segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Dia em que o Google Parou...

Por Felipe Bolguese - 06004497


No dia 11 de novembro de 2009, um rapaz, morador de São Paulo, acorda atordoado. Por volta das 22h da noite anterior, até algumas horas da madrugada do 11, um apagão de energia elétrica havia atingido 18 Estados de todo o Brasil. Breu, violência, trânsito, dúvida, medo...

No rádio, ele ouviu que a usina hidrelétrica de Itaipu, ou Furnas, ou até mesmo outra, poderia ter provocado a catástrofe nacional. Curioso, ele corre para o computador. Queria lembrar o que era essa tal de usina de Itaipu, dos tempos de aula de geografia.

Ao entrar no “Google”, o baque: um anúncio, gigantesco, em mais trinta línguas diferentes “O site está fora do ar, por tempo indeterminado. Solucionaremos o problema assim que possível”.

Ele aperta F5 por 20 vezes, para atualizar a página, até se conformar. Liga para os amigos “To f... naquela prova da facul eu ia pegar tudo na internet. E agora?”. A catástrofe era, certamente, pior à que tinha vivenciado na noite anterior. Era o mundo inteiro com “apagão” desta vez. Donos de empresas, professores, pesquisadores, jornalistas, sociólogos, cientistas, políticos, gente de carne e osso, todos desnorteados.

Com poucos minutos de navegação, um fórum já está na home do UOL. “A vida sem Google, conte o seu drama”. Releases sem informação, nomes sem sobrenomes, acontecimentos sem datas, locais sem referências, causas sem finalidades, descobertas sem donos, vida sem história, mundo sem passado, tudo ao som de Raul Seixas. O Dia em que a Terra parou, em que o empregado não saiu pro seu trabalho, o professor não saiu pra lecionar, e nas igrejas nem um sino a badalar...

A situação, claramente, é ilusória e absurda. Mas, de fato, poderia deixar muitas pessoas sem ação, ou perdidas no tempo, no espaço, acanhadas no mundo das informações... O “Google” é o ar da internet, que respira por notícias e informações cada vez mais atualizadas. Há tempos, este site de buscas infindáveis, virou referência de pesquisa e conhecimento, o que, no passado, cabia às Enciclopédias. Qual é a história daquele imperador que colocou fogo em Roma mesmo? Basta digitar “Imperador – Fogo – Roma” no “Google”. E a História de Nero e da Itália serão contadas por diversos sites.

Nos meados da década de 80, a internet provocou uma das maiores revoluções da comunicação entre os homens e tornou-se elemento central da organização do mundo contemporâneo. O que mudou foi a percepção do conhecimento. A internet trabalha no sentido da confusão conceitual e desorientação política, criando o sentido de desinformação por excesso. Mas hoje há poucos que não a tenham como referência para a maioria dos afazeres na vida. Viajar, pegar uma praia, ver paisagens, não precisa de nada disso. Sim, mas a passagem de avião foi comprada através da... internet?!

Uma notícia, há poucos dias, no site oficial do Corinthians, chamou a atenção. “O jogador Marcelo Mattos passará por cirurgia para tratar de uma síndrome compartimental, alerta o médico Joaquim Grava. Segundo a enciclopédia digital “Wikipedia”, síndrome compartimental é uma complicação que se desenvolve nos músculos quando sua perfusão sanguínea não é adequada”.

Paulo Serra, autor de “Informação e Sentido”, reforçaria: estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido. O conteúdo acima beira ao absurdo. Se não conversou com o médico, sobre a situação do jogador, não era lógico questionar sobre o que era a tal da síndrome compartimental? A acomodação, por saber que tudo está lá na web, quando se precisa, já tornou-se uma nova forma de se educar. Não é preciso mais quebrar a cabeça, correr atrás, pesquisar, pensar... Na internet se acha tudo. Se o “Google” disser que Adam Smith é autor da frase “Só sei que nada sei”, que Sócrates é o pai do liberalismo econômico, e que foi Benjamin Franklin e não Graham Bell que inventou o telefone, essa será a nova verdade do mundo. A verdade de bilhões de pessoas que fazem da internet sua fonte de conhecimento.

A tendência é que cada vez menos as pessoas consigam reagir ao excesso, caindo no vazio. Como afirma Olga Pombo, autora de “Enciclopédia e Hipertexto. O Projecto”, a internet é a potencialização última da idéia de Enciclopédia, mas adverte: “O hipertexto é um sistema acéfalo”. Ou seja, o conteúdo da internet provoca desorientação e banalização dos conteúdos. Qualquer verdade pode até ser criada por...você! Faça um blog, crie teorias. Todos vão lhe seguir. A sua opinião será disseminada. O seu interesse terá validade...

No século passado, o conhecimento tinha nome e capa dura. O projeto da Enciclopédia francesa foi desenvolvido por d’Alembert e Diderot em 1750, quando a razão já era afirmada como fonte de conhecimento, em detrimento da revelação, postulada pela Igreja Católica. Naquela época, o objetivo dos pensadores era classificar e mapear todas as informações disponíveis até então, utilizadas também como uma vívida ilustração tanto da política como da economia do conhecimento. O projeto era uma tentativa de mapear o mundo do conhecimento segundo novas fronteiras, determinadas única e exclusivamente pela razão, em palavras de d’Alembert.

A Enciclopédia, no entanto, apresentava problemas praticamente insolúveis diante de seu formato: a necessidade de atualização constante de um material extenso, a escolha de um princípio de organização sistemática que era inevitavelmente arbitrária e a seleção do tipo de conhecimento a ser reunido. Foi com a chegada da internet - e sua capacidade de conglomerar dados - que tais limitações puderam ser superadas.

Isto não significa, porém, que houve uma evolução no sentido da informação. Pelo contrário, estamos desaprendendo o que os livros escreveram, e aprendendo o que a internet vai nos mostrar daqui muitos e muitos anos... Como diria um sábio “Uma história sempre tem duas versões se contada por duas pessoas diferentes”. É possível que amanhã o nosso passado já não seja o mesmo.

Obs1. Será que o “Google” foi usado para a elaboração deste texto?

Obs2. Você, que certamente esquecerá o endereço deste blog e o conteúdo acima, poderá acha-lo facilmente no futuro: digite “Felipe Bolguese – Mundo de Prometeu” e Google it.

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