segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Informação (s)e(m) sentido.

Por Luana Santos (06006952)


Nunca o acesso à informação foi tão fácil como nos dias de hoje. A Internet trouxe aos cidadãos a sensação de estarem mais bem informados, mas será que a simples exposição a todo o conhecimento disponível na rede teria um caráter verdadeiramente emancipatório?

Para Paulo Serra, a Internet responderia a um projeto de construção da memória a partir da informação, que teve início com os enciclopedistas do século XVIII e tinha por finalidade reunir os conhecimentos dispersos e transmiti-los para as gerações futuras.

Baseado na concepção de que o conhecimento estaria intimamente ligado à memória, sendo diretamente proporcional a ela, esse projeto apresenta, no entanto, alguns problemas: o contínuo avanço da ciência exigiria uma atualização constante; a impossibilidade de reunir em uma obra conhecimentos infinitos, já que ela se tornaria tão complexa quanto a realidade, e que tipo de critério deveria pautar a seleção da informação digna de ser repassada.

Essas questões, já colocadas no século XVIII, apenas se agravaram no decorrer dos anos. A crescente segmentação e especialização do mais diversos ramos da ciência tornam cada vez mais difícil ao cidadão acompanhar a complexidade do conhecimento produzido. Diante dessa situação, ele seria levado a procurar um tipo de informação mais palatável e sedutora, que se destina a ser consumida para ser imediatamente esquecida.

A Internet viria resolver alguns dos problemas enfrentados pela enciclopédia, já que possui uma capacidade infinita de armazenamento, encontra-se constantemente atualizada e praticamente elimina o intervalo entre a produção e a consulta da informação. Ela está muito próxima à ideia de uma memória artificial. Mas, assim como as lembranças ilimitadas de Funes, personagem de Jorge Luís Borges, a rede é representada pela multiplicidade confusa e desorganizada de fontes.

Por mais que a criação de ferramentas de buscas tenha facilitado a pesquisa sobre um tema e permita acompanhar o crescimento exponencial da informação, ela não resolve o problema da re-significação, expresso na ficção de Borges. Além disso, é preciso lembrar que essas ferramentas fazem uma seleção da informação de que dispõem que se baseia em critérios desconhecidos por nós.

Como aponta o jornalista e professor Silvio Mieli em “Os perigos do Google como único filtro da realidade”*, desde o primeiro programa de buscas na internet, o Altavista, lançado em dezembro de 1995, vive-se a sensação do dado bruto transformar-se em conhecimento, em informação viva. Com o aparecimento do Google, fundado em 1998 pela dupla Larry Page e Sergey Brin, jovens doutorandos da Universidade Stanford, na Califórnia, passou-se para um outro patamar de programas de busca.

Brin definiu que as informações na web deveriam ser organizadas numa hierarquia de popularidade. Ou seja, quanto mais um link leva a uma página específica, mais a página merece ser ranqueada nos resultados do programa de busca. Outros fatores, como o tamanho da página, número de mudanças, atualizações constantes, títulos e links no texto foram incluídos na programação do Google. Lentamente o programa implantou um processso de hierarquização das informações que passou a ser aceito sem contestações. Em março de 2007 o Google detinha 53,7% do mercado dos buscadores da rede (segundo dados da Nielsen/ NetRatings).

Mieli destaca ainda que, como muitas das informações que circulam na internet partem de indicações do Google ou da Wikipedia (a grande enciclopédia de conteúdo “aberto” da internet), Stephan Weber, co-autor da “Pesquisa sobre os perigos e oportunidades apresentados pelos programas de busca na internet (Google, em particular)” – desenvolvida ao longo de 2007 pelo Instituto de Sistemas da Informação e Computação da Universidade de Tecnologia de Graz, na Áustria –, denuncia uma espécie de “Googlarização da realidade”, já que existem fortes indícios que o Google e a Wikipédia operam a partir de uma espécie de parceria.

Os pesquisadores escolheram ao acaso 100 verbetes em alemão e outros 100 em inglês do índice de A a Z da Wikipédia e colocaram estas palavras-chave em quatro grandes programas de busca (Google, Yahoo, Altavista e Live Search). O Google registrou 91% dos resultados das entradas da Wikipedia (em alemão). Para os sites em inglês os resultados atingiram 76% de registros no Google. “Parece evidente que o Google está privilegiando os sites da Wikipedia em seu ranque”, concluiu a pesquisa.

Fica claro, portanto, que filtros como o Google codificam os dados que circulam na rede segundo critérios que nem sempre privilegiam o interesse público. Portanto, para que essas ferramentas sejam bem utilizadas, é preciso que o leitor saiba selecionar o que de fato tem relevância. Como bem observa Serra, o acréscimo de informação não só não acarreta um acréscimo de conhecimento como conduz ao seu decréscimo, já que de nada serve a informação se o receptor não for capaz de lhe atribuir um sentido.

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