sexta-feira, 19 de junho de 2009

Mais perdedores...

Em “Perdedores Globais”, Kurz chama atenção para as mudanças provocadas pela Globalização e para o fato de que tanto a política quanto a ciência econômica permaneceram apegadas a velhos conceitos, que já não correspondem mais à realidade.

Se no passado o comércio externo restringia-se a um plano secundário, a partir da década de 60 essa lógica começou a mudar. Nas décadas seguintes, o mercado tornou-se cada vez mais único e global.

Com a internacionalização do capital, ocorreu também uma internacionalização das marcas. Um carro alemão, por exemplo, tem essa nacionalidade não porque foi feito lá, mas sim porque a sede da marca está no país. A fabricação das peças, no entanto, é feita em diversos lugares, assim como a montagem, e ele será vendido em qualquer lugar do mundo que possua uma classe com poder financeiro compatível com o seu preço.

Essa divisão internacional de trabalho realizada pelas empresas multinacionais reflete uma lógica em que não há mais uma estratégia de desenvolvimento econômico nacional, o capital não tem mais uma intenção de desenvolver e manter o Estado. O dinheiro gerado por uma fábrica Argentina não será destinado a esse país, mas será repassado a um empresário alemão, por exemplo. E se o Estado tentar tirar a sua fatia, taxando em excesso a mercadoria, vai perder a empresa, que pode se instalar em outro local. Assim, todos os países acabam sofrendo com isso, em maior ou menor grau.

Fica evidente que os governos nacionais perdem a capacidade de esgotar os recursos tributários da economia interna, de estimular o crescimento e, com isso, de assegurar bases fundamentais de sua legitimação. E, devido à falta de recursos financeiros, abandonam à sua própria sorte uma parcela cada vez maior da população, roubando-lhe o direito à cidadania.

Vale lembrar que nossa taxa de miséria se assemelha à de países como Panamá, Botsuana, República Dominicana e Guiné. Os jovens brasileiros apresentam a pior taxa de escolaridade da América Latina, empatando com Guatemala, Honduras e Nicarágua. Apenas quatro de cada dez jovens com idade para cursar o ensino médio estão matriculados. O desemprego cresceu nos últimos anos, e bateu recordes. A taxa de desemprego dobrou em relação à existente na década de 80.

Das 500 maiores empresas globais, 420 possuem operações no Brasil. Hoje, os bens das empresas multinacionais instaladas no país chega a quase 1 trilhão de reais, e seu faturamento anual atinge 500 bilhões de reais. Elas empregam 1,7 milhão de pessoas. Impossível não concordar com Kurz quando ele afirma que nos falta a globalização de uma nova crítica social.

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