segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sobre Perdedores Globais

Por Lívia Scatena

O mundo é um mercado. Poderíamos chamá-lo de moinho, como fez Cartola em uma de suas mais belas canções, mas nenhum termo se aplica melhor à economia de hoje que o primeiro.

As profundas transformações econômicas pelas quais passou o planeta no século XX são paradigmáticas para que entendamos aquilo que ocorre hoje: após o desfecho da Guerra Fria e a ascensão dos Estados Unidos como única potência hegemônica, globalização passou a ser a palavra de ordem. Não que antes não existisse um mercado global, mas o chamado “espaço nacional” passou a fazer parte do passado no mundo da economia, afinal as negociações se dão, desde aquele momento, além dos limites nacionais.

Esta falta de sentido limítrofe acabou sendo denominada economia global, mas que acaba se limitando a uma minoria que conseguiu privilegiar-se do sistema. Sistema esse que exclui mais e empobrece ainda mais os menos privilegiados, criando ilhas de riqueza cercadas por favelas nas grandes cidades.

Grandes empresas do chamado Primeiro Mundo espalham sua produção pelo mundo, buscando sempre diminuir os custos de produção. Valem as regras: impostos menores, salários mais baixos e leis generosas. No Brasil, um dos casos mais conhecidos é o da instalação da fábrica da Ford na Bahia. Os incentivos fiscais oferecidos à montadora americana tanto pelo governo baiano quanto pelo Planalto foram incrivelmente satisfatórios à empresa: durante 10 anos, está livre de impostos municipais como IPTU e ISS e de estaduais, a exemplo do ICMS. Só em impostos federais, a renúncia foi de R$ 180 milhões anuais. Hoje, um operário da Ford Bahia tem um salário 50% menor que um colega do ABC paulista. Logo que a empresa foi inaugurada, o valor era de um terço dos paulistas. Nada mau para uma empresa que vinha dando prejuízo. Seguir a risca o estatuto neoliberal salvou a Ford do Brasil. Com a ajuda do Estado, claro, mas sem que esse tivesse qualquer participação nos lucros conquistados pela empresa.

Nesse mundo em que a economia dita às regras, acaba-se triturado por um sistema injusto que vai, dia-a-dia e sem poesia, reduzindo a pó os sonhos dos mais carentes, mesmo que eles ainda não se tenham dado conta disso.

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