sexta-feira, 19 de junho de 2009

Keynes e a crise - ou vice-versa

Quem lê, ouve e vê os jornais de nossos dias, lamenta profundamente quando ocorre uma crise. De fato, milhares de empregos são perdidos, uma quantia incontável de capital que se contava passa a não existir mais, e outras conseqüências mais ou menos graves são inevitáveis. Mas o que não se diz é que a crise não é um acidente do capitalismo. Pelo contrário. Como um estômago é comum a uma pessoa, os dentes a um rato, o longo pescoço a uma girafa, a espuma a um xampu, ou os cabelos brancos a um idoso, a crise é inerente ao capitalismo.

Então quem se surpreendeu com a crise atual se enquadra em uma das três opções seguintes. A primeira é que a pessoa simplesmente desconhece as teorias econômicas, e entende a crise como algo evitável. A segunda é que a pessoa conhece teorias econômicas, tem noção dos riscos, mas prefere acreditar que eles não existem, qual um louco alucinado. A terceira é que ele acompanha os noticiários atuais e acredita neles piamente quando dizem que a crise é, como tudo que ocorre no Brasil e no mundo, culpa do Lula.

A crise atual pode ser explicada – claro, aplicando-se as variações das conjunturas – como a crise de 29. Naquela época, o crescimento dos Estados Unidos era absurdo. Para se ter uma idéia, era maior do que o da China dos tempos atuais. Porém, chegou o dia em que a produção não correspondia mais à demanda. É claro que o leitor sabe perfeitamente as conseqüências dela: Milhões de desempregados, fome, miséria, etc. Já na crise atual se vê outro problema. O total de crédito disponibilizado pelo mundo superou em mais de 40 vezes o existente na economia real.

Daí se entende o seguinte. O capitalismo é um sistema que prioriza o capital e o lucro. O problema é que ele se aplica nas necessidades humanas e depende delas. De onde se compreende a tamanha desproporção.

Keynes, em 29, observou a crise e notou que se todos os lucros e salários fossem convertidos em mais compras, nunca haveria problemas na economia – o resultado da produção se converteria em mais produção. Porém, há modos de “perda” deste capital, como quando os trabalhadores investem em poupanças.

Daí se vê que a crise é quase inevitável. Porque esta “perda” de capital, referida no parágrafo anterior, só acontece quando há bastante capital circulando – ou seja, quando a economia está dando certo.

Há, então, duas possibilidades de capitalismo. O que ele dá errado, quando não há muito escoamento, mas ele está dando errado. E o que ele dá certo, porém há grande escoamento e ele futuramente dará errado.

A solução prevista por Keynes é a regulação do Estado. Porque é preciso ter algo que regule a economia, que pense nas pessoas antes do dinheiro. Senão a inevitável crise será mais inevitável ainda.

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