sábado, 20 de junho de 2009

A difícil compreensão das crises

Sinceramente acredito que a crise nos acompanha desde que resolvemos viver em sociedade ou até antes, quando simplesmente sobrevivíamos como sabíamos até então. Primeiro porque, querendo ou não, a crise gera evolução e superação (é o que se espera) e, segundo, porque em qualquer grupo com mais de uma pessoa há diferenças que levam a desavenças (e talvez a acordos futuros).
Mesmo assim, fatos econômicos reforçam essa situação de crise, que ficou clara quando os membros da OPEP aumentaram significantemente o preço do petróleo, apresentando a elevação do valor de combustíveis e matérias-primas, o que traz dificuldades para os países industrializados e piora o caso dos subdesenvolvidos.
Quando países europeus se viram com dificuldades em manter o bem estar social, países subdesenvolvidos ou subestimavam a crise ou, como o Brasil, ainda viviam sob os efeitos do milagre econômico. Esses países tentavam convencer-se “ingenuamente” de que o problema não era com eles e que nunca os atingiriam. Coitados! Foram os que mais sofreram e nosso país não escapou.
A crise atingiu o país internacionalmente e, conseqüentemente, a economia nacional que adquiriu dinâmica própria. Possível e provável resultado: pobres cada vez mais pobres e ricos...
Um dos maiores inimigos é a automação de atividades feitas em países desenvolvidos, como produção de sapatos, por exemplo, que passa a ser feita no país em que será comercializado. Ou seja, mais desemprego, mais pobreza dentre os subdesenvolvidos. “(...) O fantasma do desemprego e o endividamento parecem ser as heranças mais graves da crise mundial. (...)”
Porém os problemas são bem mais amplos, incluindo novas tecnologias e situação de imigrantes. “(...) Nos países desenvolvidos ainda é possível pensar-se em regeneração do capital, surgimento de novas oportunidades de emprego nas áreas conexas às novas tecnologias, ou mesmo na ‘devolução’ a seus países de origem dos trabalhadores estrangeiros (...), aliviando, assim, as dificuldades de seu mercado de trabalho etc. (...) Já nos países subdesenvolvidos, a crise se dá de forma exatamente inversa: a automação substitui trabalho humano que não encontra recolocação, os produtos de exportação perdem competitividade e mercados internacionais, os trabalhadores que emigraram para o exterior e que enviavam divisas para seus países de origem vêem-se forçados a retornar, agravando ainda mais a situação do desemprego etc. (...)”.
Ou seja, o que acontece/aconteceu/acontecerá podemos confirmar em livros de história. É um ciclo ou, simplesmente, uma linha constante sem mudanças extremamente expressivas na história de muitos países. Uma possível solução é deixar de enganar a todos e tentar buscar saídas e, dessa forma, amenizar as dificuldades sentidas no país.
Toda crise que chega para nos apavorar acaba sendo comparada com aquela que nos marcou bastante: a de 1929, que teve como uma de suas características “o surgimento de oportunidades de industrialização em alguns países que, como no caso do Brasil, México e Argentina, realocaram uma parcela dos recursos desmobilizados pela agricultura de exportação”. Outra coisa é que essa crise era dos países industrializados, já hoje, com a industrialização do Terceiro Mundo, “a crise se alastra também para os países subdesenvolvidos e, o que é mais grave, seus efeitos são, aí, mais drásticos, do ponto de vista social”. A semelhança fica por parte da busca de uma saída ligada à manutenção dos modelos de produção e consumo.
No caso do Brasil, a resposta pode estar na mudança de plano não investindo mais no modelo desenvolvimentista, como fizemos em outras crises, mas sim levar em consideração as reais expectativas da sociedade, progredindo em variáveis políticas, sociais, culturais etc. Deve-se então, claramente, investir em tecnologia, ou seja, apostar numa disseminação de um padrão tecnológico. Dessa maneira, com tecnologias avançadas, a produção se torna competitiva no mercado industrial.
O importante é se ter a consciência de que não haverá equiparação entre as “qualidades de vida” de países desenvolvidos e subdesenvolvidos e tentar criar, pelo menos, condições dignas para garantir não apenas a sobrevivência das pessoas, mas também garantir que elas possam viver com direito a serviços básicos e de qualidade, como saúde, moradia, educação etc. (Toda vez que penso nisso, sinto-me mais sonhadora e essa sensação me alegra e me deprime ao mesmo tempo, por saber que posso ajudar, de alguma forma, na conquista de alguns direitos, mas também por ter certeza de que essas diferenças gritantes entre ricos e pobres sempre perturbará a “possível” vida pacífica dentro de um país, principalmente, como o nosso.)
O engajamento dos países de Terceiro Mundo na economia internacional pode ocorrer por “vantagens comparativas” (nesse caso o papel do Estado é essencial, pois ele deverá criar “as condições locais para que o mercado local se converta em demanda efetiva para as indústrias internacionalizadas”, reduzindo custos por vantagens locacionais, como proximidade de fontes de matéria-prima” e mão-de-obra barata) ou por “custos ambientais” (“aliando incentivos econômicos a uma legislação ambiental mais tolerante”, trazendo assim considerável custo ecológico).
Todos esses dados dão origem há várias formas de pensamento econômico, entre elas: a “tendência a um reducionismo da cosmovisão ao mundo judaico-cristão, como se a civilização ocidental fosse o único modelo de organização sócio-cultural”; a “insistência no modelo desenvolvimentista da ‘periferia’, baseado em padrões de produção e consumo”; e a “ideologia de neutralidade da ciência, como se o pensar a sociedade pudesse ser desvinculado do contexto em que o pensador está engajado”.
Para se encontrar o que pode ser feito em inúmeras situações causadas pela crise, deve-se analisar pontos não “apenas” econômicos, como também levar em consideração novas questões como a ecologia, a auto-imposição social das minorias culturais e étnicas etc.
Toda essa dificuldade em se encontrar soluções mostra que não compreendemos que crises são essas que nos afetam tão profundamente, vezes mais fortes, vezes mais fracas, mas que sempre nos fazem buscar novas formas de superá-las e passar por meio desses furacões não só econômicos, mas principalmente sociais.

(Texto baseado em “Limites do enfoque econômico” de Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain)


Paula Cabral Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário