sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esquecer para pensar

O esquecimento. Para a psicologia é uma defesa do nosso organismo. Já pensou o que seria se, assim como o personagem do conto de Borges, perdêssemos a capacidade de esquecer? A memória seleciona o que vale a pena ser guardado. O resto é lixo. Ás vezes, precisamos limpar a cabeça, esvaziar o pensamento para melhor refletir. É daí que surge a meditação e por isso ela se faz cada vez mais necessária, já que o homem tem se tornado fruto do sistema que criou. Assim como os computadores, estamos perdendo a capacidade de dar sentido às informações.
Vivemos em um mundo que as produz em escala industrial. Para alguns, ela é até sinônimo de poder. Com o advento da tecnologia, ela se multiplicou. A Internet é uma grande memória, programada para não esquecer. Uma enciclopédia moderna, que não tem como foco a relação entre as idéias, mas o acumulo de dados.
Com essa ferramenta, o acesso à informação está cada vez mais facilitado. Para ser uma pessoa bem informada hoje em dia é necessário armazenar uma quantidade descomunal de dados úteis. A utilidade é supervalorizada, assim como a capacidade de memória. Na verdade, o bom profissional contemporâneo tem as mesmas características de uma máquina. Tem que saber executar tarefas e armazenar dados.
Assim com a enciclopédia, a Internet é abrigo para uma série de conteúdos sobre assuntos diversos. O hipertexto faz com que cada texto contenha em si um universo à parte, como sugere a teoria do caos. Aliás, esse é um ótimo termo para o mundo em que vivemos e para a forma como nos organizamos.
O pensamento está cada vez mais caótico e acompanha uma doença sistêmica do mundo contemporâneo: o excesso de informações e a falta de sentido. O corpo humano, por exemplo, é um sistema bem organizado. Ele funciona de forma inteligente, porque suas partes estão interligadas e dialogam. Uma pessoa não é considerada inteligente de acordo com a quantidade de neurônios que tem, mas pelo número de ligações (sinapses) entre eles.
A lógica de uma sociedade industrializada é oposta. As diversas partes do sistema estão cada vez mais isoladas, compartimentadas. Isso levou Marx a refletir sobre a alienação do trabalhador, que perde a consciência de seu papel no processo de fabricação de um produto, por exemplo, tamanha é a especificidade da tarefa que realiza.
Nós estamos seguindo essa lógica para pensar. Deixamos de lado as associações para valorizar a quantidade de informações. Um computador tem uma capacidade de associações bastante limitada. Ser capaz de armazenar dados, não significa capacidade de raciocínio. È por isso que caminhamos para uma sociedade que não pensa sobre as informações, mas armazena por um tempo e esquece.
Em relação ao jornalismo, essa discussão é ainda mais válida. Ela diz respeito à propagação das informações e à maneira como esse profissional é formado. Os veículos de comunicação deveriam tentar contextualizar a informação, não apenas despejar uma série de dados nas mãos do leitor. Isso contribuiria para um olhar mais reflexivo sobre o mundo. A história tem esse papel de tentar transformar a realidade presente, a partir da análise do passado. O jornalismo só será transformador quando provocar uma reflexão sobre os fatos. Sem isso, a informação passa a ser um mero instrumento de distração. Os profissionais, por sua vez, devem estar atentos para a importância do pensamento. Só o acumulo de dados não vai ser o suficiente para que eles consigam analisar o seu tempo. É necessário esquecer para pensar com mais qualidade. Na ânsia por capacidade de memória, estamos esquecendo de pensar.

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