terça-feira, 9 de junho de 2009
Marx já sabia!
Por Fernanda Catania
Falência de bancos e grandes empresas, aumento considerável do desemprego e queda do PIB. Em meio a uma das maiores crises econômicas mundiais da história, que teve seu estopim no 2º semestre de 2008, a linha de debate que predomina na sociedade não é outra: como evitar a crise econômica? Em toda sua história, o capitalismo foi marcado por crises - o crash na bolsa de valores de Nova York, em 1929, e a crise do petróleo, em 1973, são alguns exemplos. Para entender esta situação é extremamente importante analisar a obra O Capital, do pensador alemão Karl Marx (1818-1883).
Primeiro, é preciso compreender o conceito de capital. Segundo Marx, existe o capital constante e o variável. O primeiro é a forma de capital investido na produção, ou seja, o capital “não-humano”; já o variável é a força de trabalho, que vai fazer o capital circular. A produção capitalista envolve o trabalho vivo - trabalho do operário que substitui o valor da força de trabalho e ao mesmo tempo cria mais-valia - e trabalho morto, acumulado nos meios de produção.
De acordo com Marx, o que o trabalhador (proletariado) vende aos detentores de capital (capitalista) em troca de seu salário não é trabalho, e sim força de trabalho. Tal força de trabalho é uma mercadoria e seu valor é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário envolvido para manter o trabalho vivo.
Os capitalistas pagam os funcionários com salários em troca de um determinado número de horas de trabalho. Na realidade, o proletariado acaba criando um valor acrescentado durante o processo de produção, ou seja, fornece mais do que aquilo que custa. É esta diferença que Marx chama de mais-valia. Para o autor, no sistema capitalista a classe trabalhadora é explorada pela classe capitalista, que se apropria do valor excedente (mais-valia) produzido pelo proletariado.
A taxa de mais-valia foi o que Marx definiu como a razão entre mais-valia e capital variável. Ela mede a taxa de exploração. Por outro lado, a taxa de lucro é a razão entre mais-valia e capital total (capital variável + capital constante). O mais importante para o capitalista é a taxa de lucro porque ele precisa de um retorno adequado sobre o seu investimento total, e não só sobre o que ele gasta com salários. Em outras palavras, o capitalista se beneficia colocando um lucro a mais no preço final do produto.
Para explicar isso, Marx usa o conceito de composição orgânica de capital: razão do capital constante ao capital variável. Portanto, capital orgânico é o que se gastou para fazer o produto. Este é um conceito criado por Marx para mostrar como o sistema econômico-político capitalista falha na produtividade.
O que Marx diz é que quanto mais eficiente a força de trabalho, e então a produtividade, maior será a composição orgânica do capital – mais máquinas e matérias-primas utilizadas pelos trabalhadores. Com isso, a taxa de lucro cai, pois somente a força de trabalho produz mais-valia.
Uma das principais características do modo de produção capitalista é a acumulação de capital: a maior parte da mais-valia não é necessariamente consumida, mas investida na produção. Por isso, os capitalistas prevalecem a taxa de lucro crescente.
Marx explica que as crises econômicas estão baseadas justamente na queda da taxa de lucro, que cai conforme o aumento da produtividade do trabalho. Parece contraditório, não?! Ora, se é assim, porque os capitalistas, ao mesmo tempo, buscam uma maior produtividade?
O que acontece é que eles são forçados a agir dessa maneira por causa da concorrência. Com a gana de estarem sempre à frente dos concorrentes, os donos do capital são forçados a inovar e, então, aumentar a produtividade do trabalho. Isso explica o porquê das crises explodirem no ápice da expansão da economia de um país, por exemplo. Como aconteceu em 1929: antes da crise foi visto um crescimento avassalador na economia. Com a queda da bolsa de NY “imediatamente” houve um registro de, mais ou menos, 85 mil falências de empresas americanas, 4 mil bancos e o desemprego de 14 milhões de norte-americanos.
Depois de tal análise, é possível estimar algumas alternativas para diminuir a queda da taxa de lucro e, talvez, evitar uma conseqüente crise econômica: aumentar o estímulo ao crédito – dessa forma as empresas podem investir mais e, então, a população consumir mais -, vender para mais pessoas e estimular o consumo (superpopulação consumidora) e estimular o aparecimento de um forte mercado de ações.
É impressionante como uma obra de 1867 consegue se tornar tão atual no século XXI. Em O Capital, Marx não dá a solução para as crises econômicas, mas fornece a base fundamental para entender a economia capitalista e as raízes da formação das crises, prevendo o que estaria por vir anos depois.
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