domingo, 15 de novembro de 2009

desinformação, mas de fácil acesso

O personagem de Jorge Luis Borges, Irineu Funes, nunca mais se esqueceu. De nada. Por causa de um acidente, sua memória registrava todos mínimos detalhes. Por essa doença, foi apelidado de memorioso. Porém, ao mesmo tempo que tudo guardava, ele não tinha a capacidade de pensar por conta própria, de organizar suas idéias.

Armazenar todo o conhecimento do mundo é um sonho dos primórdios da civilização. Em 1750, essa vontade começava a se transformar em realidade quando d’Alembert e Diderot iniciaram o projeto da enciclopédia: oito volumes, distribuídos em 1625 cópias oferecidas apenas para poucos da elite. Ali, estaria toda informação necessária. Modificada e aprimorada com o passar dos anos, a enciclopédia reinou até as últimas décadas do século XX, até ficar antiquada e de difícil uso se comparada com a evolução tecnológica. Com a chegada da internet, procurar respostas em um calhamaço de significados e contextos, perdia o sentido.

Fascinante, o mundo virtual apreendia tudo, conteúdos existentes ou criados para esse meio, mas com o tempo sua capacidade de análise não acompanhou sua quantidade de informação. No texto de Paulo Serra, “Informação e Sentido”, o autor nos faz questionar o porquê de tanta informação que não faz sentido algum e não consegue ser absorvida. Do mesmo modo que o personagem de Borges tem a invejável capacidade de guardar tudo, a internet tem essa mesma super-memória –e assim como ele, a menor noção ou controle do que tudo isso significa. Para quem foi do tempo da velha e pesada enciclopédia, onde cada procura exigia atenção, esforço e a percepção de saber o que de fato é uma informação relevante e o que pode ser descartado, lembra o quanto essa busca acaba enriquecedora no final. Na tela de um computador, ou até mesmo de um celular, digitar uma palavra e cair em um mundo de descobertas sem filtro, fácil assim, em nada colabora para o sentido real de descobrir parte do mundo e sair da ignorância. Informação pura não tem sentido, é sua análise e sua forma de pensá-la que leva ao saber – aquele tão desejado, desde tempos mais remotos.

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