sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Globalização entra em campo

“O mercado mundial devassou as entranhas da economia nacional e sua língua alcançou, por assim dizer, a última das aldeias nos confins do mundo”

Robert Kurz, em “Perdedores Globais”

Não é de hoje que os jogadores brasileiros vão cada vez mais cedo para fora do país, e já faz algum tempo que alguns clubes europeus se constituíram como verdadeiras seleções supra-nacionais. Assim como não é novo o processo de empresas multinacionais procurarem regiões com incentivos fiscais, mão-de-obra barata e pouca mobilização sindical para montarem suas linhas de produção – o chamado “global outsorcing”.
A idéia é baratear ao máximo os custos de produção, se necessário subdividindo as etapas do processo em diversos países, para depois vender o produto final nos mais variados mercados. O que acontece com um time europeu não é muito diferente: buscam as melhores partes ao redor do mundo, forma-se um time para a disputa dos campeonatos nacionais e internacionais, e suas partidas são televisionadas para os mercados europeu, sul-americano e asiático, com os devidos direitos de transmissão pagos em dia.
No outro lado da ponta, fica cada vez mais difícil para os clubes de países emergentes – e também para os times médios e pequenos da Europa - sobreviverem sem a venda de jogadores . Aliás, é cada vez mais difícil a eventual revelação de talentos. O laissez faire futebolístico se tornou tão predatório que o jogador vai embora antes mesmo de se profissionalizar, o que obriga as agremiações a pagarem salários já consideravelmente altos para meninos que ainda estão nas categorias de base.
Mesmo na Europa, é visível o abismo existente entre os grandes clubes e os médios e pequenos. A disputa dos títulos nacionais fica reservada a um número muito reduzido de times, em um processo muito parecido com o que vem acontecendo de uns anos para cá nos nossos campeonatos estaduais.
No Brasil, times que já tiveram expressão e que chegaram a ganhar campeonatos nacionais, como o Guarani, vão ficando cada vez mais pequenos. Os clubes pequenos, então, ficam à deriva, salvo exceções daqueles que tem investimentos de prefeituras ou de empresários de origem duvidosa. Só não se fundiram ou foram engolidos por outros clubes porque os processos de fusão não são tão comuns no futebol como são no mundo corporativo.
O jogador que vai para a Europa é uma espécie de imigrante de luxo. Em países como a Itália, onde a pouca oferta de emprego causada pela automação das indústrias gerou um forte sentimento de rejeição ao estrangeiro, com inúmeras restrições governamentais para impedir a sua entrada, muitas vezes o boleiro se torna ídolo de times com torcidas declaradamente xenófobas.
Enquanto isso, o torcedor brasileiro se acostumou a lidar com a ameaça do desemprego e a assistir seu time jogar com craques que duram seis meses e com raros lampejos de astros fora do auge e do peso ideal.

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