sábado, 28 de novembro de 2009

Que haja luz, e Google se fez

Lucas Pacheco (06000511)

Em 1998 uma dupla de universitários procurava o que qualquer outro estudante queria (inclusive o que escreve isso aqui): uma maneira rápida, eficaz e sem esforço de saber o que realmente precisavam ler para que fossem aprovados. Frustrados com os buscadores da época, os amigos foram atrás do seu próprio algoritmo. Pouco tempo depois, com a “fórmula secreta” nas mãos, Larry Page e Sergey Brin criaram um negócio cujo tema era “obter, organizar e hierarquizar toda a informação do mundo”. Meta que na época soava ridícula, megalomaníaca e entediante para qualquer um de qualquer meio. Nascia o Google.

Dez anos depois a empresa, o negócio se tornou uma das maiores corporações do mundo, e os criadores, que nunca se formaram, são bilionários. A empresa continua com uma fórmula complexa (e trancada a sete chaves) para determinar o que é mais importante dentre tudo o que é encontrado, mas tem outra simples para “fazer dinheiro”: colocar anúncios em suas pesquisas, sem que afetem a lista de resultados. Credibilidade e lucro pra todo mundo.

Com a pretensão preguiçosa, e natural para a maioria dos estudantes, de dar respostas certas sem realmente ter que saber de tudo, Page e Brin deram um salto para o objetivo dos enciclopedistas do século XVIII: catalogar todo o conhecimento humano a partir dos princípios da razão formulados na época. Além disso, davam sustentação para a tese de Paulo Serra de que a internet seria a reposta para o problema desta construção. Pois a dupla revolucionou o modo como esse objetivo era perseguido, deixando os maçantes e tediosos tomos de lado, partindo para uma página em branco com um campo a ser preenchido.

A maioria dos problemas enfrentados pelo projeto enciclopedista foi sendo resolvida com o avanço da internet e do acesso que a população tem à ela. Antes toda vez que algo mudava na história ou na ciência, uma nova versão da Larrouse ou da Barsa tinha de ser comprada para a estante, na internet, basta editar o site. A web não tem limite de armazenamento de dados, ja os livros começam a ficar pesados com o tempo. Sempre que algo tinha de ser apreendido, você tinha de dar um pulo na estante e estudar o assunto, hoje com a popularização de gadgets como os smartphones a resposta está a poucos cliques de distância. A sociedade, reconhecendo seu novo messias, criou um novo dito “se não tem no Google, não existe.”

Mesmo assim, como apontado por Serra em “Informação e Sentido”, outras barreiras continuaram em pé. A internet passou a se comportar como Funes, o memorioso (personagem do conto de Jorge luis Borges com mesmo nome). Um homem que lembra de tudo, não consegue esquecer nada, mas que acaba confundindo passado, futuro e presente, e mostra que, com o passar do tempo sua memória se torna um “despejadouro de lixo”.

Com o aumento vertiginoso de sites, da liberdade de escrever o que quiser sobre o que quiser, da facilidade de modificação e deturpação das coisas, o algoritmo do Google (o Vasco da Gama camoniano da internet) passou a ser um Funes entupido de respostas inválidas, contraditórias e sem fontes confiáveis. Não que o Titanic fosse afundar, pelo contrario, com seu crescimento, acoplou novas áreas da informação ao seu campo de ação, de links passou às fotos, aos sons, os vídeos, notícias, mapas, geração de rotas, etc. Uma mina de outro gigantesca e aparentemente inesgotável. Assim como artistas que dão sua contribuição para a evolução da arte e depois partem para a mesmice, o Google fez sua parte e foi ganhar dinheiro. Problema de quem? Alguém que não eles.

Para felicidade geral da nação, em 2006, outro projeto que começou em 2001 tomou proporções “mundiais” e deu uma nova guinada no sonho enciclopédico. Desta vez, mostrando ligação com o movimento francês em seu nome: Wikipedia. A enciclopédia feita pelo internauta nasceu não para combater o Google, mas sim para alimentar o sucesso do buscador. Como? Se tornando a informação mais relevante que o buscador pode achar na internet. Não importa o tema, suas páginas devem conter atrativos para os parâmetros de busca do motor googleano.

O conteúdo de um texto Wiki deve conter, além da informação escrita, imagens, datas, tabelas, gráficos relativos ao tema e, principalmente, hiperlinks. A chave para o pagerank do Google. Além da ligação com as páginas-fontes do artigo, qualquer termo do texto que possa parecer um tema em si, ganha um link para outro artigo da Wikipédia (quer ele exista ou não), datas, nomes, movimentos, lugares, períodos, tudo que possa ser “substantivado” vira um link, transformando o texto em uma zebra preta e azul. Em pouco tempo, o objetivo estava cumprido, como disse a amiga Luana em Informação (s)e(m) Sentido: a Wikipedia é o 1º item da grande maioria dos resultados do Google.

Para evitar o problema do “monte de lixo” já que todos podem editar os textos da Wikipédia, o projeto passou a contratar uma equipe de revisores, padronizadores e editores. Pessoas (e não maquinas) responsáveis por checar o que está escrito, se faz sentido e se é imparcial, em caso de desaprovação o texto ganha selos avisando para a falta de fontes, de padrão, de imparcialidade ou de sentido.

Já que a Wikipédia se tornou a maior rede de hipertextos do mundo e tem uma “validação humana” de seu conteúdo, o mundo tomou formulou um novo termo o “WikiAmém”, se está em um artigo gigantesco na Wikipédia, é verdade.

O novo problema é a dependência da comunidade para a existência. E como já apontado anteriormente, o mundo tem preguiça. Como cada língua do mundo tem sua versão a Wikipédia depende da colaboração dos falantes de determinada língua para ser completa, confiável e simples.

Por exemplo, se alguns departamentos de renomadas universidades brasileiras se responsabilizassem por checarem freqüentemente os artigos dos temas nos quais são especialistas, a Wikipédia seria considerada uma fonte confiável. Mas as escolas e universidades brasileiras desestimulam e punem os alunos pelo uso da Wikipédia, pois nossa comunidade tem a fama de “desvirtuadora da internet”.

O problema do lixo pode não ter voltado, mas todos o temeram. Então, aproveitando a onda, a Microsoft e o Yahoo (publicamente aclamados Google-Loosers ou simplesmente Googloosers) pintaram como falsos profetas, prometendo a solução para aquilo que Serra, Neil Postman e Jean Baudrillard apontam: o excesso da informação muito mais atrapalha o aprendizado do que ajuda.

O Bing, novo buscador da inventora do Windows, promete não só trazer a informação relevante sobre o que busca através de uma formula matemática, mas também só te mostrar o que é necessário, chega de “desinformação”.

É verdade que infelizmente, ou não, Page, Brin e companhia limitada levaram a preguiça estudantil, e humana, a um novo patamar, o da acessibilidade: “Por que saber agora se posso googar só quando for preciso?” Também há quem esteja maravilhado com o Bing, mas continuo a pensar que é mais manipulação e pretensão te mostrar só o que alguém achou melhor do que ranquear uma pancada de links.

No fim, todos reclamam dos novos métodos de pesquisa, algo egoísta o meu ver. Acho que, se você não concorda no como uma facilidade funciona, deixe de fazer o fácil, deixe a rapidez de lado e faça o trabalho você mesmo.

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