sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Da Enciclopédia ao Hipertexto

Célia Oliveira

A história de Funes passou-se numa época onde as informações percebidas vinham apenas de cenários naturais e das interações do homem com a natureza, sem a presença da tecnologia, que permeia a vida contemporânea. “Naquele tempo, não havia cinemas ou fonógrafos… ’’ Esse pequeno detalhe da história de Funes embute uma questão central. O excesso de informação do mundo atual nos oprime e confunde.

A televisão, rádio, jornais, Internet e o ritmo frenético da vida urbana se combinam numa tensa forma de transformar a vida em algo melhor deixando tudo descontínuo e fragmentado. “A visão englobante e universalista do projeto da modernidade, sucede, pois um modelo de conhecimento que funciona por blocos, por fragmentos, fundado nas noções de multiplicidades, bifurcações, mediações, irradiações e derivas”, como afirma Olga Pombo.

A incessante mudança de contextos torna a realidade das informações e imagens praticamente inassimilável. Em frações de segundos, a televisão passa das cenas de um desastre de proporções globais para um programa de auditório, onde é exposta a vida privada das pessoas, onde a tolice e o ridículo disputam à fama instantânea.

Tempos complexos, onde, sufocados pelo excesso de informação, estamos sempre a esquecer o que vimos, ouvimos ou pensamos minutos atrás.

Claramente, faltam-nos “metáforas” para compreender este mundo novo, onde a Internet, o onipresente computador e as informações ocupam a cena, juntamente com o homem, seus velhos sonhos e amarguras.

A tecnologia não se explica por si só. É criada, oferece funcionalidades, ocupa lugar e pronto. Suas conseqüências e sua relação com o homem são percebidas somente com o passar do tempo.

No mundo atual a quantidade de informação excede nossa capacidade de percepção e absorção. O excesso de tudo e a onipresença da mídia nos fazem sentir um pouco como Funes: não sabemos o que fazer com tanta informação.

De certa forma, a Internet se assemelha a Funes. É uma memória infinta, onde se coloca de tudo. Não se filtra nada; não há seleção da qualidade da informação e nem se questiona a sua origem. "Minha memória, senhor, é como um despejadouro de lixos" comentou Funes. A cultura eletrônica baseada nos computadores e na internet sofre do mal de Funes. Na cultura eletrônica, vale tudo. Uma memória infinita, onde não se separam as coisas umas das outras, está cada vez mais se tornando a memória coletiva da nossa sociedade.

Na internet, encontra-se, todo e qualquer tipo de informação. Mas, por outro lado, informações mais antigas sobre assuntos menos populares são escassas e de difícil acesso. Há uma excessiva concentração num passado – recente, e em temas da “moda”, distorcendo a visão de mundo para aqueles que usam a internet como forma de aprendizado e fonte de referência.

Outros problemas que andam lado a lado e ajudam na seleção da informação é a pertinência e credibilidade da informação. Se não for considerada pertinente a informação, por mais que ela seja credível, e não obtiver a atenção de seus possíveis receptores, ela pode deixar de existir. Sendo credível e não sendo considerada pertinente por seus receptores ela pode deixar de existir como informação.

O problema deriva-se da confusão entre o virtual e o real, que permea a nossa sociedade.

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