domingo, 15 de novembro de 2009

a pós-modernidade do ponto de vista jornalístico

Rachel Sterman (03008507)


Sociedade do espetáculo: o individuo supervalorizado como individuo e subestimado como pensador, como crítico, como analítico. Um indivíduo em busca do desempenho valorizado. Um indivíduo que dá ênfase quase absoluta para a exterioridade e o auto-centramento.
Vou sustentar minha opinião em torno de uma idéia, que não é radical; aliás, é bem contraditória, assim como toda a questão da mídia influenciando esses comportamentos do homem moderno: é a mídia que cria esse padrão ou ela só reforça algo que é natural da sociedade capitalista? Acho que a mídia ajuda a reforçar as tendências que a sociedade capitalista demanda: trabalhos rápidos, com maior número de produção, para a obtenção de um lucro maior, velocidade, velocidade, velocidade. Auto-suficiência, superficialidade. Dinheiro, status. Essas são as palavras-chave da sociedade capitalista e são elas, juntas, que ajudam a caracterizar o papel que a mídia exerce sobre o indivíduo hoje. Na cultura da rapidez, do volume, não há mais espaço para as reflexões internas, sociais, profundas. O importante é que uma determinada linguagem atinja um maior número de espectadores/leitores/ouvintes/internautas, da forma mais uniforme, portanto mais rápida possível.
A cada modo de produção, a consciência dos seres humanos se transforma (a consciência interpreta e compreende as condições materiais de produção diferentemente a cada época). Assim não são as idéias que movem a historia, mas são as condições históricas que produzem as idéias. Essa idéia da perspectiva materialista histórica e dialética me ajuda a sustentar a tese de que a mídia é então, um produto, talvez o mais característico e simbólico, da sociedade capitalista. Não é ela que cria os padrões. Ela impressionantemente consegue disseminá-los. E foi transformada numa ferramenta que atende às expectativas da lógica do mercado e dos modos de vida que o próprio capitalismo gerou, perdendo sua função e caráter social majoritários, que foram a de dar subsídios funcionais para os indivíduos e “exercer” o papel de espaço público que a vida moderna não permite que exista mais.
O que quero dizer é que acredito que a mídia tenha uma parcela de responsabilidade nesses padrões e na pasteurização de gostos, gestos, modas, opiniões quase sempre altamente superficiais e obvias. Mas atribuir toda a responsabilidade das características da sociedade à mídia é, de certa forma, supervalorizá-la e subestimar a capacidade transformadora, critica, sensível e de percepção do homem. Que esta sendo lesada, sem duvida por conta de uma mídia reguladora, que empobrece a vida mental, mas, que absolutamente, não se perdeu.
Há da parte da critica, uma certa subvalorização da capacidade da massa que a mídia manipula sim, em perceber não necessariamente a manipulação, mas sim, no caso da política, a necessidade daquilo que é bom para ele. Fala-se só da manipulação, sem levar-se em conta a sensibilidade e percepção que homem ainda tem sobre si e sobre o mundo. Independente de escolaridade ou status social.

No jornalismo: o conhecimento emancipatório. A rapidez. A quantidade de informação.

O jornalismo de hoje dia peca em vários aspectos. O primeiro é que a mídia atual veicula muitas informações em intervalos muito curto de tempos, provocando no leitor/espectador a sensação de que ele está bem informado, quando na verdade essa quantidade só gera uma ilusão. O espectador não consegue perceber que, na maioria das vezes, aquelas notícias todas, na verdade, não fazem absolutamente nenhuma diferença em seu cotidiano. Digo isso tanto a respeito do sensacionalismo, quanto do jornalismo que se diz sério. A notícia dada hoje em dia não eleva o espectador/leitor para lugar nenhum. O sujeito continua na mesma posição passiva que ele sempre esteve, só que com a sensação de esclarecimento.
E isso não tem necessariamente a ver com a relevância das notícias, mas com a forma que elas são trabalhadas. Se partimos do princípio que o jornalismo tem a função esclarecedora, nosso jornalismo atual está no caminho oposto. A constante presença das mesmas notícias, falando as mesmas coisas, com a mesma abordagem é que configuram o tal do senso comum. As informações superficiais e descontextualizadas, geram rótulos e taxações sobre determinados assuntos, que por sua vez gera senso comum. Não há elementos suficientes para que o receptor da mensagem consiga criar por si, uma opinião sobre aqueles acontecimentos. Por isso consumir notícia virou uma questão de hábito, de rotina. Uma atividade automatizada – característica tão própria da pós-modernidade. Ou, o sujeito vai procurar o que acha que é informação na Wikipédia, que se tornou uma fonte de informação. Os preceitos da superficialidade e automação foram totalmente incorporados e não estão sendo questionados por (quase) ninguém.
Outra coisa que, falando do senso comum, eu fico me perguntando bastante. O espectador/leitor está preparado para ser elevado ao senso crítico? Será que os consumidores de notícia só consomem esse tipo de notícia porque não há outra saída?
Muitas vezes, durante a discussão, esbarramos em questões fenomenológicas. Fui atrás, no meu material da Psicologia, de alguns desses pontos e encontrei coisas interessantes. Por exemplo, para responder à pergunta acima, eu achei escritos meus da aula do mestre Nichan, que falam sobre verdade: “a verdade é sempre absoluta e inesgotável, porque se não fosse absoluta não seria verdade; e é inesgotável porque cada verdade é uma face de infinitas verdades. (...) A verdade pode ser entendida como visão de mundo”.
Claro que não podemos ficar relativizando tudo, senão as discussões vão ficar sempre muito subjetivas e aqui, no jornalismo, trabalhamos com tudo que é bem objetivo. Mas acho que algumas coisas não devem ser esquecidas.
Ao ler, certa vez, o que Lukács falando sobre o ser social, que é aquele que se relaciona com o mundo dentro de um contexto social (cotidiano), e percebe o mundo a partir de uma experiência social, fiquei pensando numa forma de jornalismo que fosse capaz de fazer, de fato, com que o sujeito saísse dessa “mediocridade” do senso comum, para elevá-lo a um plano maior.
Lukács fala sobre como a história acontece no cotidiano e como devemos nos preocupar com ele. Com detalhes do cotidiano, vamos construindo reflexões imperceptíveis e, portanto, história. O pensador diz que é o cotidiano que abarca os pontos mais altos e mais baixos da existência social, porque é nele que a história acontece e não acontece. Nós não percebemos essa dimensão que o cotidiano tem. Como fazer para os sujeitos deixarem de enxergar a vida cotidiana, como uma seqüência de repetições? Através da cultura, do conhecimento. O jornalismo entra nessa lista.
Nesse momento da reflexão me lembrei da grande reportagem. Mesmo sabendo que ele não pode ser feito diariamente e ele não pode ser a forma “oficial” de jornalismo, ele exerce muito bem esse papel do esclarecimento das coisas cotidianas. Seu principal objeto são personagens da vida real, e é por meio dessas histórias, aparentemente comuns, que o leitor vai sendo envolvido, e começa a fazer reflexões, ou chora, ou fica com raiva, ou fica incomodado. Pronto. Nesse momento o leitor já saiu de uma perspectiva imediata, para outra mediata, que provocou nele uma série de sensações que ele não teria lendo a primeira página do jornal, que virou uma prática tão habitual, e igual, e repetitiva e automática.
Agrada-me muito essa perspectiva humanista do Lukács. O bom jornalista – aquele que vai cumprir seu papel de maneira séria -, não tem que se preocupar em fazer textos academicistas ou de crítica ao sistema. Ele só tem que trabalhar as informações para dar elementos suficientes para que o leitor/espectador consiga – SOZINHO – concluir o que quiser. O fato como ele é, não como aparenta ser (porque o que aparenta ser é lugar comum).
Em 2007 estive num seminário de jornalismo. Marcelo Rech, do jornal Zero Hora de Porto Alegre, disse que o jornal se utiliza muito de grandes reportagens. O jornal acredita que a redação do futuro vai ser aquela que tiver capacidade de processar as informações, que vai combinar jornalismo online (notícias factuais) com jornalismo interpretativo (na parte impressa).
Eliane Brum, oriunda da Zero Hora, agora repórter especial da Época, também fala coisas interessantes sobre o cotidiano: ela fala sobre singularidade; acredita na não-efemeridade do jornalismo (ou seja, que o jornalismo possa prestar um serviço que possa até ser utilizado futuramente como uma fonte de pesquisa histórica). Um escrito meu que resume o que a repórter fala diz o seguinte: o texto que vale ser lido ou ouvido é o texto que incomoda, que sufoca, que dói, chora e grita. Mas que completa e desperta. Acho que isso tem bastante a ver com o que Lukács fala sobre essa suspensão do sujeito e elevação a um senso crítico, que nessa discussão, significa conseguir olhar a sociedade de uma forma mais analítica, e não ficar questionando o sistema etc. (Porque até o conceito de senso crítico virou senso comum, né?). Eliane Brum diz também que a imprensa tem a particular tarefa de aproximar mundos, ou seja, de misturar cotidianos e de trazer para perto os micro-universos que fazem do homem um ser social e “sociabilizável”.


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