sábado, 20 de junho de 2009

Capitalismo: Quanto vale o show?

Comentário sobre O Fim da Economia Nacional (Perdedores Globais), de Robert Kurz

André Avelar

No início do mês de junho, o Real Madrid, um dos mais poderosos clubes de futebol não só da Espanha, como do mundo, anunciou a contratação do brasileiro Kaká. Por 65 milhões de euros (cerca de R$ 178 milhões), o valor da negociação com outro gigante do mercado da bola, o Milan, da Itália, já era o maior da história. Não contente com o recorde, que tanto assombrou os mercados financeiros, menos de duas semanas depois, o mesmo time contratou o português Cristiano Ronaldo, vindo do Manchester United, da Inglaterra. Ah, o valor? Incríveis 94 milhões de euros (aproximadamente R$ 258 milhões).

Como se não bastassem as múltiplas nacionalidades, que mais parece uma conferências da ONU – já que estão em jogo interesses espanhóis, italianos, brasileiros, portugueses e ingleses, para não incluir o resto do mundo –, tal jogada só foi permitida graças à globalização. Do mesmo modo, as atuações desses atletas e clubes além de suas próprias fronteiras só foram permitidas pelo capitalismo. No entanto, os valores escapam do imaginário do cidadão comum que, quando com algum senso crítico, se pergunta: “quanto vale o show?”. Será mesmo tudo isso que envolve a bola, quando muitos vivem às traças por aí?

Esse pensamento foi provocado com a leitura de O Fim da Economia Nacional, publicado originalmente com o nome de Perdedores Globais, em 1995, no jornal Folha de S. Paulo, por Robert Kurz. Na época, o pensador, evidentemente, nem sonhava com essas cifras, mas já vivia a época das grandes marcas, mesmo no futebol, capazes de formar um capital internacionalizado, que envolve a todos.

Para o autor, esse movimento começou ainda na década de 1960, com o comércio mundial maior que sua própria produção. O efeito seguiu-se pelos anos de 1980, estimulado ainda mais dada à “autonomização do comércio”. Para aproximar do texto, esses clubes europeus poderiam ser entendidos como essas grandes empresas de ações internacionais, donas de “euromercados monetários”.

“A concorrência, portanto, exige ao mesmo tempo o marketing global e o ‘global outsourcing’, sempre em busca de custos mais baixos e maiores vendas – não importa em que região do mundo”, diz o autor.

Apesar disso, é um exagero pensar que a ciência política está em crise, quando essa crise advém de um sistema de regulação, infinitamente maior do que sua independência, o que acaba por enfraquecer todo um sistema, deixando-o refém das multinacionais. Ao mesmo tempo, as ainda que pequenas soluções encontradas esbarram na falta de unidade do pensamento, para não culpar a falta de educação, saúde e segurança, por exemplo.

Voltando os olhos para o Estado, as conseqüências desse tipo de comércio são, assim como qualquer contratação astronômica por um jogador de futebol, absurdas e perigosas. Limitado pelas suas fronteiras, um país acaba por ter transformada a sua consagrada economia política em política economia. O que mais pode parecer um jogo de palavras é entendido na prática, uma vez que um verdadeiro êxodo para os emergentes, expulsando pessoas, contaminando o meio ambiente e, principalmente, não abarcando a todos nas benesses do capitalismo.

Com todo esse capital interligado seja em peças, máquinas, ou mesmo, pessoas, o show está sim garantido, contudo, dificilmente ele será duradouro ou suportará às decorrentes crises financeiras, como a última que começou com uma bolha de especulação nos Estados Unidos. Aos cidadãos comuns, ao contrário das idéias do texto que até cita exemplos não-oficiais de governos, resta mesmo o contentamento com os gols e as alegrias oferecidas pelas regras do jogo.

2 comentários:

  1. A globalização também faz com que times europeus tenham torcedores no mundo inteiro. A venda de camisas do Real Madrid vai ter um crescimento exponencial assim que chegarem às Megastores de todo o mundo. Trata-se de um investimento.

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  2. Ronaldo é melhor que Kaká e Cristiano Ronaldo juntos...

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