quarta-feira, 24 de junho de 2009

1973 – Da Crise à Oportunidade

Por Juliana Menz
O aumento do preço do petróleo causado pelo embargo dos países da OPEP a exportações junto com o aumento desenfreado de impostos sobre consumidores e empresas, gerou, em 1973, a primeira grande crise do petróleo. A guerra entre Israel e os países árabes só veio a piorar essa baixa na economia mundial. As taxas de crescimento econômico entram em gradual declínio nos países de capitalismo mais maduro, chegando nos EUA, na Europa e no Japão a cair de 5% para 3%. Além disso, o desemprego cresceu de forma assustadora.

A partir da crise de 1973, as depressões do sistema produtivo foram mais sérias que nos “anos dourados”, quando causavam pouca preocupação e aparentemente podiam ser facilmente contidas ou contornadas com uma sábia política econômica. Durante essa época muitos teóricos debateram sobre o tema, porém, quase todos defendiam a tese de que a “crise dos anos 70” seria o grande declínio da hegemonia americana. Desde então, em vez do “declínio americano”, o que se assistiu foi uma mudança profunda da economia mundial, e um aumento exponencial do poder dos Estados Unidos.

Foi quando os Estados Unidos deixaram de ser “credores”, e passaram à condição de “grandes devedores” da economia mundial. Mas ao mesmo tempo, sua dívida e sua capacidade de endividamento os transformaram no primeiro motor da economia mundial destes últimos 30 anos. Foi também na década de 70, que o “padrão dólar-ouro” foi substituído pelo novo sistema monetário internacional “dólar-flexível”, lastreado, em última instancia, no poder americano, e nos seus títulos da dívida publica.

Por outro lado, são também da década de 70, as políticas de desregulação dos mercados financeiros anglo-americanos, que lideraram o processo de globalização financeira, do final do século 20. E por fim, foi à sombra da derrota americana no Vietnã, em 1973, que os Estados Unidos e a China negociaram sua nova parceria econômica que se transformou na grande locomotiva da economia mundial, no início do século 21. Ou seja, desde a crise de 70, em vez do “declínio americano”, o que se assistiu foi uma mudança profunda da economia mundial, e um aumento exponencial do poder dos Estados Unidos.

Ao longo da história, o déficit comercial dos EUA (que começa em 1971 em relação ao conjunto das suas trocas internacionais), transformou-se em déficit de contas correntes (a partir de 1982) e, na seqüência, em dívida externa. Já em meados dos anos 1980, os EUA deixaram de ser credores líquidos do mundo e pouco a pouco passaram a exibir o maior passivo externo do planeta, estimado hoje por alguns economistas em 40% do PIB.

Dentro deste sistema, extremamente complexo, toda crise financeira interna da economia americana pode afetar a economia mundial, pela corrente sanguínea do “dólar flexível” e das finanças globalizadas. E todos os seus ciclos internos de “valorização de ativos”, (em particular, imóveis, câmbio e bolsa de valores) se descolam com facilidade dos circuitos produtivos e mercantis, e se balizam pelas variações da dívida publica e da política de juros do governo norte-americano.

Foi o que aconteceu em 1973, e voltou a acontecer em 2007. A crise potencializa as contradições fundamentais do sistema capitalista internacional - entre os interesses do capital e do trabalho; das potências imperialistas e das nações economicamente dependentes, vítimas da espoliação neocolonial; e dos próprios países imperialistas entre si -, gerando uma perspectiva de instabilidade e grandes conflitos. Digamos que o que vivemos uma reprise, no entanto com tendência a uma maior intensidade.

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