sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Joga no google

Por Natália Chagas

Às vezes eu me faço uma pergunta: o que seria de mim sem essa ferramenta tão popular que se tornou o google nos últimos tempos? Olha, eu sou jornalista, convivo com jornalistas e estou cansada de saber que não se pode confiar nas fontes vindas da internet (pelo menos a maioria delas), mas que me atire a primeira pedra quem nunca confirmou um telefone, uma grafia ou uma informaçãozinha no poderoso site de pesquisas da internet.
Mas junto com essa facilidade que, eu diria, é absurdamente monstruosa, vieram as discussões, os problemas e as brechas na informação. Checar fatos, vírgulas e ouvir todos os lados envolvidos em qualquer tipo de informação, é a obrigação do jornalista, certo? Mas é obrigação do resto da população mundial desconfiar do que está lendo? É obrigação das crianças, adolescentes e adultos saber que aquela notinha boba que está na internet é simplesmente uma invenção ou uma história mal contada? Não, não é. Deveria ser, nos dias de hoje pelo menos, mas não é. E ai vem a saudades dos tempos em que tudo era confirmado, confiado e discutido e junto com essa nostalgia vem a discussão que, por incrível que pareça, consegue ligar aquela enciclopédia jurássica à internet.
Então, para começar essa discussão tão antagônica, o certo seria achar um ponto em comum entre a enciclopédia e a internet. O projeto da Enciclopédia francesa foi desenvolvido por dois nomes conhecidos, d’Alambert e Diderot em 1750. O objetivo era simples: unir as informações e ilustrações num compêndio do saber. Política, economia e conhecimento, já eram fontes aceitas e objetos da razão e, por tanto, deveriam ser classificadas, definidas e especificadas.
Para isso, palavras eram separadas e classificadas em um grupo, separadas no rodapé e assim por diante. E está ai a semelhança entre a ideia de unir informação no século XVIII e hoje. Pois é, o famoso “link” sempre existiu, mas não na forma de clique. Cruzamento, separação e um leque infinito de temas, frases e palavras que podem se unir. No texto “O projeto da enciclopédia e seus registros sobre o jornalismo” de Antonio Hohlfeldt fica claro que o que d’Alambert e Diderot fizeram foi um trabalho jornalístico, cheio de apuração, confirmação das informações e fatos da época.
Já para Olga Pombo em seu texto “Enciclopédia e Hipertexto” está claro que a Internet é a potencialização do projeto enciclopédico. Maravilhoso né? Todo aquele papel e toda aquela teoria sintetizados num link, palavras e ilustrações interligadas, “verdadeira máquina de fazer ver”, como definiu Olga Pombo. E como uma ideia tão genial pode ter falhas?
Por incrível que pareça, os livros gigantes ainda existem e as faculdades não abriram mão de suas bibliotecas. Está certo que os jovens de hoje em dia não frequentam muito esses “lugares ultrapassados” e não saem da frente do Orkut, twitter e MSN, mas elas estão lá. Para responder a essa pergunta o conto “Funes, o Memorioso” de Luis Borges, mesmo sendo de 1944, é uma boa opção.
Funes era um homem diferenciado, que guardava tudo, lembrava de cada detalhe, aprendia línguas com facilidade, mas simplesmente não conseguia passar essas informações para frente. Ele sabia, mas não pensava. “Vomitava” informações fora de hora, sem cronologia e sem ordem. E é isso, Funes nos apresenta a internet.
Tiramos muita coisa boa de lá, muitos links interessantes, informações dadas praticamente no momento do fato, velocidade, perspicácia e... baboseiras. Informações desconexas, verdades absolutas com falhas de datas, memórias apagadas, blogs onde qualquer um escreve o que quer. E não me entenda mal: o blog é a maior benção da comunicação, mas pode ser um abismo da notícia. E assim segue a era do Google. A era do clique e da informação fácil, mas nem sempre verdadeira.
O jeito é torcer para o resto da população, e não só os jornalistas (e olha que alguns também não se salvam) consigam distinguir a facilidade da falha. Saibam que a internet está ai para facilitar, mas que muito cuidado ainda é pouco quando o objetivo é se informar. E viva as enciclopédias, cheias de boas apurações.

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