sexta-feira, 19 de junho de 2009

Keynes, as crises e o governo

Por Alexandre Morais
O mercado se auto-regula. Tal afirmação não reflete a realidade do sistema econômico, e as constantes recessões do século XX, assim como a grande depressão e, mais em especial a atual crise econômica, são evidências de que ao contrário do que foi apregoado através dos anos, o sistema capitalista é instável e gera mal estar social.
A respeito da crise de 1929, e estudando as demais recessões, percebeu-se que a elas precederam períodos de grande desenvolvimento econômico. Apesar de soar um pouco inusitada tal afirmação, John Maynard Keynes, um dos mais brilhantes economistas do século XX, desenvolveu uma teoria geral, no sentido de dar uma resposta mais complexa, admitindo que a ideia de crescimento econômico já possui uma data de validade.
Em primeiro plano, afirma que a crise não é uma anormalidade do capitalismo, mas que é inerente a ele. Tal “desequilíbrio” faz parte do esquema econômico que dá origem ao mercado e se configura no papel da empresa que utiliza sua produção para custeá-la, o que envolve o pagamento de manutenção da linha de produção e dos salários dos funcionários o que, na prática, converte-se em renda. Esta por sua vez, é utilizada para a aquisição de bens e serviços e retorna para as empresas.
Seria um movimento saudável se o aumento da renda não estimulasse as pessoas - em épocas de prosperidade - guardar seu dinheiro em poupanças. Trata-se de um vazamento neste ciclo, pois aquele dinheiro fica retido, fora de utilização.
Além disso, os produtos adquiridos pela população que são importados também configuram outro vazamento, pois deveria haver um equilíbrio no qual o número de importações precisa ser proporcional ao de exportações, mas isto esbarra nas políticas econômicas dos outros países, sendo este outro problema para um mercado globalizado.
Os impostos são outra forma de escoamento, pois o dinheiro empregado neles sai da autonomia do mercado e passa a ter destinos que, necessariamente, não estão dentro dos domínios econômicos. Ou seja, até mesmo a presença do Estado torna-se um “inconveniente” para a manutenção do sistema.
Desta forma o consumo diminui, pois o cidadão está poupando e a produção encalha. Para o próximo período ocorre uma queda na produção. Trabalhando com uma taxa de ociosidade, as empresas precisam elevar o valor dos produtos para compensar o furo causado pela queda de consumo.
Quando não consegue suprir esta deficiência, precisa cortar mais gastos, e a demissão dos funcionários é uma das formas mais comuns para o corte. Assim, quando não há como obter renda, o trabalhador não pode consumir, e isto afeta a economia, que começa a se corroer em um círculo vicioso.
Para solucionar este efeito colateral, até mesmo a intervenção do Estado em estabelecer um teto para poupança, tal como a redistribuição de renda, são exercícios que não se aplicam na prática pela lógica econômica. Dentro das sociedades industriais, aqueles que economizam são os que possuem mais renda, e quem detém maior renda são as elites que estão no poder nestes países. Elas não querem ver suas ações diminuídas, pois a idéia de política econômica passa justamente pela política propriamente dita, e esta é sinônimo de poder e influência.
Keynes aponta o papel do Estado como um agente que movimenta as demandas de serviços através de empréstimos para o financiamento das obras públicas que, além de serem desenvolvidas para o bem estar da população, injeta serviços e valores no mercado, como foi o caso dos Estados Unidos, que teve seu momento de maior prosperidade após a Segunda Guerra Mundial pelo desenvolvimento de tecnologia militar.
Porém, mesmo que esta tecnologia seja aplicável para mercadorias que possam ser repassadas ao cidadão comum, como é o caso de empresas como a IBM e a General Eletrics, que desenvolve produtos para estes dois pólos, um grande risco de uma economia sustentada sob uma política armamentista - como é o caso dos EUA, que ilustra tal esquema – está na constante manipulação da opinião pública, que passa a ser incentivada a apoiar novas corridas armamentistas sob o estigma do inimigo permanente.
Tais medidas em longo prazo podem financiar maior giro monetário, mas promovem mal estar social e diplomático, como é o caso das guerras no Iraque e Afeganistão após o 11 de setembro. As economias de guerra podem originar outros problemas que ameaçam a estrutura da própria sociedade.
Apesar de ser mais realista, a teoria Keynesiana deixa lacunas neste ponto, em que apresentam um cenário obscuro em relação a uma nova ordem econômica. No entanto, o cerne da questão pode estar no consumo, que viabiliza a produção das empresas, ou seja, um equilíbrio maior na demanda tem como premissa uma produção mais moderada. Talvez a ideia de lucro e acumulação de bens que norteia o sistema capitalista precise ser revista, e seria necessário desenvolver uma economia mais básica, que realmente considere o bem estar social acima desta visão cumulativa e de desigualdade.

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