segunda-feira, 22 de junho de 2009

Os reais perdedores globais

Por Juliana Menz

O texto de Robert Kurz faz uma espécie de previsão do que passaríamos dez anos depois. Na realidade, ele estava a par da crise, que já estava acontecendo, muito antes de muita gente ligada a economia mundial. Kurz é um conhecedor e estudante incessante da economia. Basta observar os inúmeros textos escritos por ele que circulam na internet sobre o assunto. Algo difícil de se encontrar nos dias de hoje. O que ele questiona em seu texto é o fato de que a globalização produziu mudanças marcantes na economia mundial, no entanto, tanto a política quanto a ciência econômica permaneceram com seus antigos conceitos e teorias.

A globalização trouxe infidelidade a economia nacional, que acaba se enfraquecendo. O que se busca, então, é produzir onde os salários são mais baixos, onde as leis são menos rigorosas e onde os impostos são menores. Não há mais produção local de um determinado país, mas sim de uma determinada marca. O país de produção é indiferente. O que temos são os países com capitais superiores produzindo em países com capitais inferiores, pois esses possuem os fatores mais em conta.

O que vimos nesses últimos anos foram estatais sendo privatizadas e o mercado mundial supervalorizado enquanto que o Estado perdia sua autonomia. O que não foi pensado é que toda essa valorização da exportação com as livres zonas de comércio, apenas faria com que grande parte da população não tivesse acesso a esse mercado. Com o estado desestabilizado ficaria ainda mais difícil garantir cidadania a essa população. Ou se aceita um emprego com baixa remuneração, ou fica desempregado.

Os defensores da globalização, ou seja, da crise apostam no darwinismo social como seleção natural. E o resultado disso é que hoje temos mais de 10 milhões de trabalhadores desempregados no mundo. O que é um problema para o capitalismo, pois sem emprego não há consumo, e sem consumo a economia mundial não gira. Os perdedores globais tornam-se uma ameaça às fortalezas de riqueza. Estamos a salvo de uma grande guerra mundial, porém, há uma guerra civil acontecendo há muito tempo em função das diferenças exacerbadas.

No Fórum Social Mundial de 2003, realizado no Brasil, idéias como essas eram abordadas por diversos pensadores. Já estavam a par da tamanha desigualdade social que a economia neoliberal traria ao mundo. Porém, com pouco espaço na imprensa para divulgação de seus reais interesses, esses pensadores pouco foram ouvidos a respeito do que a globalização seria capaz de fazer com o mundo.

Porém, grupos como os do Fórum Social Mundial e também das ONGs mundo afora ainda possuem a voz abafada diante de uma globalização que não enxerga caminho de volta. Podem seguir propagando suas idéias de salvação para a humanidade. No entanto, esta se encontra por demais envolta ao capitalismo globalizado. Não há dúvida de que o que nos falta é um maior estudo de economia mundial, assim como de política. Faltam pessoas aptas a entender o porquê de todo esse sistema de coisas ter chegado a esse ponto. E como Kurz afirma no seu texto, esse não parece ser um interesse comum aos que definem o currículo universitário. Ou seja, quanto menos entendermos de política e economia, melhor.

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