Valéria Vieira
Milhões de desempregados, queda nas bolsas de valores, fechamentos de fábricas, falência de grandes empresas, estatização de bancos. Vivemos mais uma crise financeira. Políticos e economistas se desdobram para achar medidas que solucionem o problema, mas, até agora...
Em 1929, ano da grande depressão nos Estados Unidos, John Maynard Keynes, incumbido de analisar o que estava acontecendo com o capitalismo, encontrou a resposta para tal a crise. Sua análise começou a partir do processo de produção e concluiu que o grande problema estava na distribuição da renda e poupança.
Segundo o economista, o que para a empresa é custo de produção, para um individuo ou para outra empresa significa renda. Neste sentido, para que a empresa venda tudo o que produziu, é necessário que a população gaste todas as suas rendas na aquisição de bens e serviços. Neste caso, os lucros permanecerão elevados. Keynes denominou esse processo de fluxo circular: o dinheiro flui das empresas para o público sob a forma de salários, remunerações, rendas, juros e lucros; em seguida, esse dinheiro retorna para as empresas quando o público adquire os bens e serviços oferecidos por elas.
No entanto, o fluxo circular apresenta três “vazamentos”: a poupança, a importação de bens e serviços de empresas estrangeiras e os impostos. Keynes aponta que esses “desvios” poderiam ser compensados com as importações sendo contrabalanceadas pelas exportações; o governo utilizando os impostos para financiar a aquisição de bens e serviços; e os empresários poderiam financiar os investimentos em bens de capital contraindo empréstimos nos bancos onde estivessem depositadas as poupanças.
Contudo, quanto mais investimentos em bens de capital, maiores são a produtividade da economia e a renda. Logo, haverá mais poupança, e a absorção dessa nova poupança irá requerer novos investimentos. Isto significa que os investimentos teriam que crescer em ritmo mais acelerado que as rendas, para que pudessem absorver continuamente a poupança. O problema da crise estava aí: com o crescimento econômico, agrava-se a dificuldade de encontrar oportunidades de investimento. Assim, os investimentos em bens de capital caem abaixo da poupança e, como as empresas não conseguem vender tudo o que produzem, diminuem a produção, com aumento do número de desempregados e declínio da renda. Em consequência do declínio da renda, os gastos em bens e serviços serão ainda menores. E o círculo vicioso reproduz-se.
A solução proposta por Keynes foi a intervenção do Estado para regular a renda/poupança com investimentos de utilidade pública, mas que não ampliassem a capacidade produtiva da economia e que não reduzissem as oportunidades de investimento para o futuro. Os investimentos propostos eram a construção de escolas, hospitais, parques e outras obras do gênero. Keynes constatou que, como o poder estava nas mãos dos ricos, os investimentos do governo acabariam nas grandes corporações, mesmo que isso trouxesse poucos benefícios diretos para a sociedade. A Segunda Guerra Mundial provou a teoria keynesiana. Com a corrida armamentista dos governos, o desemprego cedeu lugar a uma escassez de mão-de-obra e a crise foi solucionada nos EUA.
No entanto, ao contrário da crise de 1929, que afetou diretamente o mundo industrializado (EUA e Europa), enquanto o Terceiro Mundo apresentava efeitos colaterais, com a mundialização do mercado, a crise atual se alastrou também para os países subdesenvolvidos (que ficam ainda mais empobrecidos e sofrem as piores consequencias). Já em 1984, no livro que “Que crise é essa?”, o desemprego era visto como uma das heranças mais graves de uma crise. “Nos países desenvolvidos ainda é possível pensar-se em regeneração do capital, surgimento de novas oportunidades de emprego nas áreas conexas às novas tecnologias... Já nos países subdesenvolvidos, a crise se dá de forma exatamente inversa: a automação substitui trabalho humano que não encontra recolocação, os produtos de exportação perdem competitividade e mercados internacionais, os trabalhadores que emigraram para o exterior e que enviavam divisas para seus países de origem vêem-se forçados a retornar, agravando ainda mais a situação de desemprego”. Não é preciso nem falar dos milhares de dekasseguis que retornaram ao Brasil após a crise atingir o Japão.
Mas, apesar de suas graves consequências para os mais pobres (e para o capitalismo, é claro), Keynes não deu tanta importância para o fato de que uma crise financeira é fundamental para concentrar capital. Só nos Estados Unidos, quase 65 mil pedidos de proteção à lei de falências foram feitos no ano passado – uma alta de cerca de 50% na comparação com o ano anterior. Ou seja, aqueles que não podem “aguentar” a tormenta fecham as portas ou são comprados por outras empresas, que monopolizam cada vez mais o mercado.
É neste contexto que a teoria Keynesiana volta aos holofotes da economia: o Estado americano intervindo junto a bancos, empresas. A General Motors, um dos pilares da indústria americana e a maior montadora de automóveis do país, decretou sua concordata no dia 1º de junho deste ano, a segunda maior quebra da história do país após a crise financeira, atrás apenas do banco Lehman Brothers. Mas, para surpresa dos defensores ferrenhos do mercado livre, o governo americano se tornou sócio majoritário da empresa, ficando com 60% da companhia. A sombra do socialismo de volta? Claro que não. A intervenção visa salvar, não só bancos e empresas, mas o próprio capitalismo.
O Estado neoliberal mostra-se, mais uma vez, ineficiente (excessão, é claro, para as multinacionais e empresas que faturam bilhões por ano e monopolizam o mercado) e a teoria Keynesiana não é capaz de, sozinha, salvar esta nova crise. A solução da crise atual não está apenas na área da economia. Com a globalização, ela afeta todo mundo de forma drástica e as medidas não devem ser tomadas a partir de territórios isolados, mas em conjunto. O que adianta a boa economia do meu país se o mundo deixa de importar meus produtos? Serei, apenas, a próxima vítima. Enquanto as grandes empresas não se dispuserem a sacrificar um pouco de seu lucro para salvar o sistema econômico, crises e mais crises com efeitos cada vez piores surgiram na história da humanidade. O capitalismo precisa ser analisado novamente no contexto atual, sem esquecer a teoria de Keynes e, é claro, o profético Marx.
Em 1929, ano da grande depressão nos Estados Unidos, John Maynard Keynes, incumbido de analisar o que estava acontecendo com o capitalismo, encontrou a resposta para tal a crise. Sua análise começou a partir do processo de produção e concluiu que o grande problema estava na distribuição da renda e poupança.
Segundo o economista, o que para a empresa é custo de produção, para um individuo ou para outra empresa significa renda. Neste sentido, para que a empresa venda tudo o que produziu, é necessário que a população gaste todas as suas rendas na aquisição de bens e serviços. Neste caso, os lucros permanecerão elevados. Keynes denominou esse processo de fluxo circular: o dinheiro flui das empresas para o público sob a forma de salários, remunerações, rendas, juros e lucros; em seguida, esse dinheiro retorna para as empresas quando o público adquire os bens e serviços oferecidos por elas.
No entanto, o fluxo circular apresenta três “vazamentos”: a poupança, a importação de bens e serviços de empresas estrangeiras e os impostos. Keynes aponta que esses “desvios” poderiam ser compensados com as importações sendo contrabalanceadas pelas exportações; o governo utilizando os impostos para financiar a aquisição de bens e serviços; e os empresários poderiam financiar os investimentos em bens de capital contraindo empréstimos nos bancos onde estivessem depositadas as poupanças.
Contudo, quanto mais investimentos em bens de capital, maiores são a produtividade da economia e a renda. Logo, haverá mais poupança, e a absorção dessa nova poupança irá requerer novos investimentos. Isto significa que os investimentos teriam que crescer em ritmo mais acelerado que as rendas, para que pudessem absorver continuamente a poupança. O problema da crise estava aí: com o crescimento econômico, agrava-se a dificuldade de encontrar oportunidades de investimento. Assim, os investimentos em bens de capital caem abaixo da poupança e, como as empresas não conseguem vender tudo o que produzem, diminuem a produção, com aumento do número de desempregados e declínio da renda. Em consequência do declínio da renda, os gastos em bens e serviços serão ainda menores. E o círculo vicioso reproduz-se.
A solução proposta por Keynes foi a intervenção do Estado para regular a renda/poupança com investimentos de utilidade pública, mas que não ampliassem a capacidade produtiva da economia e que não reduzissem as oportunidades de investimento para o futuro. Os investimentos propostos eram a construção de escolas, hospitais, parques e outras obras do gênero. Keynes constatou que, como o poder estava nas mãos dos ricos, os investimentos do governo acabariam nas grandes corporações, mesmo que isso trouxesse poucos benefícios diretos para a sociedade. A Segunda Guerra Mundial provou a teoria keynesiana. Com a corrida armamentista dos governos, o desemprego cedeu lugar a uma escassez de mão-de-obra e a crise foi solucionada nos EUA.
No entanto, ao contrário da crise de 1929, que afetou diretamente o mundo industrializado (EUA e Europa), enquanto o Terceiro Mundo apresentava efeitos colaterais, com a mundialização do mercado, a crise atual se alastrou também para os países subdesenvolvidos (que ficam ainda mais empobrecidos e sofrem as piores consequencias). Já em 1984, no livro que “Que crise é essa?”, o desemprego era visto como uma das heranças mais graves de uma crise. “Nos países desenvolvidos ainda é possível pensar-se em regeneração do capital, surgimento de novas oportunidades de emprego nas áreas conexas às novas tecnologias... Já nos países subdesenvolvidos, a crise se dá de forma exatamente inversa: a automação substitui trabalho humano que não encontra recolocação, os produtos de exportação perdem competitividade e mercados internacionais, os trabalhadores que emigraram para o exterior e que enviavam divisas para seus países de origem vêem-se forçados a retornar, agravando ainda mais a situação de desemprego”. Não é preciso nem falar dos milhares de dekasseguis que retornaram ao Brasil após a crise atingir o Japão.
Mas, apesar de suas graves consequências para os mais pobres (e para o capitalismo, é claro), Keynes não deu tanta importância para o fato de que uma crise financeira é fundamental para concentrar capital. Só nos Estados Unidos, quase 65 mil pedidos de proteção à lei de falências foram feitos no ano passado – uma alta de cerca de 50% na comparação com o ano anterior. Ou seja, aqueles que não podem “aguentar” a tormenta fecham as portas ou são comprados por outras empresas, que monopolizam cada vez mais o mercado.
É neste contexto que a teoria Keynesiana volta aos holofotes da economia: o Estado americano intervindo junto a bancos, empresas. A General Motors, um dos pilares da indústria americana e a maior montadora de automóveis do país, decretou sua concordata no dia 1º de junho deste ano, a segunda maior quebra da história do país após a crise financeira, atrás apenas do banco Lehman Brothers. Mas, para surpresa dos defensores ferrenhos do mercado livre, o governo americano se tornou sócio majoritário da empresa, ficando com 60% da companhia. A sombra do socialismo de volta? Claro que não. A intervenção visa salvar, não só bancos e empresas, mas o próprio capitalismo.
O Estado neoliberal mostra-se, mais uma vez, ineficiente (excessão, é claro, para as multinacionais e empresas que faturam bilhões por ano e monopolizam o mercado) e a teoria Keynesiana não é capaz de, sozinha, salvar esta nova crise. A solução da crise atual não está apenas na área da economia. Com a globalização, ela afeta todo mundo de forma drástica e as medidas não devem ser tomadas a partir de territórios isolados, mas em conjunto. O que adianta a boa economia do meu país se o mundo deixa de importar meus produtos? Serei, apenas, a próxima vítima. Enquanto as grandes empresas não se dispuserem a sacrificar um pouco de seu lucro para salvar o sistema econômico, crises e mais crises com efeitos cada vez piores surgiram na história da humanidade. O capitalismo precisa ser analisado novamente no contexto atual, sem esquecer a teoria de Keynes e, é claro, o profético Marx.
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