sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mais quantidade; menor qualidade: um novo fazer jornalístico

Foi na década de 90 que surgiu a Internet nos moldes que a conhecemos atualmente. Desde então, não foi apenas o nosso vocabulário que aumentou (afinal, as palavras TCP/IP, World Wide Web e hipertexto sequer existiam), mas também aprendemos um novo jeito de nos comunicar. Mais rápida, multimídia, global e complexa, a comunicação 2.0 e tecnológica define o homem do século XXI.

Conforme analisado neste semestre, a Internet e seu infinito banco de dados é a enciclopédia do século XXI. Com o nascimento da web, a vontade iluminista de registrar todo o conhecimento humano é potencializada. Como visto nos textos dos autores Olga Pombo, Paulo Serra e Antonio Hohlfeldt, o hipertexto representa o limite do sonho de intelectuais como D’Alembert e Diderot. Para eles, a Enciclopédia era uma maneira de mapear o mundo do conhecimento e de democratizar a informação.

Com o boom tecnológico das últimas décadas, hoje em dia tornou-se complicado para significante parte da população sobreviver sem todas as regalias e facilidades que todo esse avanço possibilitou. Vide o apagão que aconteceu nesta terça-feira (10) e deixou 18 Estados do Brasil sem energia elétrica. Sem eletricidade, muitos heavy users (outro verbete criado com o nascimento da internet) entraram em crise existencial - para não dizer de abstinência. Sem contar a inabilidade que órgãos como a polícia e a CET enfrentaram por ter grande parte de seu sistema de comunicação informatizado. Estamos todos conectados.

Além de toda polêmica política que o blacaute causou, esse episódio ainda marca a sensibilidade deste sistema, que em constante transformação, não depende apenas do saber humano e de sua capacidade física. Sem a internet e, por consequência, sem os gigantescos Google ou Wikipedia, como ficariam a comunicação e seus feitores? Um breve retrato do novo fazer jornalístico: o que seria de um jornalista sem usar alguma destas ferramentas por um dia? O banco de dados não é mais o cérebro, mas sim os links, hipertextos e Kb/s. Sem as consultas às páginas da web, a ignorância contemporânea ficaria evidente.

Irônico é comparar obras dos escritores do século XVIII com as dos autores atuais. Apesar de todos os gigas de memória e toda capacidade de hardware das máquinas criadas pelo homem, quais obras de pensadores contemporâneos podem ser comparadas aos textos escritos sobre a luz de velas e canetas de pena dos nossos antepassados? Mesmo com toda a facilidade e espaço que o homem pós-internet possui, a qualidade reflexiva enxugou-se. Essa recente rapidez da comunicação também cria a seguinte dúvida: para que tanta informação?

A problemática desta “memória absoluta”, como define Paulo Serra, é bem descrita por Jorge Luis Borges em seu conto “Funes, o Memorioso”. Dotado de grande capacidade de memorização e impossibilitado de esquecer, para o autor Serra, “Funes é, não pode deixar de ser, a metáfora borgiana de uma gigantesca máquina de captação e de registro de informações”. Entretanto, por causa deste dom, Funes é impossibilitado de organizar todas informações que armazenou durante sua vida.

Portanto, como já afirmava Platão, a informação só serve para quem já está informado. O internauta que navegar às cegas pela web vai pular de página em página e pouco vai lhe ser realmente útil. Ainda mais depois da potencialização dos conteúdos, que possibilitou que qualquer um seja um canal de informação. Neste novo cenário, apesar de toda clamada democratização, vale questionar sobre a qualidade e veracidade dos conteúdos produzidos.

Bombardeada diariamente com centenas de informações, a humanidade encontra dificuldade em distinguir o que é válido e o que é descartavel. No final do dia, poucos fatos realmente possuem algum valor e estes, ao invés de receberem maior atenção, são produzidos com a mesma agilidade que todos. Ou seja, a qualidade textual - ou hipertextual -, assim como a reflexão dos assuntos, tornou-se bastante defasada.

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