) embarcou em um programa para comprar US$ 500 bilhões em bônus hipotecários no primeiro semestre deste ano, em uma tentativa para reduzir as taxas reais de empréstimos hipotecários, que caíram para o menor nível na história, de 5%, no início deste mês. Em vez de deixar o mercado “limpo” — ou deixar os preços buscarem seu próprio patamar — as autoridades monetárias estão estimulando uma demanda artificial para a habitação, para evitar a queda dos preços. Então, temos o consumidor, com dívidas por todos os lados.

O governo federal, ainda assim, busca formas de tornar as hipotecas e o crédito mais barato e mais disponível, entrando em mais dívidas nesse processo. Instituições consideradas grandes demais para quebrar, como as gigantescas financiadoras de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac, foram recrutadas dentro desses esforços.

O fato é que o colapso do crédito piorou as coisas, e as empresas, frente à alta dos custos creditícios e a mercados em baixa, responderam rapidamente cortando estoques. Os pedidos caíram abruptamente - proporcionalmente, muito mais do que caiu o PIB - e os países que dependiam de bens de investimento e duráveis (gastos que podem ser postergados) receberam um corretivo particularmente duro.

Agora se trata de uma queda sincrônica global. A América do Norte e a Europa não podem fazer da exportação a via de saída de suas turbulências. A estabilização do sistema financeiro é uma condição necessária, mas não suficiente, para a recuperação. A estratégia norte-americana para estabilizar o sistema financeiro é custosa e injusta, porque passa pela recompensa a quem causou a catástrofe econômica. Enquanto o próprio presidente Barack Obama apontou que a crise pode demorar anos, analistas prevêem que a recuperação econômica pode dar sinais no final de 2009 ou em meados de 2010. Alguns especialistas mais céticos apontam que esta crise pode gerar uma nova depressão econômica que pode ser igual ou ainda pior que a dos anos 30.

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